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Artigos

  • Tupi or not tupi

    Tribuna da Imprensa (Rio de Janeiro), em 01/08/2006

    Quando muito jovem tive enorme curiosidade - que depois se transformou em entusiasmo - pela língua tupi, o que me levou a estudá-la. Era o tempo em que as idéias da Semana de Arte Moderna ainda não tinham 20 anos e a frase de Oswald de Andrade, "Tupi or not tupi", ainda significava alguma coisa.

  • Declaração de voto

    O Globo (Rio de Janeiro), em 30/07/2006

    Devo admitir que ando um pouco nervoso, com essas eleições que vêm aí. Há várias razões para meu estado de espírito, algumas das quais, suspeito eu, meio disfarçadas até para mim mesmo, tanto que nem consigo formulá-las direito. Em momentos inesperados, entro num estado aproximado do que leio descrito como síndrome do pânico — a sensação de uma iminência sinistra cujo teor exato desconheço, mas que me assusta. Tenho que parar e fazer uma autolavagem cerebral, remoer umas filosofias baratas sobre a fugacidade da existência e lembrar que não adianta nada ficar nervoso, porque o que tiver de acontecer acontecerá e em bem pouco ou nada posso influenciar o futuro.

  • Sobre o passarinho Mario Quintana

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 29/07/2006

    Convidado pela ABL para falar sobre o centenário de nascimento de Mario Quintana, o professor gaúcho Sergius Gonzaga veio de Porto Alegre e, em sessão coordenada pelo acadêmico Moacyr Scliar, discorreu na Sala José Alencar, para um auditório repleto e atento, sobre a obra do grande poeta que, infelizmente, não pertenceu aos quadros da Academia.No correr da sua história, a ABL viu-se obrigada a escolher, em determinadas eleições, entre grandes figuras da literatura brasileira. Mario Quintana concorreu em três ocasiões à ABL nos anos 80, mas as razões eleitorais da Instituição não lhe permitiram alcançar os vinte votos necessários para ter direito a uma poltrona.Em que medida este fato alcança a sua imortalidade? Em nada. A glória que fica, eleva, honra e consola não é privilégio dos quarenta. Grandes nomes da literatura brasileira ausentes do Petit Trianon podem ser contados às dezenas, sem que essa circunstância nem de longe alcance o valor da obra reconhecida pela crítica e pelo público.Este é, sem dúvida, o caso de Mario Quintana. E quando lembro seu verso "enquanto os outros passarão, eu passarinho", penso que talvez tenha sido melhor assim. Quintana passarinho necessitava de mais espaço para o seu vôo, hoje e sempre a encantar todos os que, ao passar pelo efêmero da vida, descobrem a essência da obra imortal.

  • Ganhamos a Copa

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 28/07/2006

    A catástrofe na Alemanha marcou pontos inéditos no sentido do amadurecimento da cultura brasileira. Delineava-se, de saída, o pior presságio sobre o desabar da auto-estima nacional, pelo horror da derrota ante a França, e seu impacto sobre o paísão colado na TV. De repente, não mais que de repente, nos soltamos do fantasma. Não era o Brasil que estava em campo, mas um bando de profissionais mastigando o hino, dispersos em toda série de clubes bilionários da afluência européia. Ou a pedir já o passaporte estrangeiro e ir à lobotomia da lembrança nacional.O Dunga que ora vem à nova seleção é claramente de uma virada de página diante dos facilitários da glória com que buscamos de maneira tão pomposa o hexa. É um Brasil que volta sem empáfia à confiança no que seja o seu futebol e os valores de começo, fora do eterno retorno dos bonzos gordos do Real Madrid ou do Barcelona. O futebol não saiu da tela interna dos brasileiros, e aí está a fiabilidade sadia com que nos debruçamos sobre os campeonatos e o despertar de novos craques.Não se abalou de forma alguma a confiança interna de que continuamos intactos no sentimento de melhores do mundo. E mal nos demos conta dos estoques de guirlandas, fogos, impressos, camisetas, pendões antecipados para a festa-monstro da vitória em Berlim. As guirlandas de rua continuam nas ruas do país. Não se as retira no desencanto, mas aí ficam à chuva e sol na certeza última de que a equipe de Dunga vai à sua verdade em 2010.Não nos demos conta, e é fenômeno estourando após a última Copa, do distanciamento objetivo que as nossas estrelas assumiram, diante do país das peladas de origem, frente aos deslumbres do dinheiro europeu à compra dos nossos astros brasileiros. Nenhuma outra equipe pôde entremostrar 22 dos 23 jogadores, todos craques europeus, e alguns já prazerosamente acenando a nova binacionalidade.

