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Artigos

  • Breve notícia sobre Zecamunista

    Já tentei formular várias teorias sobre o incitante assunto de que tratarão hoje estas linhas, mas nenhuma delas é satisfatória. Tanto assim que desisti. Além disso, teorizar, pensando bem, é apenas a expressão da ansiedade humana de que a vida faça algum sentido apreensível por nós. Daí o pouco sucesso, creio eu, dos romances sem "enredo". A trama, sabem os romancistas e os bons leitores, precisa ser bem mais verossímil que a chamada vida real, que sempre foi muitíssimo mais inacreditável que os piores delírios dos ficcionistas. A trama, o enredo, ajuda tanto o autor quanto o leitor a fingir, para não ficar meio ou completamente lelé, que existe alguma lógica nos acontecimentos, ao alcance de nossa percepção. Claro que não existe, mas a gente precisa tão desesperadamente dela que procura enredos em romances, filmes, peças e histórias em geral. Teorizar, enfim, acaba não adiantando nada, não explicando coisa nenhuma e gerando discussões desagradáveis depois do almoço.

  • Um caso acadêmico

    NUNCA APRECIEI comentar a Academia Brasileira de Letras, nem antes de lá ter entrado, nem depois, quando ali ocupo a cadeira nº 3. Apesar disso, volta e meia sou convidado a me manifestar sobre tal ou qual problema acadêmico. Como é o caso que passo a expor.

  • Marta e a Petrosal

    Em tempos de Olimpíadas, nenhum assunto pode deixar de estar interligado, entre jogos e aconte-cimentos. Assim é o imbróglio entre Rússia e Geórgia – por sinal a terra onde nasceu Stálin –, violando uma lei dos gregos, que mandava suspender todas as guerras durante os Jogos Olímpícos, assim como uma regra da xaria islâmica diz que um homem pode separar-se da mu-lher desde que não seja no período menstrual.

  • Pedagogia da amizade

    Fracassos e sucessos costumam caminhar lado a lado. Quem tem um bom projeto de vida, no entanto, pode construir uma sólida identidade, que o levará a um destino feliz. Isso, é claro, depende da orientação recebida de pais e professores, o que ocorre ao longo da vida no lar e na escola.

  • Os clarins da banda militar

    Na virada do ano 2000, a Rede Globo fez uma enquete para saber qual teria sido a música popular mais importante do século 20. Deu “Aquarela do Brasil” na cabeça, votação que só não foi unânime porque um dos questionados votou em outra. Na ocasião, acompanhei a maioria, mas, em segundo lugar, por gosto estritamente pessoal, coloquei “Dora”, de Dorival Caymmi.

  • Sinal vermelho apagado

    NÃO HÁ SANTOS nesse episódio do confronto entre a Geórgia e a Rússia. O Cáucaso, onde se encontra a República da Geórgia, é uma colcha de retalhos de etnias, e suas altas montanhas sempre serviram de fronteira natural entre impérios rivais que convergiam naquele canto do mundo, como a Pérsia, os otomanos e a Rússia. Ali, o argumento da força sempre foi mais ouvido do que os apelos de paz, e a história eslava é uma sucessão de relatos sangrentos, como mostra Hélène Carrère d’Encausse no seu famoso livro sobre o sangue na história da Rússia.

  • Programa eleitoral

    Começou o horário político gratuito no rádio e na televisão -o tradicional desfile de caras e bocas, com algumas idéias no meio, na necessária função de esclarecer o eleitorado.O clichê obriga todo mundo a detestar o programa e, de cambulhada, os candidatos que nele se apresentam.

  • A arte do conto

    A presença de Jorge Medauar no conto brasileiro mostra um aspecto importante de nossa literatura. Suas narrativas participam do clima da poesia e ao mesmo tempo erguem seu mundo ficcional, jogando o peso do sentido sobre cada substantivo, advérbio, verbo das frases, com adjetivos que se detêm no absolutamente necessário.

  • Lugo, Lula, a fronteira da surpresa

    O discurso de posse de Fernando Lugo, em Assunção, vai a uma dimensão fundadora do discurso de mudança no Continente. Não logra, apenas, a quebra, de vez, de 61 anos da inércia do partido colorado. Traduz uma consciência emergente do "outro país", que teve chance, não só de votar, mas de fazê-lo fora do dilema esterilizante, entre a facção jubilada no poder e os liberais e sua eterna contradança.

  • Dura Lex

    Está em discussão a atual abrangência do Supremo Tribunal Federal nos casos miúdos da administração pública, estabelecendo regras que, em primeira instância, deviam pertencer ao Executivo e ao Legislativo.

  • A nova UBE

    Conseguiu a União Brasileira de Escritores recuperar o prestigio de 50 anos atrás quando Peregrino Júnior, Jorge Amado, Eneida, Stella Leonardos e, entre muitos outros, Zora Seljan e o autor destas linhas, agíamos no setor. Foi quando imaginamos organizar um Festival Brasileiro de Escritores num edifício em construção em Copacabana.

  • À procura de emprego

    Quem passa pela construção do novo prédio da Petrobras, em Vitória (ES), pode aquilatar o quanto deverão crescer as suas atividades, naquela região. É decorrência da extração de petróleo e gás natural, com reservas inimagináveis, como acontece com a imensa faixa de virtualidades da camada do pré-sal.

  • A miniaturização da vida

    No final deste notável romance que é Caminhos Cruzados, de Erico Verissimo, Clarimundo, professor de matemática, resolve tocar um projeto antigo: escrever um livro em que um ET relatará como vê o nosso mundo e a humanidade. Começa, naturalmente, pelo prefácio, onde se queixa de que a vida é chata, monótona. Da janela de seu quarto, prossegue o professor, ele vê numerosas pessoas, empenhadas no “ramerrão cotidiano”. Entre parênteses, são estas as pessoas cujos dramas, tragédias e comédias Érico acabou de narrar nas 286 páginas precedentes. Mas, diz Clarimundo, “debalde os romancistas tentam nos convencer de que a vida é um romance”; ele simplesmente não acredita nisso. Ao terminar o prefácio, Clarimundo tem um sobressalto: na chaleira que deixou no fogão, a água ferve, “a tampa dá pulinhos, ameaçando saltar”. Num pulo, Clarimundo tira a ameaçadora chaleira do fogo. “Quase me acontece um desastre!” – pensa.

  • Deixem o papagaio em paz

    Uma das boas lições que aprendi com o ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, é o princípio da razoabilidade das penas. Isso nos torna mais humildes diante da lei. Se ela deve ser aplicada indistintamente, desprezando o sentido humano, melhor seria que entregássemos ao computador a decisão de julgar. Seria pelo menos mais rápido.