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Artigos

  • Sempre uma festa

    Folha de S. Paulo (SP), em 05/10/2008

    RIO DE JANEIRO - Mais uma eleição em nível municipal. Não deixa de ser uma festa toda vez que o cidadão exerce o seu direito de votar. Não sou exatamente um devoto da forma pela qual são escolhidos os representantes do povo, espero que a criatividade do gênio humano descubra um sistema democrático que supere os trancos e barrancos do financiamento das campanhas eleitorais – ponto de partida e de chegada dos mil acidentes da nossa vida pública.

  • Os homens e seus medos

    Zero Hora (RS), em 05/10/2008

    Homens têm medo. Melhor dizendo, homens têm medos, vários tipos de temores. Não apenas os habituais: medo da morte, medo da doença, medo de assalto, medo do toque retal para exame da próstata. Homens têm medos mais sutis, muitos deles relacionados às mulheres. Poderia parecer um paradoxo, visto que as mulheres são habitualmente rotuladas como frágeis. Mas mulheres estão longe de ser frágeis, sobretudo as mulheres de hoje, valentes, determinadas, mulheres que lutam por seu lugar no mercado de trabalho e que inclusive vivem mais que os homens. Os homens têm medo de se envolver com mulheres, têm medo da intimidade, têm medo de perder o mítico poder masculino. Este medo, às vezes, é patológico, é uma fobia e tem nome(s): ginefobia, fobia de mulheres, e caliginefobia, medo de mulheres bonitas. E, porque têm medo, os homens têm fantasias.

  • A nova e subversiva latinidade

    Jornal do Brasil (RJ), em 02/10/2008

    Desdobram-se as visões da América Latina, no desponte da quebra hegemônica e, de vez, de um governo diferente em Washington. A recém-terminada conferência da Academia da Latinidade em Mérida, na província de Yucatán, no México, debruçou-se sobre, ao mesmo tempo, o futuro das dominações de há menos de um lustro frente às novas multipolaridades e, sobretudo, a crise do Estado-nação entre nós, expressa pelos riscos do establishment da Bolívia e da mesma ameaça que começa no Equador.

  • Um livro necessário

    Tribuna da Imprensa (RJ), em 30/09/2008

    Tenho insistido na profunda identidade existente entre as diversas formas da arte de narrar, porque aí me parece jazer a raiz de todos os ímpetos de renovação que ela comporta. O tom de epopéia, a narração feita em versos que integram muita poesia popular, tudo participa de um mundo de ritmos que tem início quando a criança começa a ouvir histórias da mãe, da tia, da avó e da babá. A cadência da narrativa, suas marcações, seus cortes, suas interrupções seu espanto, tudo se liga ao fôlego, à respiração do menino e da menina.

  • Sociedade do conhecimento

    Jornal do Commercio (RJ), em 26/09/2008

    A criação do IGC (Índice Geral de Cursos), um medidor da qualidade do ensino superior brasileiro, deve ser reconhecida, sobretudo pela coragem do ministro Fernando Haddad de mexer nesse autêntico vespeiro.

  • Sem educação não há milagres

    Folha de S. Paulo (SP) -, em 24/09/2008

    SER JUSTO é uma obrigação do articulista. Se um ministro se equivoca em determinada medida, merece a crítica isenta. Se ele acerta, faz-se credor do elogio.

  • Vocação de escrever

    Tribuna da Imprensa (RJ), em 23/09/2008

    Campos de Carvalho já era um nome nacional quando publicou "O púcaro búlgaro". Seus livros anteriores - "A lua vem da Ásia", "Chuva imóvel" e "Vaca de nariz sutil" - haviam-no colocado em nível de vanguarda em nossa ficção. O tom geral de "O púcaro búlgaro" é o cômico. Sua comicidade não fica, porém, somente em situações externas. Jogo-de-palavras, fá-lo ele a cada instante, e sua variedade estilística se adestra com isto. A partir de dois proparoxítonos - púcaro e búlgaro - vai Campos de Carvalho tecendo sua risibilidade vocabular, acumulando qüiproquós, como os bons humoristas de qualquer tempo e arte, Rabelais ou Chaplin, Marivaux ou Tashlin.

  • Evitar a tentação

    O Globo (RJ), em 22/09/2008

    As próximas eleições municipais no Rio de Janeiro são exemplares para o lulismo pós-PT e a nova prosperidade sustentada do país. O toque do presidente no palanque é a consagração, de vez, do candidato ao seu lado. Mas a maré de sucesso que aposenta, de vez, o oposicionismo tradicional nada tem a ver com um populismo clássico, nem deixa o futuro a frete de qualquer lance do Planalto.

  • Estão pensando que eu sou bobo

    O Globo (RJ), em 21/09/2008

    Esta vida é um rude golpe atrás do outro. A gente pensa que conseguiu algum tempo de sossego e aí lá vem perturbação no juízo. E confesso a vocês que não esperava a revelação que me fizeram de chofre e sem misericórdia, na semana que passou. Dirão talvez muitos entre vocês que isto mostra como ando alienado, pois o que me contaram não devia ser surpresa para ninguém, muito menos para mim. Mas talvez alguma defesa inconsciente me viesse bloqueando a visão durante todo este tempo. Terei sido, ai de mim, o pior dos cegos, aquele que não quer ver.

