
De Roma e do Carnaval
É como a cidade de Roma, não permite meio termo: ou se ama ou se detesta. Ambas as hipóteses são explicáveis.
É como a cidade de Roma, não permite meio termo: ou se ama ou se detesta. Ambas as hipóteses são explicáveis.
Descartes, o mais notório dos filósofos que defenderam a "dualidade substancial", isto é, que os homens possuem o corpo e a alma totalmente independentes, um e outra separados, certamente nunca viu nem podia ver um Carnaval brasileiro. É uma festa popular -e demonstrativa de que não há separação alguma.
Quem se der ao trabalho de levantar todos os termos da língua portuguesa, em sua versão culta, poderá chegar a cerca de 600 mil vocábulos. Só o Vocabulário ortográfico da língua portuguesa, editado pela Academia Brasileira de Letras, tem perto de 400 mil verbetes. É uma das 10 línguas mais faladas do mundo, abrangendo povos que, somados, chegam a 240 milhões de falantes. É por essas e outras que existem movimentos de valorização do nosso idioma, como recentemente ocorreu com a defesa da latinidade, em que os próprios franceses se encontram firmemente empenhados. É uma forma, na verdade, de tentar uma reação ao predomínio inglês, graças à parafernália eletrônica de que é pródiga a inclusão digital, como se verá a seguir.
-E aí, cara, pensei que você não vinha mais! E agora chega com essa cara de quem comeu e não gostou, é ressaca de carnaval?
Quando Joseph Campbell, o mais conhecido estudioso de mitologia de nosso tempo (e autor, entre outros livros, do excelente O poder do mito) criou a expressão ´siga sua benção` ele estava refletindo uma ideia cujo momento parece ter chegado. Em O alquimista, esta mesma ideia está sob o nome de lenda pessoal. Alan Cohen, um terapeuta que vive no Havaí, também trabalha sobre o tema. Ele conta que, nas suas conferências, pergunta quem está insatisfeito com o seu trabalho; 75% da audiência levanta a mão. Cohen criou um sistema de doze passos, para ajudar o reencontro com sua ´benção` (ele segue a escola de Campbell): 1) Diga a verdade para você mesmo: divida uma folha de papel em duas colunas, e escreva do lado esquerdo tudo que adoraria fazer. Depois, escreva do lado direito tudo que está fazendo sem entusiasmo. Escreva como se ninguém fosse ler o que está ali, não censure nem julgue suas respostas. 2) Comece devagar, mas comece: chame o agente de viagens, procure algo que se encaixe no seu orçamento; vá assistir ao filme que está adiando; compre o livro que desejava. Seja generoso com você mesmo, e verá que mesmo estes pequenos passos lhe farão sentir mais vivo. 3) Vá parando devagar, mas pare: há coisas que tiram por completo sua energia. Você precisa mesmo ir a tal reunião do comitê? Precisa ajudar quem não quer ser ajudado? Seu chefe tem o direito de exigir que, além do trabalho, você tenha que estar nas mesmas festas que ele? Ao parar de fazer o que não lhe interessa, vai notar que você estava se exigindo mais que os outros realmente pediam.
Deus é testemunha de que nada tenho contra os leitores. Pelo contrário, se não existissem esses seres abnegados, não haveria livros nem jornais, e eu teria morrido de fome há anos.
Muita gente reclama da mesmice dos Carnavais, das festas programadas como o Natal, acha tudo monótono, repetitivo, sacal. De minha parte, tolero com boa vontade este tipo de chatice prevista nos calendários, guardando o meu tédio para outros tipos de evento, em especial, para as crises da nossa política.
Outro dia, o grande jornalista e meu amigo, Ancelmo Góis, em sua notável coluna, assegurou que a minha História da Literatura Brasileira foi levada pelo dinâmico editor da Leya, de São Paulo, para o senador e escritor José Sarney e esse levou em mãos um exemplar para Dilma Rousseff, o que me deixou contente. Não por ter intimidade com o poder - já que até agora não me foi conferida essa faculdade, e os que a tem,devem guardá-la eficazmente para si.Nem por ser velho amigo da presidenta (vou usar essa expressão em sua homenagem), já que é a primeira mulher, entre nós, a execer tal cargo e o conhecimento da língua não o veda), desde o Rio Grande do Sul, de onde vim e ela viveu longo tempo e ocupou cargo importante.Se minha intimidade é a convivência da mesma terra e se esse "conviver" nos proporciona o mesmo clima, a mesma paisagem, a mesma temperatura do coração, então sim. Pois a terra é sempre um dom, equilíbrio e nascença da alma. Mas a paixão por Guimarães Rosa que nos une, e a justeza do empenho em trazer de volta ao Brasil Abaporu de Tarsila do Amaral.
Foi de Lovelock a expressão de que a Terra é um ser vivo. Em sua bilionária história, milhões de vezes ela deu sinal de que ainda não morreu solitária, com um sol apagado.
Em dias da semana passada tive dois ricos encontros com Edgar Morin, na Escola Sesc de Ensino Médio. Conversa muito proveitosa para mim, a recolher o idealismo do pensador francês, que, às vezes, parece até idealista demais.
Acompanhamos a instalação Crepúsculo dos Ídolos, de Jarbas Jácome, com TVs ligadas num canal de TV aberta, uma câmera e um microfone. No Sesc Belenzinho(SP), os visitantes foram convidados a produzir algum som próximo ao microfone, provocando distorção das imagens das TVs, de acordo com a intensidade e o tempo de duração do som produzido: ao final, a própria imagem foi transmitida pela TV. Em dois meses, houve mais de 500 mil atendimentos.
A crise continuada do Oriente Médio começa também a radicalizar perspectivas inquietantes para o futuro americano dentro de casa. Estão se repetindo, nestes idos de março, as cargas de um conservadorismo que vai muito além dos clássicos arreganhos do bushismo.
Costuma-se pensar que artistas de modo geral, inclusive os escritores, são ricos. Volta e meia sai uma reportagem que diz quanto um astro de TV famoso ganha e daí se difunde a crença de que artista é rico, quando, na verdade, matar cachorro a grito é atividade das mais exercidas pela maioria deles, mundialmente. Os escritores aparecem em notícias sobre como um romancista antes desconhecido vendeu para Hollywood, por zilhões de dólares, seu premiado best-seller. Ai de nós – escritor, quando é pago, recebe entre cinco a doze por cento do preço final do livro. E, não só aqui como no mundo todo, se vira em jornalismo, no ensino, na publicidade e em outros campos, já que de livro mesmo poucos conseguem sobreviver e ainda menos ficar ricos.
Uma competente colega de magistério nos pergunta por que Machado de Assis assim começa o capítulo CXXX do romance ‘Dom Casmurro’: “Porquanto um dia Capitu quis saber o que é que me fazia andar calado e aborrecido (...)”.
Já aconteceu diversas vezes. Convidam-me para uma palestra, oferecem-me um tema, providenciam hotel e passagens, os auditórios, uns pelos outros, ficam cheios de gente querendo saber coisas. Mal informada, acha que sei alguma coisa.