Proença reconstrói poeticamente os caminhos da liberdade traçados por aqueles que ousaram desafiar o Império Português no século XVIII. A narrativa lírica da obra atravessa os grandes momentos da Inconfidência, da semente da ideia até a violência do cadafalso, compondo um poderoso retrato coletivo — e profundamente humano — dos inconfidentes.
Cada poema é uma estação da memória: vozes como a de Tiradentes, Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga, Bárbara Heliodora e os anônimos que ecoam nas ruas de Vila Rica surgem com vigor lírico, entrecortados por imagens de dor, sacrifício e esperança. Trata-se de uma escrita que funde o documento à metáfora, a denúncia à música verbal, resgatando a palavra como instrumento de luta e de legado.
A obra ganha ainda mais força ao se unir à arte visual de Cândido Portinari. As ilustrações — estudos e desenhos do icônico painel Tiradentes — foram gentilmente cedidas pelo Projeto Portinari, e acompanham o texto com a potência expressiva de um artista que também dedicou sua obra à denúncia das injustiças e à construção simbólica da identidade brasileira. Palavras e imagens se entrelaçam, compondo um livro-arte e livro-documento de rara densidade estética e valor histórico.
“Oratório dos Inconfidentes (Faces do Verbo)” é publicado pela editora Tinta Negra, selo do Grupo Editorial ZIT, com projeto gráfico à altura de sua importância. Mais que um livro, é uma obra que se inscreve na tradição da poesia histórica brasileira, ao lado de obras como o Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles, mas com um gesto próprio: o de trazer a História à cena pela multiplicidade de vozes e pela reconstrução simbólica da palavra “liberdade”.
08/05/2025
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