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Artigos

  • Público e Privado

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 21/08/2006

    A distância que vai da antiga pólis dos gregos, com alguns poucos milhares de habitantes, ao Estado contemporâneo, em especial nas sociedades de massa de nossos dias, é a mesma que separa a maioria dos cidadãos da democracia. Esta é, seguramente, a razão pela qual, quase em toda parte, as instituições políticas e os poderes do Estado não são os mais bem avaliados pela opinião pública. A percepção do cidadão é a de que conceitos como política, poder e autoridade não são mais que entraves aos seus direitos.

  • Mário de la Mancha

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 19/08/2006

    Mário Mendonça, o maior pintor sacro contemporâneo do Brasil, tem feições e o porte que lembram quem foi, na ficção de Miguel de Cervantes, o fidalgo D. Quixote de la Mancha, cavaleiro da triste figura e proprietário único de diversos sonhos impossíveis.Daí não constituir surpresa a atração do nosso artista, justamente homenageado pela Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro, com a medalha Pedro Ernesto, pelo que representou a sua fidelidade a D. Quixote, que pintou 38 vezes, de formas diferentes, para compor uma de suas mais bem sucedidas exposições. Tivemos o privilégio de ser uma espécie de curadores da homenagem prestada, na Biblioteca Pública do Estado do Rio de Janeiro, aos 400 anos da obra-prima de Cervantes, retratando a bela e generosa alma do pintor que, depois do êxito, doou parte dos desenhos para instituições culturais, com o natural compromisso de sua conservação, para garantir o acesso à merecida posteridade.Na ocasião, comoveu-nos a apreciação de Ana Lígia Medeiros: "O traço elegante e comovente de Mário Mendonça leva o observador a caminhar lado a lado com os cenários e sentimentos que retratam a viagem entre o sonho e a realidade, empreendida pelo sempre memorável cavaleiro andante." Os desenhos são de tamanhos variados efeitos a nanquim, extrato de nogueira, guache e lápis de cor sobre papel I. Fabian.O trabalho deste carioca ilustre - do qual nos orgulhamos - foram levados a Madri, ao lado de bem sucedidas pinturas à óleo por outra de suas paixões, a cidade mineira de Tiradentes, onde, aliás, dispõe de um estúdio bastante confortável. O comentário é de um dos mais famosos jornais da Espanha: "D. Quixote, além da óbvia homenagem à Espanha, assume o lugar do personagem favorito de Mendonça, o Cristo. É o homem do mundo, o herói alucinado, portador de inquestionável grandeza, capaz de reformar um conceito de vida." Houve um incrível sucesso de vendas e, como sempre faz, o pintor carioca destinou os resultados financeiros à APAE de Tiradentes, para reforço às suas atividades assistenciais.Mário tem notoriamente um espírito ecumênico, demonstra os seus sentimentos nas reuniões mensais do Conselho Cultural da Arquidiocese do Rio de Janeiro, onde o convívio prazeroso representa também um claro aprendizado. Foi dele que partiu a insistência para que fosse criado o Museu de Arte Sacra do Rio de Janeiro, a fim de evitar que peças históricas fossem roubadas das igrejas cariocas. Hoje, ainda modesto, o Museu é uma realidade, na paisagem do centro do Rio de Janeiro.Nossa amizade tem ainda outra vertente. Sabedor que estava finalizando os originais do livro "O martírio de Branca Dias", ofereceu, de coração, a colaboração na feitura da capa e de alguns desenhos do miolo da obra, que a valorizaram imensamente. Livro ilustrado por Mário Mendonça é uma sublime preciosidade. Daí o comentário feito na abertura da obra, que será lançada pelo Centro Universitário FMU, em São Paulo: "Artista de muitos prêmios nacionais e internacionais, Mário Mendonça representa na capa a heroína olhando para o alto, com seus lindos olhos verdes, como se apelasse ao Senhor para coibir a violência dos atos da Inquisição."A realidade luminosa de Mário Mendonça encontrou inspiração em Jesus Cristo, talvez o seu momento mais alto de plenitude, na elaboração das obras que marcaram a carreira brilhante de Mário Mendonça. Ele merece, por suas atividades, as homenagens carinhosas da sociedade brasileira, que dele se orgulha.