  • Grampos, medo e liberdade

    O ESTADO DE S. PAULO (SP), em 21/09/2008

    Montesquieu introduziu na teoria política a funcionalidade lógica da divisão dos Poderes entre um Executivo, um Legislativo e um Judiciário. Deste modo indicou que o poder não é, necessariamente, indivisível e monocrático e apontou que a tripartição favorece a vida de uma sociedade livre porque nenhum dos Poderes se estende sem limites, porque é contido pelos demais.

  • Interpretando as mensagens de nosso corpo

    Zero Hora (RS), em 15/09/2008

    Tempos atrás, fazendo uma pesquisa sobre a história da melancolia, encontrei num velho livro de psiquiatria uma expressão tão intrigante quanto fascinante: “ômega melancólico”. Trata-se de uma ruga, em forma de ômega (aquela letra grega que lembra uma ferradura), que aparece na testa das pessoas melancólicas. Por uma simbólica coincidência, o ômega é a última letra do alfabeto grego e é usado para designar o fim das coisas, assim como o alfa, a primeira letra, é o começo. Ora, para muitas pessoas a melancolia é mesmo o fim da picada, ou elas assim o sentem. O ômega melancólico é uma mensagem que, como a marca de Caim (também na testa), e obedecendo a mecanismos semelhantes – a culpa desempenha aí um papel fundamental – nos lembra que o nosso rosto muitas vezes funciona como uma tela: nele se projetam os sinais de nossos problemas emocionais. Desses sinais tomamos conhecimento através daquele inquietante objeto, o espelho. Que, para nosso desgosto, não mente. Durante muito tempo, o espelho pôde garantir à malvada rainha que não havia no mundo mulher mais bela. Mas então surge Branca de Neve, e o espelho, por dizer a verdade, teve de agüentar a cólera da soberana.

  • É preciso ajudar os fumantes

    Zero Hora (RS), em 15/09/2008

    Nas últimas semanas ressurgiu a controvérsia sobre o fumo. Em São Paulo, foi desencadeada por um projeto de lei que o governador José Serra (ministro da Saúde no governo FHC) encaminhou à Assembléia Legislativa do Estado, propondo a proibição do cigarro em qualquer ambiente coletivo fechado da cidade. O projeto, que tem o apoio do presidente do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde, o gaúcho Osmar Terra, foi rotulado como um ato de “fúria contra os fumantes” por ninguém menos que um médico, o doutor Ithamar Stocchero, ex-presidente da regional de São Paulo da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.

  • O Bolsa Blindagem

    O Globo (RJ), em 15/09/2008

    Louvor em boca própria, bem sei, é vitupério, como diziam os antigos. Hoje ninguém mais diz isso, até porque suspeito que ninguém mais sabe o que é vitupério. Pensei em traduzilo para “uma parada sinistra”, mas fiquei com medo de cometer algum equívoco, porque não domino bem os vocábulos que, com admirável poder de concisão, compõem o cabedal lingüístico da maior parte do nosso povo atual, demonstrando que ninguém precisa de mais que trezentas palavras para ser feliz. Bem, trezentas e cinqüenta para os muito letrados, mas acima disso é elitismo.

  • Direitos humanos e regime de castas

    Jornal do Commercio (RJ), em 12/09/2008

    Vamos aos 60 anos da Declaração dos Direitos Humanos, feita à saída do último conflito mundial. Lugar, talvez, agora onde mais se imponha, esta comemoração, como um clamor de consciência e uma chamada à responsabilidade de nosso tempo não é outro senão a Índia. Ostensivamente democrata sobrevive com o mais inabalável regime de castas e de discriminação social em nosso tempo. E num conformismo que tendemos a esquecer, tanto o país se mantém em 80% de sua população vinculada ao hinduísmo.

  • José Olympio reinventado

    Jornal do Commercio (RJ), em 11/09/2008

    Não há nada mais pertinente nem oportuno, ou mesmo mais venturoso, do que se atribuir a um grande editor a tarefa de reviver em livro a vida e as atividades de outro grande editor. É isso o que se constata, de forma superlativamente admirável, ao degustar-se José Olympio. O Editor e sua Casa, organizado por José Mario Pereira para a Sextante e que acaba de chegar às livrarias. Trata-se de obra no mínimo monumental não apenas por seu formato majestoso (31 X 24 cm), mas também, e acima de tudo, pelo opulento cardápio que oferece aos leitores: textos extremamente bem cuidados (inclusive os das legendas de fotos), abundante e valiosa iconografia, beneditino trabalho de pesquisa literária e editorial, com reprodução de depoimentos, artigos, cartas, dedicatórias, capas de livros de uma afortunada época que já se foi, fotos e caricaturas inéditas, bibliografia - enfim, um aparato livresco faraônico que configura, como sublinhou em recente artigo o crítico Wilson Martins, uma "obra-prima de arte tipográfica, documentação historiográfica e preciosa iconografia". Com modéstia, José Mario Pereira define-se como organizador do volume, mas caberia aqui evocar o conceito de autoria, tamanha é a sua participação na arquitetura do livro, no qual nunca será demais relevar a circunstância de que estamos diante de uma obra concebida e escrita por um editor que se ocupa amorosamente de outro da mesma família espiritual e que desde sempre lhe serviu de mestre e modelo.