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Artigos

  • Opinião: O jogo dos sete erros

    Jornal do Brasil (RJ), em 24/11/2006

    O Oriente Médio toma uma direção nunca esperada por nenhum dos planejadores da Guerra do Iraque. Até hoje ninguém sabe exatamente as motivações que levaram ao conflito. Bush justificou-as como a necessidade de uma guerra contra o terrorismo, a existência de armas de destruição em massa, químicas, atômicas ou seja lá o que fosse. Essa versão não resistiu dois meses e restou a de que era mesmo uma birra de família porque - expressão do presidente dos EUA - "Saddam quis matar papai". A doutrina Rumsfeld da guerra preventiva também ruiu por terra porque, se a versão da existência das armas não era verdadeira, a tal prevenção também não era.

  • Ocidente, terrorismo e diferença

    Jornal do Commercio (RJ), em 24/11/2006

    Para onde vai a visão americana depois da vitória democrática, diante da declaração dos experts militares de que será, pelo menos, de dez anos a permanência das tropas no Iraque? E como reagirá Washington à proposta já da Europa mediterrânea, de juntarem-se a França, a Espanha e a Itália, por forçar uma solução para o impasse do Oriente Médio, independentemente do que pense o Salão Oval? Ou, sobretudo, e frente às fendas abertas à hegemonia, pela derrubada de Rumsfeld, o que se pode esperar da passagem do Irã à ofensiva, numa concertação internacional, convidando a Síria, o Iraque - e, especialmente, a Turquia - para a estabilização da área?

  • “Sérgio Buarque de Hollanda teve de explicar, incontáveis vezes, que cordialidade não é sinônimo de cortesia, de gentileza, de boa educação”

    Correio Braziliense (DF), em 24/11/2006

    Há 70 anos era publicada, no Rio de Janeiro, uma obra que marcaria de forma indelével a cultura brasileira. Trata-se de Raízes do Brasil. O autor, o intelectual, historiador e antropólogo Sérgio Buarque de Hollanda, é por muitos conhecido como o pai do Chico, o que mostra o poder do genoma; mas ele é, sobretudo, um lúcido intérprete da realidade brasileira.

  • A graça sem graça

    Jornal do Commercio (RJ), em 23/11/2006

    No princípio, a inteligência estava acima de todas as coisas. Lado a lado com a beleza - que, já dizia Platão, é o esplendor da verdade.Aos poucos, com os trancos e barrancos da vida, fui percebendo que a inteligência era uma baia (não confundir com Bahia) onde a burrice se cevava, engordava, dava crias. E a beleza, bem, nada mais era do que um ponto de vista.

  • Marte sobre Escorpião

    Jornal do Commercio (RJ), em 22/11/2006

    Deu-se que, folheando uma revista estrangeira, tomei conhecimento de que em Campione, na Itália, os cobras dos cobras em matéria de astros estiveram reunidos numconvescote científico e moral. Li as conclusões a que chegaram os doutos - e cito alguns deles: o ex-astrólogo de Fellini, o oráculo da nobreza inglesa,a ex-modelo de Chanel, Elisabeth Tessier Du Cros, a maga famosa na França, por aí afora. Bem verdade que senti falta de Paulo Coelho neste seleção de sábios esotéricos, mas nem tudo é perfeito neste mundo regido por forças além da nossa vã filosofia.

  • Os números não mentem

    Jornal do Brasil (RJ), em 22/11/2006

    O Estado do Rio de Janeiro é a capital cultural do Brasil e também a segunda unidade da Federação em matéria de PIB, só perdendo para Brasília, que é favorecida pela ação do governo federal. Existe uma balela de que o Estado está sofrendo um processo de esvaziamento econômico. Não é isso que os números revelam, como mostraremos a seguir.

  • O ovo da serpente

    Jornal do Commercio (RJ), em 21/11/2006

    Quando a classe política, como um todo, chega a um consenso operacional, a experiência ensina que nada será feito para concretizar o circunstancial consenso. Ele servirá apenas para declarações bem intencionadas e para a formação da seguinte estratégia: se todos estamos de acordo neste assunto, por que não o deixar para mais tarde?

  • O Iraque no Brasil

    Tribuna da Imprensa (RJ), em 21/11/2006

    Qualquer que seja o assunto de um romance, de uma obra literária narrativa, seu caráter interno pertence a uma longa linhagem de contadores de histórias, em que tanto estariam os livros de cavalaria, as novelas picarescas e até os livros religiosos em que se contam casos que servem de exemplos a quem os lê. Claro que o romance policial, o de aventuras e aqueles que chamamos de livros de ação, fazem também parte desse mundo literário em que vivemos.

