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Artigos

  • O país do crioulo doido

    Antes de mais nada, devo deixar bem claro que, com as palavras acima, apenas repito parte do título de um samba famoso e não tenciono ofender qualquer pessoa ou coletividade com um epíteto racial que alguns consideram pejorativo, no que, me apresso também a reconhecer, exercem pleno direito seu. Se solicitado, apresentaria evidências públicas de minhas posições sobre a questão, mas imagino que baste lembrar que, na Bahia, sou branco-da-terra - ou seja, não chego a ser branco-branco mesmo, que lá não tem, com a notória exceção do cônsul da Noruega. Também não acredito que, examinado por uma comissão racial do Terceiro Reich, eu seria considerado ariano.

  • Matar ou morrer

    RIO DE JANEIRO - O pior de uma guerra, entre outros piores, é o sacrifício de inocentes de ambos os lados. Seria utópico que numa luta entre o bem e o mal, o crime e a lei, somente um lado (o mal e o crime) fosse exterminado. No confronto atual entre polícia e bandidos, aqui no Rio, o número de inocentes aumenta a cada dia.

  • Sobre a mentira

    Não é usual tratar da política na perspectiva da afirmação da verdade. Platão afirmou, na República, que a verdade merece ser estimada sobre todas as coisas, mas ressalvou que há circunstâncias em que a mentira pode ser útil, e não odiosa. Na política, a derrogação da verdade pela aceitação da mentira muito deve à clássica tradição do realismo que identifica no predomínio do conflito o cerne dos fatos políticos. Esta tradição trabalha a ação política como uma ação estratégica que requer, sem idealismos, uma praxeologia, vendo na realidade resistência e no poder, hostilidade. Neste contexto, política é guerra e, como diz o provérbio, "em tempos de guerra, mentiras por mar, mentiras por terra".

  • A ABL, 111 anos depois

    Presidida por Machado de Assis e secretariada por Joaquim Nabuco, a Academia Brasileira de Letras foi fundada há 111 anos, no dia 20 de julho de 1897. E quando isto aconteceu, era uma Academia que não tinha sequer onde se reunir.

  • Um instante entre dois nadas

    A poesia de Marly de Oliveira (que nos deixou há um ano) preenche a definição de Roupnel e Bachelard de que "o tempo só tem uma realidade: a do instante". E esse instante se acha colocado "entre dois nadas". Aí estaria o falso vazio que estimula a linguagem mística. Pois mística foi muito a poesia de Marly de Oliveira, de um misticismo raro na poesia brasileira, gênero em que entre nós só a figura de Junqueira Freire se destaque.

  • Dercy

    RIO DE JANEIRO - Entre as coisas estranhas que me aconteceram, a mais complicada e inútil foi a de superintender a teledramaturgia da antiga Rede Manchete, que então atravessava boa fase, com produções de sucesso, como "Marquesa dos Santos" e "Dona Beja". Em conversa com Adolpho Bloch, ele sugeriu que se fizesse uma novela tendo como cenário principal uma gafieira dos tempos em que ele chegara da Rússia, e cujo nome era "Kananga do Japão".

  • Currais eleitorais

    Quem teve oportunidade de viver ao menos uma parte do período dominado pelo Partido Republicano Paulista (PRP) sabe o que é curral eleitoral . Em poucas palavras, o curral eleitoral é uma forma de reunir eleitores despersonalizados, dando-lhes a personalidade do partido e, assim, a filiação partidária. Foram famosos no período do PRP esses currais , onde os políticos reuniam seus abnegados eleitores e candidatos a eleitores, de forma a fazer permanentemente um sexto sentido político, que pesa nas eleições a favor do candidato submetido ao curral eleitoral.

  • Estado de direito e democracia selvagem

    Vivemos nestes dias uma crise paradoxalmente sadia do que seja, nos seus perigos e promessas, o avanço do Estado de direito entre nós. Mas a chegar já na semana que se abre à nova ameaça-limite: a do vácuo jurídico dos poderes com a paralisação do Congresso e a entrega de decisões críticas ao presidente do Senado. E, ao mesmo tempo, do afastamento de funções dos personagens do Judiciário neste embate, pela entrada de férias simultânea do presidente do Supremo e do juiz De Sanctis da Vara Criminal do julgamento de Daniel Dantas. O cenário se esvazia de todo com o afastamento compulsório do delegado Protógenes, na investida tonitruante de sua operação Satiagraha.

  • Era de paz

    RIO DE JANEIRO - Uma nova realidade somada a outras realidades: a instituição policial não apenas caiu no descrédito da população, mas passou a ser detestada. Há motivos para isso, alguns históricos, outros mais recentes, como a morte de inocentes durante as operações contra supostos criminosos.

  • Aniversário da ABL

    É, de fato, muito festivo sempre cada 20 de julho. Em 2007, em liturgia adequada, comemoramos os 110 anos da Academia. Ainda em outubro estávamos a dar partida aos registros do centenário de Machado de Assis, na embaixada do Brasil, em Londres. Um chefe de posto digno das tradições de Rio Branco, José Bustani, presidiu os atos daquela semana rica. Na ocasião, luzia a Academia pelo brilho da inteligência e do conhecimento de Sergio Paulo Rouanet, em conferência mestra.

  • Astronomia para todos

    Em noite enluarada, no bairro da Gávea, no Rio de Janeiro, a direção do Planetário, representada por Carmen Ibarra, realizou o lançamento do livro Memória do Planetário do Rio , com o subtítulo Astronomia para todos . Trata-se de uma bem cuidada edição colorida, capa dura, com um atraente elenco de textos, além de um elaborado Mapa da Via Láctea, com nomes que soam agradavelmente aos nossos ouvidos como Órion, Plêiades, Andrômeda, Vega , etc. Na ocasião, de forma emocionada, recordou-se a epopéia da escolha do local e da construção do planetário.

  • Os palanques sem Lula

    O fechamento das candidaturas à eleição municipal define já a plataforma dos estragos pós-mensalão na organização da vida partidária do país. Todas as inscrições recuaram sobre a proposta eleitoral de 2004. Freou-se a vontade da competição política, entre os riscos novos trazidos ao antigo desempenho, hoje, sobre a lente policial, e a oportunidade nova que o desenvolvimento econômico está abrindo às carreiras de sucesso despontados no município brasileiro.

  • A Quarta e o boi

    DOIS ASSUNTOS me despertaram especial atenção nesta semana. O primeiro é uma velha história cujo resultado já dissequei várias vezes. O fato de a Venezuela querer ser potência militar desencadeou duas conseqüências esperadas: 1º) Uma corrida armamentista, com o crescimento de 55% no orçamento militar da América do Sul, atingindo US$ 38,4 bilhões em 2007, dinheiro que tanta falta faz aos programas sociais; 2º) Os Estados Unidos não ficaram de braços cruzados e logo reativaram a sua Quarta Frota. Denunciei que isso iria acontecer. Anos atrás, Menem quis que a Argentina fosse associada da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Eu, à época, protestei e uma reação geral foi desencadeada, sepultando aquela aventura.