Na noite em que soube que o poeta e tradutor Paulo Henriques Britto, professor da PUC-Rio há mais de 40 anos, tinha sido eleito para a Academia Brasileira de Letras, a médica Margareth Dalcolmo botou a cabeça no travesseiro e bastaram cinco minutos de pensamento para tomar uma decisão: oferecer ao novo imortal o fardão de seu marido, o Acadêmico Candido Mendes, morto em 2022.
O fardão estava guardado, impecavelmente guardado, ainda com os bordados algumas medalhas que Candido Mendes havia ganhado. “Paulo Henriques era o tradutor de Candido, se gostavam muito. Tenho certeza que o Candido está honrado de ver seu fardão com o amigo”.
A oferta de Margareth pegou o novo imortal de surpresa, mas a resposta foi imediata e cheia de orgulho. “Foi uma inciativa que partiu dela e me senti muito honrado. Conhecia muito os dois, traduzi alguns textos do Candido Mendes para o inglês e minha mulher, Santuza – professora do departamento de Sociologia e Política da PUC-Rio era a melhor amiga da filha dele, Maria Isabel.
Segundo Margareth admite, houve lágrimas ao retirar os bordados das comendas do fardão para entregá-lo limpo ao novo imortal. “Ele veio experimentar e ficou quase certo. Apenas a calça estava um pouco larga, foi preciso apertá-la e trocar as fitinhas douradas que estavam gastas – trabalho feito pelo alfaiate carioca Macedo Leal.
Santuza e Isabel já morreram, mas a amizade das famílias continuou. Foi Margareth quem socorreu Santuza, quando ela não resistiu a um aneurisma cerebral sofrido na livraria da Travessa durante o Lançamento do livro de Paulo Henriques, “Formas do Nada”, dedicado a ela, em 2012, aos 59 anos. “A morte de Santuza nos deixou muito impactadas, mas a família teve um gesto maravilhoso, doou tudo o que foi possível – rins, coração, até os ossos”, diz Margareth.
A recepção aos amigos no dia da eleição foi na casa do viúvo de Isabel, Eduardo Martins. “Foi a primeira pessoa que pensei, porque entende de festas, tem um bom apartamento e tenho intimidade para pedir. Foi maravilhoso. Ele e Margareth me ajudaram muito”.
Paulo Henriques entregou à nora Fernanda a organização da festa da posse, pois está numa semana intensa de trabalho na PUC, com reuniões para a reforma curricular. A certeza é que será uma festa linda, ceia de amigos. O trabalho intenso na PUC não tira o entusiasmo e a ansiedade da posse. “Foi tudo muito rápido. Tive a ideia de me candidatar, procurei o Geraldo Carneiro, que foi extremamente receptivo e me garantiu que a ABL iria me receber também. E fui eleito no primeiro escrutínio. Foram poucos meses entre a ideia da candidatura e a eleição. Não por isso, ele já tem muitos planos para após a posse. O primeiro deles é mergulhar a ABL na poesia. “Tenho dois projetos na PUC - tradução de poesia e poesia brasileira contemporânea. Conheço todo mundo na área de poesia, no Brasil inteiro. Terei muito prazer em organizar ciclos de palestras sobre estes dois temas. É a minha área.”
10/09/2025
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