
Os sapatos do coronel
Insisto na imagem que aprecio: uma borboleta bate as asas na Tailândia e um furacão destrói metade da Flórida e de Cuba. Nem sempre a causa é proporcional ao efeito. Citando esta filosofia de almanaque, entro no assunto.
Insisto na imagem que aprecio: uma borboleta bate as asas na Tailândia e um furacão destrói metade da Flórida e de Cuba. Nem sempre a causa é proporcional ao efeito. Citando esta filosofia de almanaque, entro no assunto.
Somos, já, os campeões do mundo, pela quinta vez, no futebol. A esses campeonatos podemos acrescentar outros. Por exemplo: temos uma Passionária em São Paulo, enraivecida por estar ao alcance de suas vistas a derrota no dia das bruxas, no halloween . E vamos com outros campeonatos, como o de uma democracia com muitas qualidades e muitos defeitos, pois a plantinha tenra de que falava Otávio Mangabeira continua raquítica, não crescendo forte e altiva como a queremos.
O mundo debruça-se sobre o desfecho da refrega Kerry-Bush. Mas a consciência da gravidade do dilema, no próprio país, vai só aos democratas, na tradição do comportamento político dos Estados Unidos. O eleitorado de quem já está na Casa Branca só se interessa em 30% pelo que se passa lá fora e acha que problemas de governo não devem perturbar as fortalezas domésticas. Mas tal quadro, por uma vez, se alterou sensivelmente: a guerra do Iraque virou o tópico crucial do debate e Bush logrou envolver pela ''civilização do medo'', o país a que oferece seu pulso firme para vencer todo novo espectro da queda das torres. São duas Américas a votar em opções diversas sobre o paradoxo de um superpoder, que paradoxalmente é visto, pelos republicanos, como permanentemente ameaçado. O armamento máximo não deixa o país menos frágil a um novo 11 de setembro, e o caminho da paz, na outra opção, passa por um desarme do terrorismo só logrável com o auxílio da Comunidade Internacional. Não há outra saída para vencer o preconceito de hostilidade entre as culturas, a que se volta a proposta Kerry. Mas sem iludir ninguém, quanto ao prazo desta erradicação de fundo, nem de como ela exigirá, de saída, um dispositivo militar inexorável de parte dos Estados Unidos e a sua decisão para comandá-lo.
Não é de hoje que se registra que o poeta é um pastor de almas. Por que não se pode afirmar o mesmo do professor? Só que este tem uma ação sistemática sobre o seu público cativo, que são os alunos, enquanto os vates operam de acordo com a sua inspiração - e para um público difuso, embora cada vez mais numeroso.
Estamos assistindo, graças a sra. Marta Suplicy, a invectivas contra a integridade da democracia, para fazer levar o seu vício à demagogia, de que aquele e esta se ocupou o velho Aristóteles. Mas a demagogia - a sra. Marta Suplicy não sabe - é uma faca de dois gumes - perdoem-me ao lugar comum -, pode virar-se contra seu autor e, no caso de uma eleição, levá-lo a perder votos preciosos, quando se está na rabeira da corrida para a conquista de um cargo.
A hipocrisia é condenada por todos, mas é nela que se baseia a sociedade humana, da qual todos são defensores, menos eu, que de mau grado pertenço a ela. A consideração pode parecer rabugenta, e o é, de fato. Mas como reagir à inspeção nuclear que uma comissão veio fazer no Brasil para ter certeza de que não estamos produzindo uma bomba atômica?
Ora, direis, ouvir estrelas... Desejo, contudo, lembrar-vos que as estrelas de Bilac têm uma presença da maior solidez na literatura brasileira e no imaginário nacional. E agora passam também a existir num romance-verdade (para usar uma expressão de Truman Capote) que é o livro de Ruy Castro, "Bilac vê estrelas". Reerguendo toda uma época de nossa literatura, e escolhendo Olavo Bilac e José do Patrocínio como personagens principais de seu enredo, desenvolve o autor uma narrativa de espionagem com tons surrealistas.
Li que a governadora do Estado do Rio de Janeiro vai dirigir uma carta ao governo inglês protestando contra o jornal The Independence pela reportagem sobre a cocaína e a criminalidade na cidade que governa, com seu marido e outros amigos e colaboradores. Tempo perdido, que poderia ser usado em outros assuntos. Se há um país no mundo que respeita a imprensa, esse país é a Inglaterra. É a própria pátria da liberdade de informação.