  • Óleo de copaíba neles

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 28/07/2006

    A Câmara de Representantes (de deputados) dos Estados Unidos aprovou uma moção estranha e preocupante, que pede a criação de uma força tarefa, da qual participariam os EUA, na Tríplice Fronteira Brasil, Paraguai e Argentina. Há muito se especula que ali está um possível braço da Al Qaeda, por mais que todas as vigilâncias e realidades apontem para nada existir.

  • A universidade brasileira

    A Gazeta (Vitória - ES), em 28/07/2006

    O ensino superior está em crise – e das mais sérias da minha longa carreira de educador.Chegamos com distorções variadas a cerca de 5 milhões de universitários, número que nos deixa atrás de nações próximas, como a Argentina, o Chile e o México. Temos cerca de 17 mil cursos, 67% dos quais destinados a formar para profissões regulamentadas. A vontade oficial de controlar tudo (ou quase tudo) é tamanha que, no recente decreto-ponte do Ministério da Educação, utiliza-se diversas vezes a palavra "catálogo", o que é inusitado em documentos desse gabarito. Catálogo tem características de tempo curto, de retrato efêmero de uma realidade, não pode ser levado a sério.Pensa-se pouco no conteúdo da educação, sendo comum jovens chegarem ao diploma salvador sem os mínimos conhecimentos básicos, especialmente em História, Literatura, Ciências, sem nos aprofundarmos na tragédia que representa, pelos seus resultados, o desconforto com que é tratada a Língua Portuguesa. Quantos advogados falham primariamente na elaboração de um parecer? Tudo ocorre em função da volúpia da formação profissional de qualquer jeito, quando isso não é mais tolerado no mundo desenvolvido. Defendemos a existência de um bom preparo humanístico e tecnológico, necessariamente nessa ordem, para inserir o país na Sociedade do Conhecimento. Por enquanto, a caça ao diploma, a qualquer preço, empolga a comunidade universitária. Ainda não existe uma percepção bem clara de que as coisas estão mudando, os jovens querem cursos mais curtos, exigem melhor ensino enquanto vêem sua poupança definhar. Preenchemos as vagas dos filhos das classes A e B. Agora, é a vez dos desprovidos de recursos financeiros, característica das classes C e D. São os interessados no ensino superior, mas que não podem pagar mais do que 300 reais de mensalidade.Com a natural conformação dos tempos, as escolas superiores privadas, que correspondem a 75% do total, sujeitam-se ao fenômeno do mercado. Reduzem os preços e, conseqüentemente, a qualidade do ensino, pois recrutam professores menos qualificados, em geral sem mestrado e doutorado. Caímos em pleno círculo vicioso. O governo exige melhor qualificação dos mestres, para isso tem o respaldo da LDB, mas a realidade é outra. O recrutamento dos professores se faz sem os devidos cuidados, pois não há recursos para pagar adequadamente. Vive-se hoje uma aguda crise financeira, de um lado sacrificando o empenho das escolas oficiais, cansadas dos recursos minguados e de uma interpretação equivocada do que seja o conceito universal de autonomia. De outro lado, a perplexidade das escolas privadas.O decreto-ponte do MEC não corrige esses pontos, preocupando-se mais com o destino do PDI (Plano de Desenvolvimento Institucional) e uma discutível divisão interna de atribuições burocráticas, sacrificando as funções do Conselho Nacional de Educação, ora transformado em fórum de discussão dos nossos magnos problemas. Ou seja, virou figura de retórica.

