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Artigos

  • A Academia e os novos tempos

    O século 21 trouxe uma necessidade ainda maior de se ampliarem os trajetos no sentido de que a Academia Brasileira de Letra seja mais vista e ouvida. Há - e está bem aos nossos olhos - uma geração que parece ter nascido com controle remoto e mouse à mão. Basta um clique e a tela muda. Portanto, é vital que nos afinemos com os moços.

  • O exemplo de Mandela

    As primeiras cenas do filme Invictus, de Clint Eastwood, mostram o carro de Nelson Mandela, recém saído da prisão (por coincidência, há exatos 20 anos; e, outra simbólica coincidência, ele fora preso em 1964), passando entre dois campos de esporte.

  • Matéria de memória

    Recebo da editora as provas para a sexta edição de um romance antigo, escrito e publicado pela primeira vez em 1963. Posso ainda fazer alterações, mas me limito a suprimir alguns advérbios de modo e a alterar uma ou outra pontuação. Machado de Assis fazia melhor, mudava parágrafos inteiros, como confessa na terceira edição de "Brás Cubas".

  • Bandeira branca

    O Carnaval está chegando e, com ele, aquela trégua provisória em nosso cotidiano, mesmo para aqueles que esnobam ou detestam o que por aí chamam de "folia". A vantagem destes últimos é que não precisam fazer nada a não ser deixar o Carnaval passar. E ele passa, inexoravelmente passa, como passam todas as coisas boas e más do mundo, até mesmo as mais ou menos.

  • Outros carnavais

    “Eu, que estou em pleno vigor da juventude -e todos os dias os jornais, ao citarem o meu nome, revelam aos leitores esta minha fraqueza-, fico todo irritado quando ouço essa história de “bom era no meu tempo”, “ah! que saudades do meu tempo” e outros lamentos saudosistas. Bom mesmo é o tempo de hoje.

  • Evoé Momo!

    De uns tempos para cá, as festas coletivas estão ficando cada vez mais misturadas. Natal, Carnaval, Sexta-Feira Santa. Pouco a pouco, se reduzem a feriados que servem para encompridar o final de semana, todos se sentem obrigados a aproveitar de seu modo ou de modo nenhum. Aí pelo interior, no mais fundo do país e do homem, devem boiar algumas ilhas isoladas de tradição, mas nos grandes centros (Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, Salvador, Porto Alegre, Belo Horizonte) a festa se resume mesmo na festa e no feriado, às vezes nem lembramos o que estamos comemorando.

  • Vacinar faz bem

    Para a saúde do presidente Lula, o Fórum de Davos poderia representar um risco, e ele fez bem ficando em casa, mas, para a saúde do mundo em geral, marcou um avanço. Isto por causa do anúncio feito por Bill Gates (Microsoft): a fundação que ele dirige vai doar US$ 10 bilhões para estimular a pesquisa de novos imunizantes, e para levá-los aos países mais pobres. “Esta será a década da vacina”, disse Gates.

  • Coelho neto e a modernidade

    O poeta Lêdo Ivo, um dos grandes sonetistas brasileiros, considera que há modernidade, na obra de Coelho Neto (1864-1934). E pede que escreva sobre aquele que foi eleito pela revista Malho, Príncipe dos Prosadores Brasileiros, em concurso público, realizado no ano de 1928. Fez par com Olavo Bilac, o Príncipe dos Poetas Brasileiros.

  • O sabiá político

    Do ano passado para cá, o setor canoro das árvores, aqui na ilha, sofreu importantes alterações. Aguinaldo, o sabiá titular e decano da mangueira, terminou por falecer, como se vinha temendo. Embora nunca tenha se aposentado, já mostrava sinais de cansaço e era cada vez mais substituído, tanto nos saraus matutinos quanto nos vespertinos, pelo sabiá-tenor Armando Carlos, então grande promessa jovem do bel canto no Recôncavo. Morreu de velho, cercado pela admiração da coletividade, pois pouco se ouviram, em toda a nossa longa história, timbre e afinação tão maviosos, além de um repertório de árias incriticável, bem como diversas canções românticas. A esta altura, certamente já faz companhia a Francisco Alves, Orlando Silva e Nélson Gonçalves, musicando as tardes dos anjos lá no céu.

