Portuguese English French German Italian Russian Spanish
Início > Artigos

Artigos

  • Mães e antimães

    Não recordo ter visto pessoa com expressão mais sinistra do que a promotora acusada de agredir a menina que estava em vias de adotar. A indignação que sua postura despertou manifestou-se nas agressões que recebeu quando saía da delegacia de polícia.

  • Nasce uma estrela

    Pena que o escritor Artur da Távola (Paulo Alberto Monteiro de Barros) não esteja mais entre nós. Há 30 anos, mostrei-lhe os originais (eram 15 capítulos) que uma jovem de 11 anos havia elaborado, de forma silenciosa, quase escondida. Sempre gentil, como era da sua natureza, o cronista leu tudo carinhosamente. Ao cabo de duas semanas, estivemos juntos. Lembro suas palavras: "Não há dúvida. Trata-se de uma escritora. O futuro dirá."

  • Navegar sem mouse

    Volto do exterior. Encontro a Folha de S.Paulo de roupa e alma novas. Obriga a habituar os olhos e a ver o futuro no e do jornal. É uma desafiadora ousadia. Nunca vacilei no meu dogma de que tudo acabará, menos o jornal e o livro, um e outro como instrumento de fugir da solidão, de conviver com pessoas e fatos.

  • No tempo do livro

    Ah, nem conto a vocês como era, fico com medo de acharem que estou mentindo. Mas sei que não estou, quando lembro o dia começando a se esgueirar por entre as frestas dos grandes janelões do casarão térreo em que morávamos, e eu, menino de oito ou nove anos, pulando afobado da cama, para mais uma vez me embarafustar pelo meio dos livros. Quase febril, ansioso como se o mundo fosse acabar daí a pouco, eu nem sabia com quem ia me encontrar e aonde viajaria, em nova manhã encantada. Não havia problemas para eu me embolar com os livros, porque eles não só estavam junto à minha cama, mas espalhados da cozinha ao banheiro, em estantes para mim altas como torres, algumas das quais tão pejadas que volta e meia estouravam, viravam cachoeiras de papel e vinham abaixo, dando a impressão de que as paredes e o chão se dissolviam em livros.

  • O ajudante de mentiroso, de Lêdo Ivo

    Um dos maiores poetas brasileiros, Lêdo Ivo acaba de publicar delicioso livro de ensaios – O Ajudante de Mentiroso (editora Educam/ABL, 2009), que não pode deixar de ser lido pela importância e agudeza. Lêdo não só possui um dos mais belos estilos, é, ao mesmo tempo, aliciante e  irônico, com a picardia de quem sabe da confissão e do ocultamento. Sobre a ficção, alega que todos falamos a verdade e mentimos e que ele, crítico, não passa de um ajudante de mentiroso. Observa que as ciências envelhecem mais que a literatura e que a suprema função humana é a de um animal criativo.

  • O estranho caso do Dr. Kevorkian

    Em Nova York, o anúncio estava em todos os lugares, nos ônibus, nos jornais, em cartazes: no último dia 24, sábado, ninguém deveria perder a estreia, na rede HBO, do filme You Don’t Know Jack (Você não conhece Jack), dirigido pelo consagrado Barry Levinson (Rain Man, Assédio Sexual, Bom dia, Vietnã) com Al Pacino (excelente) no papel do médico Jack Kevorkian, mais conhecido como “Dr. Morte”. O patologista Kevorkian ficou famoso na década de 90 por sua luta para que o suicídio assistido fosse direito de todo paciente. Ele próprio ajudou mais de 130 pessoas a morrerem, utilizando em muitos casos um equipamento por ele próprio criado e instalado, por incrível que pareça, numa velha Kombi. Foi preso e julgado várias vezes, sendo absolvido em todos os processos. Em 1999 foi a julgamento acusado da morte de Thomas Youk, portador de esclerose lateral amiotrófica, uma grave doença neurológica. Kevorkian documentou os últimos momentos de Youk em vídeo exibido pelo programa 60 Minutos, com imensa repercussão. Imediatamente denunciado por homicídio qualificado, defendeu-se pessoalmente, sem advogados. Não teve êxito: foi condenado a 25 anos de prisão, mas por sua idade avançada (está com 82 anos) teve direito a liberdade condicional a partir de 2007.

  • O pão e o circo

    Continuo desmotivado em matéria de eleições, inclusive a sucessão presidencial. Acho sacais as entrevistas, análises e pesquisas que entopem os chamados veículos de comunicação: TV, jornais e revistas. E agora a internet. Uns pelos outros, dão mais palpites do que informações.

  • O plantão do Inspetor Brasílio

    Começo de noite quieto, no Comando Especial de Proteção ao Cidadão. Talvez quieto demais, pensou o Inspetor-Chefe Brasílio, olhando o relógio. Já passava das nove, nenhuma ocorrência marcara o plantão até então modorrento e Brasílio, com um bocejo, se preparava para tomar um cafezinho, quando o telefone tocou e, por alguma razão, ele soube imediatamente que seria uma daquelas noites.

  • O problema da cesárea

    Segundo uma noção muito difundida, o nome cesárea ou cesariana estaria associado ao imperador Júlio César, nascido de um parto operatório. Pouco provável, pois, entre os antigos romanos, esse tipo de intervenção só se justificava pela morte da parturiente, e a mãe de Júlio César, Aurélia, viveu muitos anos após o nascimento do ilustre filho; mais provavelmente o termo vem do verbo latino caedere, cortar. Mas a lenda mostra como a cesárea apela à imaginação. Trata-se de uma operação antiga; no Ocidente ela é praticada regularmente pelo menos desde o século 16. Mas por causa da letalidade, era um procedimento de exceção.

  • O que ainda falta é educação profissional

    No encontro nacional dos Centros de Integração Empresa-Escola (CIEEs), em Florianópolis, discutiu-se a atualidade da educação brasileira, sobretudo o aspecto que se refere ao ensino profissional. Há elementos positivos a comemorar. Um deles é o crescimento do número de escolas técnicas, mas há muita coisa ainda por fazer, como a implantação do sistema federal, que não apresenta a necessária capilaridade. As discrepâncias são grandes, considerando os estados mais e menos desenvolvidos. Faltam professores bem formados e equipamentos especializados, nesta época em que o desenvolvimento científico e tecnológico cresce minuto a minuto (vejam o exemplo da informática).

  • O sumiço do pen drive

    Houve época em que a força bruta era poder. Houve uma época em que a riqueza era poder. Hoje, informação é poder. Quanto mais informados (mas notem, isto não tem a ver necessariamente com conhecimento ou com sabedoria), mais poderosos somos, ao menos teoricamente. Daí esta avalanche, este tsunami de informações. A cotação do dólar, a taxa de inflação, o número de casos de determinada doença, candidatos dos vários partidos, a escalação de times de futebol – nomes e números em profusão, que nos chegam por jornais, revistas, livros, filmes, noticiários de rádio, internet, e que tratamos de armazenar em nossa mente.

  • Onde entra a qualidade?

    O presidente dos Estados Unidos conquistou uma grande vitória em março deste ano, com a aprovação da lei reformulando o sistema de saúde do país, assegurando o acesso ao seguro a 32 milhões de cidadãos. Mas o seu principal desafio ainda está por vir: como reformular o sistema educacional norte-americano, que sofreu um grande baque desde a deflagração da crise econômica mundial.

  • Os bárbaros, de novo

    Quanto mais explicam, menos entendo o que se passa no Rio de Janeiro com a escalada da violência urbana, atribuída genericamente ao crime organizado e ao tráfico de drogas.