  • Heloísa Helena ganha em Ipanema

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 26/07/2006

    A surpresa da subida eleitoral de Heloisa Helena não engana quanto ao recado desse voto, nem de como repercute o balanço final da escolhas de 1° de outubro. É uma escolha que mobiliza brasileiros de ganho acima de cinco salários mínimos e vai, portanto, atingir já a base das classes médias e dispara nos setores abastados da população. É o voto de protesto, somado ao de desencanto que desmonta parcela do eleitorado bem que, em 2002, deu uma chance a Lula. Seu contingente, que já vai a 10% dos eleitores, e pode até superá-lo, teve a função fundamental de frear o voto nulo no país. Neste aspecto, o crescimento do PSOL reduz a passagem do desânimo ao cinismo, e mantém um coeficiente de cidadania ativa, sôfrega de resultados e punições.

  • Guimarães Rosa 1956

    Diário de Pernambuco (Recife), em 16/07/2006

    Ao publicar Sagarana, em 1946, numa estréia um tanto tardia, aos 36 anos de idade, o diplomata e médico mineiro João Guimarães Rosa vinha infundir no regionalismo da nossa literatura - que parecia um tanto esgotado após a grande floração do romance nordestino - uma inédita força lírica, um sopro épico inigualado, trazendo ao primeiro plano da ficção nacional o sertão mineiro, a civilização do couro do nosso interior, tema literário que aparentemente se esgotara nas mãos de um Afonso Arinos ou de um Hugo Carvalho Ramos. 

  • A primeira em tudo

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 15/07/2006

    Esther de Figueiredo Ferraz foi a única mulher até hoje a ocupar a pasta do Ministério da Educação e Cultura, o que ocorreu no Governo João Figueiredo, em 1982, ficando a seu crédito uma questão emblemática: aprovou a Emenda João Calmon, ampliando os recursos destinados à educação, em todos os níveis de ensino. Ficou no MEC quase três anos. Entrou trazendo esperanças. Saiu sob aplausos dos estudantes, dos seus colegas professores e de políticos das mais diversas facções.Foi também a primeira a integrar o Conselho da Ordem dos Advogados do Brasil, a primeira Secretária de Estado de Educação de São Paulo, a primeira reitora de Universidade na América Latina (Mackenzie, em 1965) e a primeira mulher a dar aula no curso de Direito da USP (década de 50).Temos excelente lembrança dos tempos vividos por ela como membro do então famoso Conselho Federal de Educação. Conviveu 12 anos com alguns dos melhores educadores de todos os tempos, autores de pareceres que até hoje são recordados, como reflexo de competência e de sabedoria.A Dra. Esther costuma recordar com muita simplicidade, como é o seu estilo, que foi alfabetizada aos 5 anos de idade, brincando com as letras e os números. Marcou sua vida pelo pioneirismo bem sucedido e respeito muito grande pelos seres humanos. Professora de ensino médio de Português, Francês, Latim e Matemática, foi licenciada em Filosofia pela Faculdade de São Bento.Assim chegou à imortalidade, entrando para a Academia Paulista de Letras, onde hoje é uma das figuras mais proeminentes. Além disso, continua trabalhando no seu escritório de advocacia, em São Paulo.Data de 1961 o título de professora de Direito Judiciário Penal da Faculdade de Direito da Faculdade Mackenzie. Pertence ao Instituto Histórico e Geográfico, onde todos fazem questão da sua companhia, e recebeu, ainda, numa solenidade de que fui testemunha, o Prêmio Professor Emérito - Troféu Guerreiro da Educação, oferecido pelo jornal "O Estado de São Paulo" e o Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE).

