
Opinião: A execução inútil e o mito perverso
O mundo global sofreu, com o enforcamento de Saddam Hussein, o choque inédito de uma execução ao vivo, acarretando verdadeiras revulsões da consciência do nosso tempo. Vivemos a barbárie do cadafalso, bem como a intolerabilidade de um despotismo, incapaz de se mascarar sob razões de Estado ou da realpolitik de uma soberania, machucada por invasões estrangeiras e golpes e contragolpes de cliques políticas. A condenação internacional contrastou com o espetáculo local de um "dente por dente", pedida por um Estado quase tribal, do talião sem mercê. Não se contiveram os carrascos e a entourage xiita, nesse espetáculo de insultos frente ao condenado, com a corda já no pescoço. Diante da velha guilhotina, o terror sempre respeitou a última palavra do executado, no recado a se transformar num post scriptum de mármore.