
Aberração, segundo Vargas Llosa
[2]É preciso ouvir o truísmo de Mario Vargas Llosa para que sejam repensados os caminhos da redenção da última flor do Lácio
É preciso ouvir o truísmo de Mario Vargas Llosa para que sejam repensados os caminhos da redenção da última flor do Lácio
Não deixa de ser a história de um povo que Elisa Lispector conta em seu livro "No exílio". Escritora que foi a irmã mais velha de Clarice Lispector, deixou uma obra diferente, mais ligada à luta do povo e da tradição judaicas pela sua permanência no mundo. Ao chegar a família Lispector ao Brasil, tinha Elisa 9 anos, a irmã do meio, Ethel, 2, e a caçula, Clarice Lispector, dois meses. Foi, assim, Clarice a única a entrar em contato com a língua portuguesa antes do estudo de qualquer outro idioma.
Está se tornando enjoativa a leitura das notícias emanadas no Senado Federal. A culpa é de um só membro do Senado. Tenho dito nesta coluna, mais de uma vez, que o Senado Federal foi a cúpula da representação política democrática do Brasil. Salientou-a o querido mestre Afonso de Taunay em seu livro O Senado do Império , cujas páginas não foram mais reproduzidas, a não ser - ainda na Primeira República - por prevalecerem nos seus quadros os egressos do antigo regime. Hoje o Senado é outro, e já se fez amolecar, como estamos vendo nos episódios Renan e Roriz.
Os melhores cálculos retificam que mais de 1 bilhão de pessoas, coladas às televisões ou às telas públicas, presenciaram o desfecho da Copa do Mundo. Jogaram os países com a sua auto-estima, diante das surpresas em campo, nunca a por tanto à tona o brio das nações que entravam no gramado. Os finalistas provaram na carne o quanto as equipes podiam mudar até a visão política dos governos nas suas crises imediatas. O mau desempenho inicial do time de Domenech viu-se como metáfora da crise do Ministro Villepin, mas o país saiu do marasmo cada vez mais ao se referir à “equipe de France” e ao desempenho extraordinário da sua segunda fase. A Itália esqueceu o impasse das maiorias milimétricas do seu governo e o sucesso final é de uma retomada única de confiança no futuro.
Este atravessar junho-julho tem sido um tempo de sofrimento. Para o povo brasileiro, a provação de ver a seleção de ouro tornar-se pó sem fazer uma partida que pudesse lembrar de leve o brilhante futebol brasileiro, que encantava a todos nós e fez fama e escola pelo mundo inteiro. Os "experts" -e eu não sou nem de leve um- dizem que tínhamos excelentes jogadores, mas que não tínhamos equipe. Para mim, é um paradoxo, mas, para os entendidos, faz sentido. Até torcedor sou contido e, às vezes, relapso em assistir às partidas de maior impacto.Mas ao nosso sofrimento juntou-se o de espanhóis, alemães e portugueses, para não estender a lista -restando a perspectiva da coroa final da glória a França e Itália. Ao vencedor, repitamos Machado de Assis, as batatas.
Naquela tarde, José Mindlin fora consagrado por uma votação unânime para a cadeira ocupada anteriormente por Josué Montello na Academia Brasileira de Letras. Tradicionalmente, como sempre acontece após as eleições, ele estava convidando os seus confrades para comemorar a vitória e a perenidade acadêmicas.
A contribuição da presença, no Brasil, de imigrantes da Rússia, da Polônia e outras regiões da Europa de população predominantemente judaica, foi de tal maneira que nos é possível hoje termos toda uma bibliografia sobre eles e seus descendentes em vários setores da vida brasileira. São brasileiros como Clarice Lispector, como os Bloch (Adolpho e Pedro), como os Niskier (Arnaldo, Odilon e Celso), como os Scliar (Moacyr e Carlos), como os Sauer e como tantos outros que nos ajudaram a criar o Brasil de hoje.
Um determinado mosteiro atravessava tempos difíceis. Ninguém queria ser noviço. Os antigos monges tinham morrido. Apenas cinco deles ficaram no imenso edifício. Desolados, procuraram um sábio e lhe contaram suas dificuldades. “Que pena”, respondeu o sábio. “Porque um de vocês está destinado a ser santo”. Os monges voltaram espantados. Seria aquele irmão que sempre ajudava nas dificuldades o tal santo? Seria o outro, que rezava sem parar? Os monges passaram a se comportar da melhor maneira possível. Aos poucos, a gente da cidade começou a notar o entusiasmo e a devoção daqueles velhos. Um jovem pediu para acompanhá-los. Outros fizeram o mesmo. E, graças ao comentário do sábio, o mosteiro recuperou a dignidade perdida.
Ainda acho que a provável reeleição de Lula, já no primeiro turno, se deva mais à desorientação ou fraqueza dos demais candidatos. Falta-lhes uma idéia básica e aglutinadora, um programa de metas, como o de JK quando eleito, em 1956. Reuniu equipe de técnicos, elaborou um roteiro que sacudiria o Brasil e cujos resultados até hoje desfrutamos.
