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Artigos

  • Um filme por dia

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 20/11/2004

    Antônio Augusto Moniz Vianna, ou mais simplesmente Moniz Vianna, foi mestre, guru e, como hoje se diz, ícone de toda uma geração, não apenas em matéria de cinema mas de cultura em geral.

  • Uma justiça que não será cega

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 19/11/2004

    Quarta-feira, o Senado Federal prestou um grande serviço ao país. Votou a reforma do Judiciário, que, havia doze anos, com audiências públicas e conferências, se arrastava em meio a discussões apaixonadas e divergentes, mobilizando juízes e advogados, todos envolvidos na defesa dos seus pontos de vista.

  • Lessa, Lula, rumo Brasil

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 19/11/2004

    Nem tão de repente, Lula sofreu uma primeira vaia pública na terra de Collor. Descartou-a com o luxo de quem sabe que não é neste chão das Alagoas que se daria partida à irrupção, já pertinaz, de um dissenso efetivo à Presidência. Mas na tranqüilidade de sua reação, mostrou o quanto avançamos a todo pano na democracia profunda, que veio ao poder com o advento do partido diferente. Não estamos mais no perde-ganha imediato dos sucessos ou dos choques dos governos de elite de poder, seu prestígio, sua decadência. Entra em campo, sim, o esforço por este regime consensual de liberdades que começa por trazer o contraditório ao seio do poder; convive com facções contrárias - e estridentes - no seu bojo; mantém o confronto até que, à sua exaustão, se decante a força da decisão de governo de fato compartilhada.

  • O Instituto da Vida

    Diário do Comércio (São Paulo), em 19/11/2004

    Faleceu há dias em Paris o antigo diretor da Faculdade de Medicina, Maurice Maurois, que se tornou amplamente conhecido no exterior da França por ter criado o Instituto da Vida, com a finalidade de elevar a condição do ser humano, em todos os sentidos. Era um homem extremamente amável e cultivado, como há poucos. Conheci-o por costumar-se ele hospedar-se em vila (casa com jardim na França) de parentes, a uns duzentos metros da vila de minha mulher na Cote d'Azur.

  • Indenizações

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 18/11/2004

    O deputado José Genoino declarou ter desistido da indenização que havia postulado à Comissão de Anistia. Ficou sabendo que receberia R$ 60 mil, o que é pouco para quem lutou na guerrilha do Araguaia.

  • A geografia poética de Cecília Meireles

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 17/11/2004

    Há 40 anos morria Cecília Meireles. Num famoso verso definiu-se como ''pastora de nuvens'', temperamento propício ao fluido e ao etéreo, viajante perdida do porto de si própria. Daí, portanto, as sucessivas viagens que empreendeu - na tentativa de encontrar no outro, na aventura, a promessa de uma unidade impossível de localizar em si mesma. Dentre os tantos ''outros'' que acolheu em seus versos, destaca-se a cultura do Oriente (em particular, a indiana), que a fez criar um de seus mais belos - e menos conhecidos - livros: os Poemas escritos na Índia. Embora publicados apenas na década de 1960, trazem no subtítulo a menção ao ano de sua escrita: 1953. No ano passado, graças ao notável esforço e competência do ensaísta e tradutor Dilip Loundo, os poemas indianos de Cecília foram impressos em Nova Delhi, em antologia bilíngüe. Informou-me Loundo tratar-se da primeira coletânea de poeta brasileiro editada naquele país.

  • Chuva no molhado

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 17/11/2004

    Pode parecer simpática a idéia do governo de criar locais especiais e seguros para os dependentes de droga, evitando o risco de seringas contaminadas e outros perigos que cercam a "dependência" - inclusive prestando uma assistência médica adequada.

  • Polarização e anticlímax

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 17/11/2004

    As eleições municipais após o segundo turno viram-se devoradas por uma transleitura. Muito mais do que a contabilidade emergente do poder local, o que contou foi um primeiro posicionamento do eleitorado, saído da aura única da vitória petista em 2002. Misturam-se um sentimento inconsciente de revanchismo, ao lado de uma visão crítica do começo de performance do governo, procurando um pré-alinhamento para a nova disputa presidencial. Em boa parte, nos sentimentos que tomaram conta da opinião pública dominou de novo o Brasil de salão, seus vaticínios e seu cinismo das pseudo-sabedorias, de que não há nada a esperar de diferente, no governo da promessa de todos os abre-alas da transformação. É um mal-estar de anticlímax, que avulta sobre a incerteza das novas rinhas no Planalto, com o desponte de atores emergentes, acreditando na descida da ladeira do governo. Teria estourado a bolha da magia do PT, no entendimento dos adversários, atingindo o capital único da popularidade do presidente, à margem de qualquer juízo sobre a sua administração.