  • Grave preocupação

    Diário da Manhã (GO), em 19/11/2006

    Imagino que o gentil leitor ou a encantadora leitora possa suspirar mal resignados, diante do título acima: lá vem ele com assombrações para o futuro do País outra vez. Ledíssimo engano, pois não estou com preocupação nenhuma em relação a “este país”. As fontes oficiais, a começar pelo presidente, nos revelam que o País está pronto. Está tudo arrumado para o desenrolar do espetáculo do crescimento, chega a dar para sentir no ar o clima de largada para a Grande Disparada à Frente que experimentaremos a partir do próximo mandato. É só esperarmos até o novo ano, não vamos começar agora, com o Natal, o réveillon e a Semana Santa já aí. A data certa é um belo dia de abril, para ficar tudo ajeitado como devia e o homem dar a bandeirada.

  • Grave preocupação

    O Globo (RJ), em 19/11/2006

    Imagino que o gentil leitor ou a encantadora leitora possam suspirar mal resignados, diante do título acima: lá vem ele com assombrações para o futuro do país outra vez. Ledíssimo engano, pois não estou com preocupação nenhuma em relação a “este país”. As fontes oficiais, a começar pelo presidente, nos revelam que o país está pronto. Está tudo arrumado para o desenrolar do espetáculo do crescimento, chega a dar para sentir no ar o clima de largada para a Grande Disparada à Frente que experimentaremos a partir do próximo mandato. É só esperarmos até o novo ano, não vamos começar agora, com o Natal, o réveillon e a semana santa já aí. A data certa é um belo dia de abril, para ficar tudo ajeitado como devia e o homem dar a bandeirada.

  • Unanimidade para a hegemonia

    Jornal do Commercio (RJ), em 17/11/2006

    A Câmara Americana, por quase dois terços dos seus votos, aprovou projeto de lei que consagra o que Bush pediu a Deus para de vez instalar o reino da hegemonia no país dos direitos humanos. Não foram só os republicanos que optaram pela nova proposta legal, que permite a espionagem indefinida dos telefones americanos, as torturas por imersão, ou levam a penas, até de morte, acusados de terrorismo, sem conhecimento do libelo, nem efetivo direito de defesa. O projeto vencedor, por enquanto, consagra a norma inédita de que caberá apenas ao presidente discernir o que seja tortura grave ou branda. E bane de vez o respeito às Convenções de Genebra, ao que seja o tratamento de prisioneiros quando considerados como insurgentes e não como membros de exércitos regulares. Consagra, a reboque da nova legislação, a permanência indefinida, pois, de Guantánamo, tal como considera como definitivas as confissões obtidas declaradamente sob tortura até 2005. A senadora Hilary Clinton votou com os republicanos, assim como boa parte de seus colegas de partido. A decisão veio a toque de caixa, com vistas às eleições estaduais. E o que importa é o quanto cada partido se tornasse mais duro frente aos eleitores, diante da convicção de estar o país ameaçado pelo terrorismo e possíveis novas catástrofes no território americano. Desapareceu toda a expectativa de que a clássica oposição entre duros e brandos na condução da potência hegemônica obedecesse ainda à clivagem clássica entre o partido de Roosevelt e Kennedy ou de Nixon e Bush. O que estarrece é o quanto, na perspectiva da afirmação das garantias de um estado de direito e do país arcano das liberdades, o arreganho eleitoral imediatista confunde de vez a imagem histórica do país e da sua confiabilidade a largo prazo pela plataforma de direitos humanos nascida com Jefferson, Lincoln e Roosevelt. Não importa esteja Bush no nadir hoje de sua popularidade, aos 28%, quando tinha quase 90% ao caírem as torres do World Trade Center. Se se tacha hoje o presidente de incompetência, nada se tira da dominância nova da política americana de aceitar as regras do jogo e, de vez, da "civilização do medo". O próprio Partido Republicano e figuras-chave dos antigos falcões, como os senadores Warner e McCain, refugaram a liberação ostensiva do regime das torturas como o caminho mais direto ao recrudescimento do terrorismo. Arrefeceram as suas vozes, inclusive de heróis de guerra e torturados no Vietnã, quanto à catástrofe que representaria hoje, em torno de escalada a longo prazo, a violação repetida e crescente dos direitos humanos para intimidar terroristas. O que se vê instalada é, de vez, a "civilização do medo", eliminando-se qualquer calendário de retirada das tropas americanas no Oriente Médio, redobrando-se a convocação de reservistas e trazendo-se agora a sétima frota americana para cercar os portos do Golfo Pérsico. O choque, de que não ouvimos ainda o troar, é dessa maioria no Congresso americano, para além das bandeiras partidárias, que quer de vez criar o fato consumado do país hegemônico, à margem por inteiro do regime internacional de proteção das garantias básicas dos direitos humanos, refratário a que as Nações Unidas se imiscuam em qualquer questão de etnocídios ou de genocídios que decorram da "civilização do medo". Passa a viger a garantir suprema e estrita da segurança nacional americana e a total inviabilidade de que se possa dar qualquer habeas corpus para a salvaguarda da Convenção de Genebra quanto ao respeito aos prisioneiros. Inaugura-se, sim, a figura do combatente inimigo, sem recursos, voz e defesa, jogados no vácuo do arbítrio presidencial, para saber até onde possam ser objeto de estupro, experimentos biológicos e tratamento cruel e desumano. Não está mais em causa a opção feita por Bush quanto ao que dele pensarão no futuro os antigos presidentes de perfil esculpido para sempre no Monte Rushmore. Claro, aí fica de novo a Suprema Corte diante da aliança do Executivo e da legislatura no caminho de opção sem volta oferecida ao eleitorado. Na mesma onda, submerge de vez uma candidatura Clinton, a se manter uma alternativa. O país que irá ao Supremo não sabe ainda quem serão os seus líderes à altura de novos Roosevelts ou Jeffersons.