As versões dadas ao narrador e também protagonista das Memórias Póstumas de Brás Cubas são várias e chegam a desnortear o leitor dessa obra inesgotável de Machado de Assis. Três versões, pelo menos, vêm mostrando notável capacidade de resistência. Tento retomá-las na expectativa de perceber até onde poderiam captar aspectos significativos de um dos romances mais originais de nossa literatura.
O conceito de santidade ocupa um lugar definido no modo como são julgados os representantes da raça humana que hajam conseguido abandonar o natural egoísmo que nos cerca a todos os que da terra viemos e a ela voltaremos. E o sentimento geral de devoção que é a eles dedicado faz parte da história de cada recanto do mundo habitável. Os santos de cada região são lembrados, reverenciados, suas histórias são contadas e repetidas, de tal modo que uma estatística aponta, para São Francisco de Assis, por exemplo, um número considerável de milhões de livros, orações, lembranças, igrejas que, nas mais variadas partes da terra, lembram sua presença e sua poeticamente santa existência.
Romances, poemas, ensaios são feitos com palavras. E estas, as palavras, descansam ou se agitam na memória. Quando se diz que a memória é a base de qualquer história - ou poesia, ou depoimento, ou análise, ou previsão, ou prédica, ou declaração de amor - é porque na palavra repousa tudo o que o tempo colheu e guardou. O passado como que espera na memória pela hora de sua ressurreição. Daí o poder dizer-se que todo livro é um produto da memória, seja qual for sua classificação técnica do ponto de vista literário.
Nesta vida agitada de ler livros e mais livros, principalmente brasileiros, dos que possam elevar nossa literatura a nível mais alto - e a nós mesmos, como leitores, a um plano maior de entendimento - encontramos de vez em quando obras que abrem caminhos.
Há uma generalizada reclamação, no Brasil, de que as nossas crianças estão chegando à quarta série do ensino fundamental sem os adequados conhecimentos das propriedades de ler, escrever, contar e raciocinar com autonomia. Isso traz reflexos em toda a carreira da aprendizagem. Gostaria de defender uma tese: é possível que isso seja decorrência dos processos adotados de alfabetização em nossas escolas, especialmente as públicas. Há 25 anos que a criatividade tropical inventou o "método Piaget", batizado de construtivismo, quando na origem o autor suíço produziu uma teoria - e não um método.Repetidas vezes temos denunciado o fato, com variada repercussão. Ora recebemos aplausos, ora somos criticados, como aconteceu, na Baixada fluminense, quando a maioria das professoras presentes a uma conferência quase se revoltou contra as nossas idéias. "Que coragem de criticar Piaget" repetiram as simpáticas mestras, quando não era esse o caso. Piaget deve ser sempre elogiado por sua educação pela inteligência, mas daí a virar método de alfabetização é um grande equívoco.Encontramos a professora Zoé Noronha Chagas Freitas, que se debruça há muitos anos sobre educação infantil. Foi uma pioneira na educação artística, ao lado do pintor Augusto Rodrigues. Discípula da genial Helena Antipoff, não concorda com a adoção do método global (construtivista) e confirma que as crianças, nesse caminho, decoram uma frase e repetem até a quarta série, sem conhecer o seu exato significado. É francamente favorável ao método silábico e aponta o que está ocorrendo na França, onde há uma vigorosa virada de perspectivas, depois de ter ocorrido o mesmo na Inglaterra, como pôde verificar.O ministro Gilles de Robien, no início de 2006, como registra a revista Le Figaro número 1318, publicou uma circular, impondo o retorno do bê-á- bá, na aprendizagem da leitura. Não trata da escrita, nem da gramática, da ortografia ou do cálculo. Ele prioriza a "batalha do bom senso", mais oxigênio na educação francesa, com a adoção do método silábico, que concretamente produz resultados apreciáveis a partir de três meses de uso. Voltamos a Helena Antipoff para lembrar o que hoje repete D.Zoé: "Obrigar a criança a aprender a ler só por um método é não aceitar as suas diferenças." Essa volta também está ocorrendo nos Estados Unidos.Retomamos as palavras do ministro Gilles Robien, hoje com grande popularidade entre os pais de alunos franceses: "As pesquisas sobre o funcionamento do cérebro determinaram a minha decisão. Por que a maior parte dos países utiliza o método silábico? Não é impossível aprender a ler com o método global, mas há uma clara preferência pelo silábico. Deixar os alunos irem adiante sem saber ler é condená-los à exclusão."Afirmando que "a nostalgia não é o fermento do meu ideal", o ministro francês (não esqueçamos, é língua latina) está estimulando os professores, no seu ofício apaixonante, a produzir materiais silábicos ou fono-sintéticos, no que já se empenham as grandes editoras do país. Só falta mesmo saber quando o Brasil caminhará nesse sentido, com bom senso, mesmo que preservando o seu estilo descentralizado e mais livre de agir, no que se refere aos fatos da educação.
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