  • E se o ano inteiro fosse um Carnaval?

    Carnaval é coisa antiga, antiquíssima: vem desde o tempo dos romanos, pelo menos. Corresponde, portanto, a necessidades muito arcaicas, e por isso muito autênticas, do ser humano. Várias necessidades: a necessidade de brincar, a necessidade de dançar, a necessidade de fazer um sexo transitório e sem compromisso, a necessidade de assumir uma outra identidade, o que explica as fantasias: no Carnaval proliferam os reis, as rainhas, as princesas, os palhaços, as colombinas – as máscaras, sobretudo as máscaras. A pessoa deixa de ser o que ela é, e por um instante muda-se para o planeta de sua imaginação. É claro que, com tudo isso, o Carnaval teria mesmo de durar pouco e teria de ser seguido por um dia sombrio, a Quarta-Feira de Cinzas. Que, no Brasil, inaugura o ano propriamente dito. Como diz a canção: "Agora é cinza/ tudo acabado, e nada mais".

  • Mil palhaços no salão

    Num dos flashes da TV, vi um cidadão baiano, de seus 35 a 40 anos, forte, alegre, declarar que trocara as férias para ter o direito de passar os quatro dias de plantão na Praça Castro Alves, pulando atrás (e à frente e aos lados) de todos os trios elétricos que passavam. Alimentação desses quatro dias: cerveja e acarajé. Descanso: no intervalo de um trio e outro, o cara deitava em qualquer canto e dormia, com o luminoso sol da Bahia abençoando sua carne fatigada e seus sonhos de folião.

  • Sonhos de Carnaval

    Os dois estavam casados há muito tempo, os dois conviviam diariamente: trabalhavam no mesmo lugar, uma grande fábrica de produtos esportivos; ele era gerente de produção e ela chefiava a contabilidade. E os dois não eram muito de Carnaval; na verdade, durante os dias da folia levavam trabalho para casa e ficavam horas fazendo cálculos e escrevendo relatórios. A fábrica era a vida deles.

  • Samba, enredo, Brasil

    Estou escrevendo uma história cujo personagem principal é um jovem gaúcho que, pretendendo entrar no Partido Comunista, viaja para o Rio de Janeiro na mesma época em que Getúlio Vargas, chefiando a revolução de 1930, chega ao poder. Li muito sobre esse período, e descobri algumas coisas curiosas. Assim, o entusiasmo do povo com a nova liderança manifestou-se, como era de esperar, na música popular: Na marchinha Ge-Gê, Lamartine Babo proclamava: “Nós vamos ter transformação/ Neste Brasil verde-amarelo”. E, no Carnaval de 1931, a Escola de Samba Vai Como Pode (futura Portela) apresentou um samba-enredo homeageando Getúlio, marcando o nascimento de uma nova forma de folia carnavalesca. Foi, se não o primeiro, um dos primeiros sambas-enredo.

  • Adeus à carne

    Mário Filho, que deu nome ao estádio do Maracanã, desejava escrever um romance cujo título seria 1919. Durante toda a sua vida falava deste projeto: a história do carnaval daquele ano, quando o Rio, vencida a batalha contra a gripe espanhola, que matou carioca a esmo, esbaldou-se numa folia que provocou, segundo assentamentos policiais, mais de 2.000 defloramentos.

  • Um turbilhão de livros

    Na Fundação Casa de Rui Barbosa, no Rio, é possível encontrar originais de Coelho Neto, como o autógrafo rimado de Pastoral, em que afirma: “Sombra do que foi grande, especto d’um fastígio/ Em que perdeu o esplendor e perdeu o prestígio... Como é doce viver quando o campo floresce/ Toda a mágua se esvai, a mesma dor se esquece.”