
O gato e a missão
Como se não bastassem os problemas antigos e os recentes, eis que consigo mais um: minha filha viajou e deixou-me um gato por missão. Isso mesmo: missão.
Como se não bastassem os problemas antigos e os recentes, eis que consigo mais um: minha filha viajou e deixou-me um gato por missão. Isso mesmo: missão.
Os presidentes do PFL e do PSDB passam à nova etapa da contestação do processo eleitoral. O recurso pedido ao Congresso e à OAB para intervir na averiguação policial do dossiê dos dólares já vai ao abalo da normalidade institucional. E se escora na insensibilidade cívica da eleição do novo Legislativo.
Viveu a Academia Brasileira de Letras, na semana passada, uma de suas grandes noites que, nos seus 109 anos de existência, pode ser considerada como tendo sido realmente emblemática. O sentido exato desse adjetivo pode ser assim definido: "Emblemático é tudo o que representa simbolicamente a essência de alguma coisa".
Há tempos só tenho lido biografias. Não é nada, não é nada, cada uma vale por um romance no sentido comum da palavra, ou seja, pega a vida do berço ao túmulo, descreve suas glórias e misérias e, ao mesmo tempo. detalha o painel humano em que viveu.
Eu o conheci velho, ainda rijo e saudável, com suas terríveis pupilas negras. Já era tio antes mesmo de ter sobrinhos. Era um título mais ou menos impessoal, dizia-se "tio" como se diz "chove": uma ação que não tem sujeito nem precisa ter complemento.O grande lance de sua vida fora o prêmio da Loteria de Natal que ganhara, segundo alguns, em 1929, segundo outros, em 1926.
A reforma institucional que o País exige pressupõe definir que fins cumpre a Administração que não podem ser exercidos pela Política e que objetivos políticos não podem ser supridos pelo aparelho administrativo do Estado para que se possa atender aos requisitos essenciais de racionalidade e eficiência.
Os franceses desprezavam os gregos. Os gregos desprezavam os italianos. Os italianos desprezavam os egípcios, os egípcios desprezavam todo mundo e todo mundo desprezava os judeus. A frase é de Roger Peyrefitte, descrevendo o ambiente da Universidade do Cairo por ocasião de uma das crises que envolviam o nacionalismo árabe.Pinço a frase e medito sobre ela. Infelizmente, sempre foi assim, não apenas em relação à nacionalidade de cada um, mas também em relação ao sexo, religião, faixa etária, preferências literárias, musicais e fisiológicas. O desprezo pela opinião do outro, e mais do que pela opinião, pela condição do outro, acompanha a trajetória do homem pela história.Fala-se na juventude, espera-se dela um comportamento melhor, ela própria se acredita o estágio mais bacana da evolução do homem na face da Terra. Mas os jovens se formam e informam através do desprezo e desse modo repetem e agravam o incrível carrossel de burrice e violência que acompanha a humanidade desde que o primeiro macaco descobriu que, com o osso do seu inimigo, podia matar os inimigos. Foi assim que o macaco deu o salto na escala zoológica e se tornou antropóide, mais tarde homem.No caso daqueles que se acreditam na vanguarda da história, eles apenas mudam o objeto do desprezo, a gíria, o visual, mas continuam a repetir a mesma tolice das gerações anteriores, dividindo primariamente o bem do mal, o vermelho do preto, o sim do não. Outro dia, reli as cartas que Mário de Andrade insistia em mandar a seus admiradores. Ele rompia com um passado na medida em que criava um novo passado. A condição de jovem acaba se limitando a uma veste, a códigos que já nascem velhos.É bobagem negar o passado, que nada mais é do que a sucessão fluida de presentes.
Não era exatamente um folião. Mas, de cara cheia, topava um baile ou outro, principalmente os da pesada.
O debate da Band acabou em anticlímax. Não se trata de saber quem ganhou, mas quem perdeu menos. E, de parte a parte, esgotaram-se os argumentos para que um novo encontro venha, de fato, a se transformar no fantasma de uma derrota de Lula, ao último momento. O que se assistiu foi, ao mesmo tempo, a pobreza radical da temática, pondo em causa mesmo o nível de cultura política compatível com a expectativa eleitoral e a agonia deste segundo turno.Será em vão que Lula pedirá um confronto de fundo sobre programas de governo. Ou que Alckmin escape da estrita perspectiva paulista, no dizer a que veio. Nem o mero arrolar de cifras ganhará qualquer afrodisíaco para uma mudança de voto. Foi-se à rinha inesperada da agressão, em todos os seus esporões verbais.A contundência não foi ao golpe de temas, nem à convicção do dito, mas a atitude ou ao "caras e bocas", próprias a um programa de auditório. Respostas lidas ou decoradas; afoiteza ou tatibitate, a faltar só ataques mútuos sobre a indumentária, ou à cor das gravatas dos adversários.No jogo só de pontos perdidos, fica a competição por quem mais avançou, no acusar o outro de mentiroso. Mas o gesto largo coube, de qualquer forma, ao presidente, quando cobrou a discussão engasgada; pediu abertura de horizontes, sempre retrancada por Alckmin, ou jogou sem concessões, na amplitude do confronto entre o seu governo e o do antecessor.Uma impressão final, no bater do martelo, é a de que, se a corrupção é generalizada e se incrustou no sistema de poder brasileiro, no governo Lula começa a averiguação e a polícia diz a que vem, e algema.O candidato da oposição mostrou também que não têm mais bala na manga, tanto de fato o moralismo sova o seu argumento logo. Não há mais dinheiro nas gavetas para trazer ao vídeo.Qual a munição final dos tucanos? Não gastou Lula mais em viagens que FHC. A acusação já foi às temeridades inadmissíveis, num percurso fatal, como o do tiro no vídeo - ou no pé.Perderam-se os contendores na floresta de siglas e no febeapá das políticas de educação, sem que Lula pudesse salientar o essencial. O percento hoje do país pobre que chega de fato ao ensino superior dobrou sobre o anterior.A acusação da mentira é a mais promíscua, neste tipo de debate-limite. Repete-se. Mas um debate rui quando um contendor já aposta sobre o nível de consenso da opinião pública; entre argumentos surrados, e trampas da bobagem. O "aero-Lula" foi, de vez, enterrado como sandice sem direitos a coroas. Num quadro de subcultura também, afinal, se viram páginas.Esta eleição tem o número mínimo já de indecisos. E menor, ainda, de néscios ou ingênuos, em quem Alckmin veja, ainda, um reduto de votos.