  • Rio de Janeiro de volta à liderança

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 12/07/2006

    Houve tempo em que o Rio de Janeiro, antes da fusão, orgulhava-se de deter o melhor índice médio de instrução do país. O fato era elogiado pelos maiores educadores brasileiros, muitos dos quais viviam aqui mesmo, na Cidade Maravilhosa. Entre eles, Anísio Teixeira, Almeida Jr., Lourenço Filho e Fernando de Azevedo.

  • Moeda estável

    Diário do Comércio (São Paulo), em 12/07/2006

    Um dos fatores da estabilidade da moeda é o seu poder de compra estar garantido para os salários das primeiras vítimas dos desencontros inflacionários, ou seja, os trabalhadores, com a sua oprobriosa desventura de viver num ambiente como o que nos acompanhou durante anos, de inflação alta. Felizmente, esse período já passou e faz parte da sociedade enferma que conseguiu se tratar com esforços dos agentes econômicos e financeiros, aos quais foram confiados os destinos da Nação. Não demos importância às técnicas adventícias. O trabalhador brasileiro suportou uma situação inflacionária prolongada, que beneficiou não poucos operadores de investimento nas Bolsas de Valores, sem que pudéssemos atirar-lhes a prancha salvadora.

  • Pitanguy: Oitentão

    Tribuna do Norte (Natal), em 12/07/2006

    Seu nome inteiro é Ivo Hélcio Jardim de Campos Pitanguy, nascido em 1926 e que, justamente no último dia 5 de julho, completou 80 anos de idade, já podendo, como jovem octogenário, responder à pergunta: “É oito ou oitenta”? Ainda criança, Ivo leu em Monteiro Lobato que “o Saci morria aos 80 anos”. Achou, então, que era muita idade para ser vivida. Mas hoje, como oitentão, já acha que é muito pouco.Certa vez, trouxe um escorpião para casa, mostrando-o à mãe, que lhe disse para soltá-lo. Quando o soltou, ela desmaiou. Adotou em seguida uma jibóia, com quase 3 metros de comprimento, com a qual passou momentos agradáveis: levava-a enrolada no corpo e, nas lojas, era atendido prontamente. Nos bondes, com ela nos braços, tinha um banco inteiro para sentar-se. Foi um campeão de natação, no Minas Tênis Clube, competindo com Fernando Sabino, que dele diria depois: - Fomos escoteiros e companheiros desde a infância, brincamos no Carnaval, caímos dos mesmos cavalos no CPOR e tivemos as mesmas namoradas.Quando chegou ao Rio e pisou, pela primeira vez, na praia de Copacabana, quase perdeu a respiração: como mineiro, aquele marzão à sua frente e aquelas morenas bronzeadas lhe pareceram entidades de outra galáxia. Conheceu Aníbal Machado em Ipanema, então sem um só arranha-céu. E reencontrou-se com Fernando Sabino, Otto Lara Resende, Paulo Mendes Campos, Rubem Braga, Millôr, Ziraldo e Leon Eliachar.  No plantão do Pronto Socorro, recebeu, certa noite, Madame Satã, um valente homossexual, toda ensangüentada, que se explicava: - Dr. Pitanguy: daqui para baixo eu posso até ser veado. E sou. Mas daqui para cima eu sou muito macho. E era. Destruiu a rádio-patrulha inteirinha.Transformou a Ilha Grande num santuário e num “bunker” ecológicos, quando a ecologia ainda não ingressara nas preocupações brasileiras. Traçou para ela um projeto paisagístico, inspirado no Mar Cáspio, com abrigos para centenas de espécies raras. Parodiando Américo Vespucci, que ali teria estado em 1496, costumava dizer:- Se por acaso houver um paraíso na Terra, não será muito longe daqui.Salvou dezenas de vítimas no incêndio do Circo Norte-Americano, em Niterói, mudando-se para o local e lá morando vários dias e noites. Fundou então a 38ª. Enfermaria da Santa Casa, que, sob sua chefia, de 1962 até hoje, já recebeu mais de 54 mil pacientes pobres.  Em 1963, instalou a sua Clínica em Botafogo, onde, desde então, já atendeu outros 51 mil pacientes, alguns famosos: o Rei Hassan, a Imperatriz Farah Diba, Niki Lauda, Josephine Baker, Sophia Loren, Gina Lollobrígida e Ursula Andrews, para modelar-lhes a face e o corpo. Seu Centro de Estudos já formou 450 médicos, de 42 países.É um globe-trotter, com uma quilometragem de vôo suficiente para dar várias vezes a volta do mundo. E é uma das poucas referências brasileiras, ao lado de Pelé e Airton Sena.Lutador de karatê, mantém arraigado amor pela vida, crendo, com um panglossiano, que ela está impregnada da vontade de ser feliz. Sua Medicina sempre foi um cânon para corrigir as deformidades e fazer as pessoas mais felizes. É um “expert” nos clássicos alemães desde Goethe no “Fausto” e Nitzsche no “Zaratustra” até Thomas Mann nos “Buddenbrooks”, cuja leitura, há muitos anos, me indicou.É também um perfeito patriarca, de família bem construída, com um permanente amor pelo ser humano e pela Natureza, jamais perdendo a simplicidade, o carinho e a doçura, próprios dos grandes homens como ele justamente é.