  • Enfim, a virada de página

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 18/08/2006

    Começam um a um dos incriminados no processo dos sanguessugas a desistir de voltar às eleições. É como se o excesso de abuso começasse a bater na consciência política, após o escárnio do mensalão. O Congresso já moeu a carne da vergonha até a medula ao absolver os primeiros implicados em manifesto caso de corrupção da República, cosanostra. O País sequer continuou a prestar atenção a um perdão após outro, apesar das manifestações das CPIs, ouvidos moucos e frouxos dos colegas de plenário, tapinha nas costas e chopada com os julgadores de uma hora antes.Do escândalo nas manchetes seguiu-se a vergonha silenciosa diante do País, pela qual a larga maioria do Congresso consagrou, como usos e costumes da política brasileira, o recurso ao caixa 2 e ao uso do dinheiro público para a paga de despesas eleitorais. Não faria verão já, entretanto, a etapa subseqüente da modernização da máfia orçamentária, através da apropriação das verbas federais, a equipamentos públicos e dinheirama, dividida entre o empresário de todas as audácias, e os deputados de todas as emendas e subemendas.No que ainda era o respingo democrático e múltiplo do valerioduto, a esbórnia dos sanguessugas evidenciou já uma burocracia disciplinada da corrupção. No seu trivial, pôde se fartar no baixo clero e, dentro dele, serviu para expor a especial desenvoltura para o crime das neobancadas chegadas ao parlamento. Ou seja, a dos evangélicos, sem a tradição política profissional da traquitana do dinheiro fácil, disfarçado das ambulâncias, franqueadas entre o dízimo dos pobres e a comissão dos novos ricos do Congresso.

  • Meus encontros com Bandeira

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 16/08/2006

    Estava nos meus 15 anos. Parecia, porém, ainda mais novo, porque era franzino e frágil. Sabia de cor a metade dos versos de Bandeira, que tinha então 60 anos, mas parecia também mais jovem - um quarentão que os cuidados impostos pela tuberculose conservaram desde a adolescência.

  • Romance aliciante

    Tribuna da Imprensa (Rio de Janeiro), em 15/08/2006

    Romancista que assume sua missão - que missão é - de pegar um punhado de seres humanos, colocá-los no palco de sua imaginação e no emaranhado aparentemente indecifrável de acontecimentos, reações, oposições, decisões, orgulhos, desprezos, paixões e ódios existentes no âmbito da narrativa que está sendo feita - romancista, assim, ajuda a promover nosso entendimento de como somos, por que fazemos o que fazemos e por que às vezes chegamos a ações inesperadas e indesejadas.

  • Cultura cívia deficiente

    Diário do nordeste (Ceará), em 13/08/2006

    A distância que vai da antiga ´polis´ dos gregos, com alguns poucos milhares de habitantes, ao Estado contemporâneo, em especial nas sociedades de massa de nossos dias, é a mesma que separa a maioria dos cidadãos da democracia. Esta é, seguramente, a razão pela qual, quase em toda parte, as instituições políticas e os poderes do Estado não são os mais bem avaliados pela opinião pública. A percepção do cidadão é a de que conceitos como política, poder e autoridade não são mais que entraves aos seus direitos.

  • Ainda resta uma esperança

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 12/08/2006

    A sociedade costuma tomar conhecimento de crimes e seus respectivos julgamentos, o que se faz em geral de forma ruidosa. Depois, o silêncio. Qual o destino dos internos que se encontram, aos milhares, nos presídios brasileiros? O que fazem para passar o tempo? A educação seria uma forma de, quando de volta à vida comum, cada um deles ter uma chance de resgatar o convívio? O contrário seria na certa regresso à marginalidade, com as suas tristes conseqüências.No Rio de Janeiro, por iniciativa da Secretaria de Administração Penitenciária e da Secretaria de Estado de Educação, realiza-se um trabalho social de primeiríssima ordem. Há escolas em funcionamento dentro dos presídios e mais oito estão sendo construídas, para propiciar aos internos nada menos de três mil vagas de acesso à educação regular.Na visita ao presídio Elizabeth Sá Rego, em Bangu, foi possível tomar conhecimento desse esforço, liderado pelo dr. Astério Pereira dos Santos. No prazo recorde de três meses, com materiais produzidos pelos detentos e com os custos (baratos) cobertos pela SEE/RJ, estão sendo erguidas as escolas mencionadas, com o propósito de oferecer à população carcerária a oportunidade de uma educação que lhes faltou, desde cedo. Com uma particularidade assegurada pelos educadores empenhados nesse processo: um ensino de qualidade, com a garantia de um viés profissionalizante. Todos estudarão para ter, ao fim do curso, pelo menos uma profissão que lhes garanta, no futuro, a participação no mercado de trabalho.Ao lado disso, estão sendo inauguradas diversas salas de leitura. Tivemos a oportunidade de verificar, com os nomes de escritores consagrados, como Antonio Torres, Heloísa Seixas e Guilherme Fiúza, todos presentes à pequena solenidade promovida pelo Instituto Oldembrug. Vivemos momentos de grande emoção quando o interno José de Araújo Lima, de 52 anos de idade, leu o discurso que preparou para a ocasião, ele que dirigirá a primeira Sala de Leitura. Foi uma peça muito bem construída, com a plena consciência da situação em que ele e seus colegas se encontram, mas com a esperança presente da liberdade sonhada, depois de cumpridas as penas determinadas pela Justiça.

