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Artigos

  • A solidão

    Diário do Comércio (São Paulo), em 10/02/2005

    Quando morreu Carolina, Machado de Assis compôs um dos mais belos sonetos em língua portuguesa. Sem extravasar a sua angústia, por ter perdido a doce companheira de trinta e quatro anos, Nabuco, o grande amigo de sempre, lhe escrevera para consolá-lo do rude golpe sofrido com a morte de Carolina.

  • A hegemonia, um luxo só

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 09/02/2005

    Bush, no discurso de posse, levou à abstração máxima a referência à liberdade, como convém à fala da hegemonia, legitimamente consagrada, afinal, pelo aluvião eleitoral. Não fez por menos, no direito à arrogância tranqüila que lhe dá a instituição democrática. O recorte do perfil na escadaria do Capitólio era já de pretendente aos talhes na pedra do Monte Rushmore, dos pais da república, como conviria ao presidente da nação chegada ao extremo de seu fastígio. É um virar natural de página, quando não há mais que pedir desculpas pelo erro confesso da busca do arsenal nuclear de Saddam, nem dar novas justificações ao fato consumado da guerra permanente para o extermínio do terrorismo.

  • Diálogo com o povo

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 07/02/2005

    Temos a sensação de que já foi mais fácil ser representante do povo nas casas legislativas. Era menos gente envolvida, responsabilidades mais acanhadas, menos exigências. Hoje, é preciso louvar os que têm a coragem do sacrifício, embora o reconhecimento esteja longe de ser sequer razoável.

  • A crise da aviação

    Diário do Comércio (São Paulo), em 07/02/2005

    Escrevi vários editoriais nos últimos meses sobre a crise da aviação civil comercial. Essa crise acaba com um epílogo, ao menos parcial, com a cassação dos vôos da Vasp, a companhia que tem na carlinga o acrônimo de São Paulo.

  • Sobre a elegância

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 06/02/2005

    ÀS VEZES EU ME SURPREENDO COM os ombros curvados; e sempre que estou assim, tenho certeza de que algo não está bem. Neste momento, antes mesmo de procurar a razão do que me incomoda, procuro mudar minha postura - torna-lá mais elegante. Ao colocar-me de novo em posição ereta, dou-me conta de que este simples gesto me ajudou a ter mais confiança no que estou fazendo. Elegância é geralmente confundida com superficialidade, moda, falta de profundidade. Isso é um grave erro: o ser humano precisa ter elegância em suas ações e em sua postura, porque esta palavra é sinônimo de bom gosto, amabilidade, equilíbrio e harmonia.

  • Tombamento inútil

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 06/02/2005

    Sempre acreditei que o Cristo Redentor fosse tombado. Ou nem isso: sempre o considerei coisa nossa, como o Pão de Açúcar, que lhe faz frente, e o Corcovado, que lhe serve de pedestal -o pedestal mais fantástico do mundo.

  • Presença Brasileira no Caribe

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 04/02/2005

    Não nos demos conta talvez do que a intuição de Lula permitiu ao País, no trazer a equipe de campeões de mundo para a festa desmedida do futebol em Port-au-Prince no Haiti. Explodia a cidade toda na procissão interminável, no préstito e na boda sem-fim em que cada jogador não baixava dos braços dos fãs, nem descansava da arrebentação do foguetório. Aluimento, quase, dos muros na cidade esconsa, do Dédalo das ruas a sufocar, na pressa do encontro e da praça longínqua. Fomos lá, agora, às urgências urgentíssimas. Os pracinhas do general Heleno ganharam a gratidão popular limpando as ruas de uma sujeira quase fossilizada, numa geologia do lixo abancado às paredes, como verdadeiras estalagmites.

  • Calorias, spray e carnaval

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 04/02/2005

    O Carnaval está esquentando. A alegria de sempre vai para todas as bandas no prazer do divertir e brincar. Encherão nossos olhos as fantasias exuberantes e belas vestidas por nossas enxutas carnavalescas. Mas o maior sucesso mesmo são as peladas, escondendo em paetês suas bondades, como chamava o nosso Pero Vaz de Caminha.

  • Eleições no Iraque

    Diário do Comércio (São Paulo), em 04/02/2005

    Está instituído no espírito das massas, desta civilização de massas em que nos encontramos, que os chefes de Estado ou de governo devem ser eleitos. O povo quer votar.

  • Gargantas profundas

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 03/02/2005

    Em doze anos seguidos aqui neste espaço, nunca deixei de lembrar, a cada 3 de fevereiro, o Dia de São Brás, epíscopo e mártir, como informa o calendário religioso. Existem numerosos epíscopos e mártires dos quais não lembro nem a data nem os feitos.

  • Maquiagem prevista

    Diário do Comércio (São Paulo), em 03/02/2005

    Dizia Disraeli, primeiro-ministro da Rainha Vitória e autor da obra grandiosa que foi o Império Britânico, que há três tipos de mentira: a mentira simples, a mentira completa e a estatística. Não poderia ter acertado melhor no ponto que desejava atingir, para confirmar o que entendia por estatística.

  • O segredo irredutível da poesia

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 02/02/2005

    Na poesia de Manuel Bandeira, como na de qualquer poeta cuja obra comporte momentos de transição entre um e outro estágio instrumental, o recurso da dissolução rítmica encontra-se intimamente relacionado à técnica do verso livre, ou seja, à ''libertinagem'' (Advirta-se que esse conceito de dissolução rítmica não corresponde, como o pretende Adolfo Casais Monteiro em seu longo estudo sobre Manuel Bandeira, à supressão do ritmo, o que, em outras palavras, equivaleria, conforme didaticamente observa Emanuel de Moraes, à aceitação de ''sua tese da poesia sem ritmo nenhum, mais do que dissoluta, portanto''. O que se deve entender aqui por ''dissolução rítmica'' refere-se apenas à modulação do ritmo mediante uma ruptura dos esquemas métricos tradicionais). Ao analisar esses processos de fratura em O ritmo dissoluto, o próprio Bandeira o define como ''um livro de transição entre dois momentos'' de sua poesia, acrescentando ainda haver sido através dele que alcançou a ''completa liberdade de movimentos, liberdade de que cheguei a abusar no livro seguinte, a que por isso mesmo chamei libertinagem, torna-se assim muito claro em que sentido se deve interpretar essa ''libertinagem'', ou seja, enquanto lúcida e lírica licenciosidade poética. Em suma: ''libertinagem de temas, de matéria. Total liberdade. A liberdade que é a primeira condição para a libertinagem''.

  • Tempo dos gordos

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 02/02/2005

    O secretário de imprensa da Presidência da República, Fábio Kerche, mandou-me e-mail retificando notas que li na imprensa sobre o colete à prova de balas que Lula teria usado no Fórum de Porto Alegre.