  • Kuaa Mbo"E

    Jornal do Commercio (RJ), em 17/11/2006

    Não se assustem com a expressão acima. Ela guarda um profundo sentido, na proposta de uma educação indígena, na região Sul e Sudeste do Brasil. Significa, em guarani, Conhecer-Ensinar. Remonta, para os estudiosos, à época dos nossos primeiros tempos, com o trabalho dos jesuítas, acelerado a partir da vinda do padre José de Anchieta, em 1553, na equipe do governador-geral Duarte da Costa. Todos sabemos do quase genocídio dos nossos indígenas, que saíram do número de 3,5 milhões para os atuais 400 mil. Assinale-se, hoje em dia, um dado positivo: cresce o índice demográfico entre eles, tornando distante a possibilidade da sua extinção. Há tribos em praticamente todo o território nacional, embora em muitas registre-se um número inexpressivo de habitantes. Uma forte luz se acendeu, por iniciativa do Consed (Conselho dos Secretários de Educação), do MEC e da Fundação Nacional do Índio, com a criação do Programa de Formação para Educação Escolar Guarani nas Regiões Sul e Sudeste do Brasil. Desde 2001, lideranças, pajés e professores guarani reúnem-se para discutir essa proposta. Concordamos com as lideranças que afirmam "ser a cultura muito importante. Vamos aprender a ensinar. Também é importante para que não se esqueça a sabedoria dos nossos anciãos e a memória guarani." Por isso, a Secretaria de Estado de Educação aliou-se fortemente ao projeto. Temos o maior carinho pela Escola Estadual Indígena Guarani Karai Kuery Renda, composta das seguintes unidades: "kyringue yvotyty", em Angra dos Reis (Bracuí), "tava-mirim", em Parati-mirim, e "karai oka", em Araponga, também em Paraty. Somando, são 160 alunos, com professores guarani (bilíngües, pois sabem adequadamente o português), que apostam numa educação diferenciada, que atenda aos seus interesses e tradições. A carga mínima anual é de 800 horas, distribuídas por um mínimo de 200 dias letivos de efetivo trabalho escolar. No currículo, são respeitadas as diretrizes nacionais, de acordo com a legislação vigente no País, e as propostas de cada etnia, em respeito às especificidades étnico-culturais de cada povo ou comunidade, respeitados o saber e a cultura indígenas. Cada grupo tem práticas pedagógicas específicas, todas de caráter presencial, com um calendário próprio, como pôde verificar, em visita feita aos locais, o professor Paulo Pimenta, que registrou, com emoção, a eficácia do aprendizado das crianças das respectivas aldeias. Aulas de forte conteúdo de brasilidade, assim se contemplando a construção de conhecimentos, valores, habilidades e competências. Todas pertencem à rede estadual de ensino e funcionam em regime de tempo integral, nas três aldeias referidas. As salas são arrumadas em ambiente diferenciado. Ao lado, existem as casas de reza e um amplo espaço para caçar, montar armadilhas, pescar, plantar etc. É uma forma de não desvirtuar os hábitos seculares, com suas práticas sócio-culturais e religiosas. Nenhuma imposição, pois esta seria contrária ao espírito de preservação dos principais valores ali estabelecidos. O prof. Pimenta registrou isso tudo, voltando ao Rio com o som do chocalho na cabeça, com os índios dançando o seu tradicional Xondaro. Uma experiência inesquecível de respeito aos costumes verdadeiros dos nossos primeiros habitantes.