No atual mundo da globalização, observam-se, mudanças em todos os setores da sociedade, determinadas pelos avanços da ciência e da tecnologia nas áreas da microeletrônica, da inteligência artificial, da engenharia genética, das viagens espaciais, das transformações nos meios de transportes, etc. Vivencia-se uma espécie de Terceira Revolução Industrial, cujos efeitos geram mudanças nos hábitos, costumes, valores e no cotidiano de todos os cidadãos.
Pensaram que Cristo fosse um terrorista argelino ou um travesti do Bois de BoulogneRecebi, por via postal, duas mensagens do próprio Cristo. Na verdade, trata-se do sr. Inri Cristo. O nome é estranho, mas é esse mesmo. Anos atrás, o sr. Inri Cristo chamava-se Antuérpio Gonçalves Mendes e nada de admirar que tivesse a necessidade de mudar de nome. Morava em Curitiba e exercia o nobre ofício de bancário.Deu-se que o sr. Antuérpio ouviu vozes, convocando-o a assumir a sua verdadeira identidade, que outra não era senão a de Filho Primogênito do Deus Único e Verdadeiro. Abandonou a família, que o tomava como vulgar maconheiro, abandonou as vestes profanas e o ofício, passando a se dedicar, em regime "full time", à sua inarredável missão.
A humanidade deve a Kennedy e a Kruchev a sua sobrevivência, pois se fosse Stalin e Bush que tivessem, naqueles dias da crise dos mísseis, os botões por apertar, talvez não estivéssemos aqui. O risco de uma catástrofe definitiva, enquanto houver uma ogiva nuclear, é inaceitável.
Foi generalizada a impressão de que Alckmin se saiu melhor no primeiro debate com Lula, na Bandeirantes. Nem por isso aumentou sua aceitação no eleitorado, pelo contrário, perdeu três pontos, com Lula abrindo uma diferença de 11 pontos. Duas considerações sobre esse fato. Primeira: num debate, o que vale não é o apelo à razão, mas o tom de indignação com que se ataca ou se defende. Alckmin mostrou-se indignado, acuando Lula diversas vezes. E isso contou pontos para a sua performance no debate. Segunda: por maior que seja a audiência dos debates na TV, o grosso do eleitorado não toma conhecimento deles. Mais da metade da população não lê jornais e revistas, votando por empatia pessoal com os candidatos. Isso explica desde o meio milhão de votos que o estilista Clodovil conquistou em São Paulo até a liderança de Lula nas pesquisas, sempre em primeiro lugar, apesar de todos os escândalos que marcaram os últimos meses de seu governo. O eleitor médio vota em Lula porque ele é pobre, faz o gênero gente como a gente. Depois de anos em que os dirigentes do país foram da classe rica e instruída, a opção preferencial é por um pobre que se orgulha de ter a mãe analfabeta. A menos que ocorra um fato realmente novo, apesar dos debates que ainda virão, o eleitorado poderá mudar de opinião sobre Lula, mas não de dar seu voto àquele que o representa política e socialmente.Fernando Gasparian foi uma das principais referências culturais do Brasil contemporâneo. Comovente a sua luta contra o regime militar. Tenho orgulho de ter sido um de seus admiradores incondicionais. A última vez que o vi, era o mesmo Gasparian dos tempos de luta por um Brasil mais justo e civilizado.
Os jornais da cidade de São Tomé das Três Lagoas receberam denúncia, de pessoa que pediu para não ser identificada, de que o prefeito comprara um elefante por um milhão de reais e pretendia aumentar a renda do município com a exposição do elefante, uma vez que, num raio de 300 km, ninguém sabia como era ou podia ser um elefante.
Quando escrevi, já faz tanto tempo, o meu livro Em torno da sociologia do caminhão, tinha exata noção de que haveria de ainda ler muito pelo tema sobre o qual me apaixonei. Há um provérbio hindu que recomenda somente falar quando isso vier a ser melhor do que o silêncio. Depois da provocação da leitura do livro Olhar itinerante, resolvi quebrar o silêncio recomendável e tentar dar um depoimento mais do que entusiasmado.