  • Soneto e votos

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 11/08/2006

    Um dos meus amores são os sonetos e as redondilhas de Camões. Transformou-se de encantamento em xodó e deste em hábito. De quando em vez ou de vez em vez, para acabar com as formas de cansaço de cair no sono, no Luís Vaz, o Tira-Trintas (apelido do poeta que por causa desse colérico gênio deve ter perdido um olho) recolho a calmaria necessária que a poesia pede ao seu leitor. Não quero dizer com isso que esqueci ou estou traindo o Vieira, nas madrugadas de insônia, lido ou escutado nos Sermões gravados, como o Dos Peixes, na voz de Ary dos Santos.

  • O outro Brasil pede passagem

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 11/08/2006

    A chegada das opções de voto em Lula a 44%, à entrada de agosto, torna nítida uma maioria de votos que dificilmente se abalará pela televisão, ou por novos escândalos, ou pelo disparo ainda de algum azarão. Heloísa Helena encarregou-se dessa surpresa ao dar voz à radicalidade política, venha do utopismo desabrido, do rigor da detergência partidária, ou do protesto que saiu do voto nulo. É o Lula que ganhará contra o desgosto da classe média e o nariz arrebitado do país rico que não vão agora repetir o seu deslate em votar no operário de todas ditas decepções.

  • O público e o privado

    Correio Braziliense (Brasília), em 09/08/2006

    A distância que vai da antiga polis dos gregos, com alguns poucos milhares de habitantes, ao Estado contemporâneo, em especial nas sociedades de massa de nossos dias, é a mesma que separa a maioria dos cidadãos da democracia. Essa é, seguramente, a razão pela qual, quase em toda parte, as instituições políticas e os poderes do Estado não são os mais bem avaliados pela opinião pública. A percepção do cidadão é a de que conceitos como política, poder e autoridade não são mais que entraves aos seus direitos.

  • A constituinte e a polícia já

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 09/08/2006

    Faltava-nos ainda, no bojo das decepções com a nossa cultura política, o remédio radical a que aspira a ingenuidade da nossa boa consciência cívica. Veio, afinal, em festa, como um bolo de noiva, o remate definitivo. Convoquemos a Assembléia Constituinte, exclusiva, para a reforma partidária. A sugestão portentosa vem à mesa do presidente. Mude-se a Carta toda, ao invés de estacarmos a cada tentativa de modificação.

  • Érico, ou a arte de contar histórias

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 09/08/2006

    Érico Veríssimo é, na literatura do Rio Grande do Sul e, em grande medida na literatura brasileira, um verdadeiro divisor de águas. Antes dele, literatura, a grande literatura, era coisa para poucos iniciados. Para boa parte dos brasileiros o livro era um objeto estranho, distante, hermético. Mas Érico produziu uma obra de imenso valor literário que é, também, uma obra extremamente popular. E a pergunta que se impõe é: como o conseguiu?

  • Cheiro de Mugueta

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 04/08/2006

    O julgamento da política é cada vez mais cruel. A vitória da democracia liberal e da economia de mercado, considerados os objetivos máximos do desenvolvimento político ocidental, levou filósofos e economistas de Chicago a considerar termos chegado ao fim da História.