  • Com estudo, a chance aumenta

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 08/07/2006

    O Censo Escolar da Educação Básica 2005 mostra um fenômeno que chama a atenção dos educadores: amplia-se o número de matrículas nos cursos de Educação de Jovens e Adultos (EJA), ou seja, das pessoas com mais de 18 anos que voltam à escola para completar os 11 anos do ciclo básico, quando não para concluir os oito ou nove anos do ensino fundamental. Na Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro temos ampliado essas oportunidades, sobretudo no interior fluminense, para que não fique tanta gente assim fora da escola. Hoje, no Brasil, a EJA atende a quase 3 milhões de estudantes.Temos debatido o assunto com profissionais do porte de Luís Gonzaga Bertelli, presidente executivo do CIEE de São Paulo. Sua preocupação abrange a soma dos analfabetos puros e funcionais, que estão na base desse processo e que constituem, verdadeiramente, um poderoso entrave ao nosso desenvolvimento econômico e social. Aí surge o conceito de responsabilidade social das empresas, que se consubstancia nas ações voltadas para a educação.O CIEE, nos últimos cinco anos, ampliou o número de organizações parceiras na concessão de estágios para estudantes de ensino médio. No país inteiro, o crescimento alcançou mais de 55%. Busca-se beneficiar jovens acima de 16 anos de idade, matriculados no ensino médio e, na maioria, pertencentes a famílias menos favorecidas social e economicamente.É um incentivo dos mais fortes, conforme testemunho de pais e professores, satisfeitos com os resultados alcançados. Não só os alunos adquirem maturidade, com essas ações, mas um melhor desempenho escolar, o que ampliará as oportunidades de emprego.Assinala-se um crescimento palpável nas cidades do interior, principalmente no eixo Rio-São Paulo, com a instalação de plantas industriais de grande capacidade de absorção de mão-de-obra qualificada. O embaraço para o crescimento não pode estar na falta de recursos humanos e os jovens perceberam que, estudando, as chances são naturalmente maiores.Assim, o estágio tornou-se um poderoso instrumento estratégico para esses alunos, que, além do mais, recebem uma remuneração, caracterizada por bolsas-auxílio mensais. A importância desse procedimento é muito grande, pois isso evita que os jovens sejam levados a se retirar da escola, onde está o seu futuro, por pais que necessitam da sua ajuda, por exemplo, nos tempos de colheita, para uma ação episódica. Daí para engrossar a economia informal é um passo que pode associar a ampliação dos números da violência que atinge sobretudo nossas grandes periferias urbanas.Ninguém pode ter a pretensão de resolver os grandes problemas da educação brasileira com uma ou duas medidas de impacto. Na verdade, nem no intervalo estrito de um mandato presidencial. Mas há que se tomar conhecimento de toda a realidade do setor mais badalado das campanhas e fazer o que for possível para repetir experiências exitosas de países industrializados.