  • Nelson e a tragédia

    Tribuna da Imprensa (Rio de Janeiro), em 16/11/2004

    A façanha editorial do momento é o lançamento da obra teatral completa de Nelson Rodrigues feita pela Editora Nova Fronteira. Com os textos do trágico brasileiro em mãos, pode-se tentar uma análise do muito que significou e significa para a nossa cultura a presença entre nós de um autor com essa estranha e dilacerante força criadora. Desde que "Vestido de Noiva" subiu à cena em 28 de dezembro de 1943, no Teatro Municipal, tivemos todos a certeza de que o Brasil produzira, afinal, um gênio da literatura teatral.

  • O Ministro da Defesa

    Diário do Comércio (São Paulo), em 16/11/2004

    O presidente FHC não levou em consideração a tradição dos três ministérios (no Império e na primeira República dois), ao criar o Ministério da Defesa, unificando as pastas sob a presidência de um ministro da defesa, com o necessário conhecimento de causa dos usos e costumes, da disciplina e do esprit de corps das três armas. Nos artigos que escrevi acentuei o aspecto tradicional dos três ministérios, desde a fase imperial da nossa História, até a criação do Ministério da Aeronáutica, quando se fez imperioso dotar o país de uma arma aérea.

  • Queimando etapas

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 15/11/2004

    Preciso ir a Copacabana, tomo a direção do túnel velho. Passo pela Real Grandeza, olho as capelas do cemitério São João Batista. Enfadados, alguns homens espiam a rua, dando as costas para seus respectivos defuntos.

  • Degradação da língua portuguesa

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 15/11/2004

    Há sinais de degradação da língua portuguesa, hoje confusa e com limites imprecisos entre a norma culta e a linguagem popular, o que a torna mais difícil de apreensão. Ser moderno não é só se vestir como recomendam os filmes, revistas e programas de televisão, mas também falar algo que se parece com o inglês, hoje primeira língua de 500 milhões de pessoas. Não custa insistir na barbaridade que é o batismo profano de pontos comerciais na Barra da Tijuca, com nomes que nada têm a ver com a nossa cultura.

  • Vamos comemorar!

    O Globo (Rio de Janeiro), em 14/11/2004

    Não é para ficar reclamando outra vez, não, mas a verdade é que, de modo geral, não tenho sentido em torno uma grande disposição para comemorações. Há a notável e exuberante exceção do presidente, que quase sempre se mostra risonho, bem-disposto, com ar festeiro, de bem com o mundo e confiante no futuro. Razões pessoais bem sabemos que ele tem para isso, já que agiríamos do mesmo jeito, se estivéssemos todos com a vida tão garantidinha quanto a dele, além disso ornada por vantagens legal e naturalmente decorrentes da posição a que galgou, sem que sobejos méritos lhe possam ser negados. E tem razões de ordem cívica também porque, embora eu raramente saia, não me inclua no fechado time dos “bem-informados” e seja visto com paciente condescendência por meus colegas que sabem das coisas, já me garantiram que, na sua (dele) opinião, ele está fazendo um excelente governo, tão excelente que há pouco o levou, num justo arroubo de entusiasmo, a proclamar algo que não escutávamos desde os bons tempos: “Ninguém segura este país!” Carecem de fundamento, contudo, os rumores de que o “Ame-o ou deixe-o” vai voltar - até porque dizem que quem pôde já deixou.

  • Castañeda e a linhagem sagrada

    O Globo (Rio de Janeiro), em 14/11/2004

    CARLOS CASTAÑEDA FOI UM FILÓSOFO que teve grande importância para minha geração - e uma vez por ano faço questão de relembrá-lo nesta coluna. Por razões que não me compete julgar, terminou os seus dias fazendo algumas coisas que sempre condenou; mas todos nós temos nossas contradições, e o que fica na história de qualquer homem é o que ele procurou fazer de melhor. No caso de Castañeda, seus textos, alguns dos quais transcrevo (editados) abaixo, deixaram um legado que não pode ser esquecido:

  • Os Estados Unidos Bushianos

    O Globo (Rio de Janeiro), em 13/11/2004

    Oprimeiro disparo verbal de Bush triunfante não deixa dúvidas sobre a voracidade do propósito desses quatro anos, sem concessão, sobre o projeto do sacro império, referendado maciçamente nas urnas da América profunda. Sabe-se ungido para o que vem à frente, sem perder tempo inclusive nas mesuras com o perdedor. O “conservadorismo compassivo” passa à modelização do mundo, segundo os novos artigos de fé da democracia justaposta à cruzada antiterrorista. Entramos num “crê ou morre” do seu modelo de poder - enquanto não descansará, segundo o corão do Salão Oval, em transformar os Estados autoritários à sua imagem. Coube a Kerry, no canto do cisne, lembrar a senda aberta à reconciliação americana e que agora buscará em vão cicatrizar o racha. Desconhece Bush o desagrado da outra América.