  • Lula lá, sem o PT

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 04/08/2006

    As variações mínimas entre os dois primeiros candidatos à Presidência parecem se estabilizar, após o susto de Heloísa Helena que, afinal, representa apenas a alternativa aos votos nulos. A alagoana logrou a torna, ainda, às urnas do país do desencanto ou do cinismo sofisticado, em mal que acossa sobretudo as elites extremas, tanto do statu quo quanto da utopia revolucionária. A candidata, aliás, não tem feito concessões à visão de um modelo socialista, de par com a volta clássica às rupturas internacionais e à declaração de guerra à economia global, e ao que continua, do acordo de Washington.Da mesma maneira, a senadora satisfaz o conservadorismo mais atilado na bofetada que inflige ao presidente e a violência da crítica petista. "Só não me mate" é o grito em que o PSOL se quer ver como o castigo do PT confrontando a reeleição de Lula e a prática efetiva da mudança. Por outro lado, o dr. Alckmin não deixa dúvidas quanto ao bem comportado dos seus reformismos, na definição mais complacente do que possa ser um centro, sem causar mossa, nem susto ao cisco de votos do pefelê e do tucanato.Dentro da inércia que parece tomar conta do avanço das preferências eleitorais, reduz-se a dúvida, de ainda uma quinzena, de se chegaríamos a um segundo turno para a vitória do presidente. É claro que o voto de Heloísa Helena se embarrica nas classes A e B, de expressão numericamente reduzida no quadro de massa do eleitorado brasileiro. E o voto que tem não se transfere naturalmente para o PSOL que ameaça sobrar na cláusula de barreira e submergir na condição ainda de partido nanico, com menos de 5% do eleitorado. É o mesmo contraste que define hoje a posição de Lula, cuja avalanche de votos vai à vitória sem ao mesmo tempo consagrar, como em 2002, o PT como partido dominante de um novo situacionismo. A legenda não assumiu a indigitada culpa do mensalão purgando-se ou modificando os seus quadros, ou aceitando uma proposta de refundação. O resultado será cada vez mais a vitória de Lula sem o PT e enfrentando todo um novo mosaico de partidos para o comando do Congresso, no qual avultará, sem dúvida, a importância do PMDB.De toda forma, o segundo mandato põe em questão este fundo de apoio irrestrito ao presidente, e ao seu eleitorado de fé, inabalável. Continua na plataforma dos 33% do País que reiterará o seu voto em Lula. Não se abalou com o mensalão, nem com as cargas do moralismo onde o statu quo tentava quebrar a era inaugurada pela vitória incisiva do petista. Este eleitorado é o de todo aquele Brasil ainda da marginalidade básica que se mantém no umbral do mercado e do acesso ao emprego e à melhoria de renda. O enorme peso dos desmunidos, por sua vez, não se confunde com o proletariado, de onde saiu a primeira matriz sindical do PT. A vitória de 2002 se fez com estes dois eleitorados, a que cumulou um enorme setor da classe média tentada pelo "Lulinha paz e amor", e pela chance de um governo diferente, ainda que não necessariamente mudancista.Todo este setor soçobra, agora, na nova opção eleitoral para a Presidência, sem, de fato, atingir os segmentos de base, responsáveis pela nova vitória de Lula. O que é mais importante, entretanto, é o quanto este Brasil da marginalidade manteve a sua esperança, mesmo se não obtivesse o prêmio esperado da entrada no mercado de trabalho, e na garantia do emprego que lhe permitiria somar-se às classes sociais e aos sindicatos no país. Receberam o toque, entretanto, da mudança decisiva e da ruptura da inércia, pelo acesso aos serviços sociais imediatos e ao ingresso nos benefícios da educação, e, cada vez mais, da saúde. O Bolsa-Família refletiu esta nova realidade e, por ela, o ganho de uma sensação de mudança e de acesso social, independentemente da perspectiva clássica em que se deveriam realizar a primeira esperança do destituído.O apoio a Lula vai, por isso mesmo, independer das taxas pífias de aumento de emprego, vindas ainda do começo do mandato. Mas tal se o entendermos como a garantia de carteira, já que o salário informal se expandiu em condições surpreendentes, e remunera a mão de obra saída de vez do descarte social. Ou mesmo, em larga parte, do biscate como sua melhor fortuna.Não sabemos ainda até onde o extraordinário sucesso do Bolsa-Família, nos seus 11 milhões de contemplados, teve um efeito de irradiação que leva a confiar numa nova etapa de mudança. Ou de se o sucesso já alcançado define o novo e surpreendente estado de satisfação social, capaz de renovar o mandato do presidente. É, talvez, nesta vertente que se assenta a solidez do novo governo. E os caminhos inventivos para atender a esse seu eleitorado particular que lhe dá outros prazos de sucesso e paciência nos resultados. Sobretudo abre para consolidação do "Lula lá" expectativas diversas das predições de colapso, do agouro das oposições ou dos moralismos de capa e espada.

  • Poder aquisitivo

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 02/08/2006

    Os governantes, em geral despreparados, continuam convencidos de que tudo podem. É quando o poder se torna obra de "ficção"TODOS MAIS ou menos sabem o que o poder pode. Poucos, o que o poder não pode.Não pode, por exemplo, subtrair, privilegiar uns em detrimento de outros, falsificar resultados, divulgar estatísticas fantasiosas, privatizar o espaço público, deixar de fora esses pré-requisitos. Ao cultuar a auto-estima excessiva ou o despreparo exagerado, ele habita feliz a sua ilha de fantasias.