  • Democracia à brasileira

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 07/07/2006

    O vaivém do TSE, no mudar ou não as regras do jogo das eleições, insiste no refogado que o Brasil bem brasileiro que vai às urnas a 2 de outubro. E o que representa esta louvada humildade do magistrado Marco Aurélio frente à palavra dos barões do sistema, do que seja, na sabedoria final, a nossa realpolitik? Quem o poderia fazer mais que o ex-presidente Sarney que assumiu a tarefa do abstrato Conselho da República, ao cuidar das ameaças à democracia e às instituições do país. Mesmo porque é do que se trata, neste contraste do sistema de fato com o nosso Estado de Direito agravado pela crise do mensalão.As instituições, no seu corpo mesmo, são reptadas pela tensão em que o status quo cada vez mais experimenta o divórcio entre a ordem social estabelecida e imediata e o decantado, e sempre reposto à liça, desenvolvimento nacional. Mas, de concessão em concessão, ainda agora, a litania das Comissões de Inquérito asseguraram a mais tranqüila conservação do sistema oligárquico clientelístico, para comandar o processo político do país. De absolvição em absolvição, consagrou-se a continuação do "caixa 2" como mola das eleições e do nosso sistema representativo. Nada, afinal, de abalo ao valerioduto que corre democraticamente - e o continuará - no subsolo dos sucessos políticos e na negociação, pela verba dos governos entrantes, garantida pela operação eleitoral.Alargou-se o fosso confessado entre a pregação das reformas trazidas a crassa nudez das ideologias, e de como continuará no futuro - e através de emenda constitucional - o regime que aí está. Ao freio temporário da verticalização não foi dada, sequer, a alegria de um verão eleitoral, diante do facilitário já consagrado para 2010. Nem logrou o arreganho do presidente do TSE, afinal, assegurar-nos uma prévia de esperança no lance natimorto de como seria um regime de consonância nacional, de alianças sem transigência. O recado incômodo ao futuro cancelou-se pelo bem bom de todas as farras e farranchos desde já, a que se associou o governo frente ao vale-tudo, de como continuarão as eleições após o segundo mandato de Lula. Nem, após esses dias do perdão final, virá a prosperar qualquer final propósito punitivo nas Comissões de Inquérito, para além do escarmento de Dirceu e Jefferson, e o castigo, contra a vontade real dos plenários, dos que, pelas confissões pregressas, puseram a corda ao pescoço para a cassação sem saída e de todo ranger de dentes.De toda forma, e a seguir ao mensalão e ao processo aos sanguessugas, a nova catadupa de suspeições de prevaricação parlamentar pelo Ministério Público já ganham mais um ar de litania na consciência da impunidade que continuará, no à vontade da disputa, das próximas eleições.Que poder, afinal, é este, no centro da praça de Brasília, que merece ser profanado pela invasão do velho peleguismo, renascido dentro dos movimentos sociais, como a última praga em que a militância se profissionaliza para quebrar os vidros do Salão Verde? Serviu o pontapé para mostrar a carranca de radicais jubilados na aposentadoria de todas as facécias, renegadas pelo MST que sabe a que vem e o que tem que fazer. O pior, no banimento da utopia, é a errância a que condena a radicalidade, ou a leva até à malandragem vândala.O presidente Aldo Rebelo, neste jogo dos símbolos e dos portes que se pede aos titulares do poder teve o dom, já, de desenfatizar a tropelia de Bruno Maranhão. O que não pode resgatar é o Congresso como eixo da respeitabilidade do "a que veio" o Brasil trazido na ponta dos movimentos sociais. O susto de um Brasil diferente poderia ter saído do ensaio da verticalização tentado pela primeira decisão do ministro Marco Aurélio. Abortando-a, o TSE, afinal, antecipou, de vez, o Brasil do tudo bem, do "vale tudo" das eleições de 2010.