Se tinha dúvidas, elas acabaram. Sempre me considerei um ignorante, que nada sabia de nada, mas vez por outra, como ser humano sujeito aos mil acidentes da carne, tinha a veleidade de achar que não era bem assim, talvez soubesse alguma coisa, nada de importante, como o todo é maior do que a parte e quem parte leva saudade de alguém.
No 7º Congresso Brasileiro dos Profissionais de Enfermagem, evento realizado em Fortaleza, sob os auspícios do Cofen, discutimos o tema "O inefável poder do intelecto e capital humano da enfermagem: eis o caminho." Certamente, para o aperfeiçoamento do sistema, devemos conhecer os meandros da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/96) e as modificações que estão ocorrendo na educação profissional, seus desafios e possibilidades.A começar pela sensibilidade do presidente Lula, que assinou o Decreto nº 5.154, anulando ato discricionário e antipedagógico do governo passado. Volta a ser permitida a articulação do ensino técnico de nível médio com o ensino médio.
Ninguém vai negar que temos fartas razões para um certo nervosismo, uma certa ansiedade, uma certa vontade de que parem o planeta para descermos. Confusão demais, controvérsia demais, pressão demais, informação demais, medo demais, tudo demais. Outro dia li que nós, brasileiros, como em outros terrenos notáveis, nos destacamos pelo consumo de bolinhas para acalmar e dormir. Dispomos de grande acervo de médicos compreensivos, capazes de dar receitas de ansiolíticos e similares qual candidatos distribuindo santinhos, e existem aqui e ali farmácias mais camaradas, onde o pessoal se recusa a participar da palhaçada e vende a bola que sabe que acabará sendo vendida de qualquer forma. Para não falar nas bolinhas paraguaias, que também são consumidas. Tudo pode ser paraguaio e, no boteco, me garantem que o Viagra paraguaio, bem mais barato, vem tendo circulação cada vez mais intensa, até porque não é só coroa que toma, são praticamente todos os homens, tudo morrendo de medo das mulheres e portando o aterrador e traiçoeiríssimo HMLV (sigla em inglês de Human Male Limpness Virus - peça aí a um amigo para traduzir, se você não entendeu; eu tenho vergonha de falar nessas coisas, só falo se for em inglês, que é chique). Contam-me, aliás, com perdão da digressão, que outro dia, num boteco aqui do Leblon, ouviu-se a revoltada voz de um cavalheiro, gritando lá de dentro do banheiro:
EM TODOS OS SERVIÇOS E OS PRODUTOS que encontramos hoje no mercado há sempre a possibilidade de reclamar, escolher outra marca, ter sua queixa ouvida por algum órgão do governo. Mas existe uma coisa que está acima do bem e do mal: viagem de avião. No momento em que escrevo estas linhas, estou em um céu lindo, sendo bem atendido pelos comissários, fazendo uma viagem de 45 minutos entre Paris e Viena. Hoje, porém, resolvi cronometrar tudo. Saí de casa duas horas antes, porque é um vôo internacional. Precisei ficar, junto com outra centena de passageiros, 32 minutos na fila de checagem de segurança: a mulher encarregada estava conversando, e ai de alguém que ousasse dizer alguma coisa. Em seguida - isso jamais tinha acontecido, preciso reconhecer - os mais de cem passageiros ficaram como sardinha em lata em um ônibus, por 52 minutos, já que o avião tinha chegado tarde e não conseguira uma passarela livre.
Após reiterados estudos e debates, nos quais tomaram parte os nossos mais cultos e experientes juristas e advogados, com o pronunciamento sereno objetivo de nossos mais esclarecidos magistrados, creio que já foram determinadas as razões da tão malsinada crise da Justiça.
Mais uma vez, e como sempre, estou na contramão do consenso, um dos quais, em época eleitoral, é a importância do debate na TV entre os candidatos a cargos eletivos. Os marqueteiros e colunistas especializados acreditam que Kerry diante de Bush, ou Marta diante de Serra, consumidos pelos milhões de telespectadores que acumulam a função de eleitores, ganharão ou perderão de acordo com a performance diante das câmaras.
A semana termina cheia de notícias: os juros, na sua trajetória de gangorra do sobe-e-desce, depois de descerem, agora sobem; a Fórmula 1, que, para o meu gosto, é uma das coisas mais monótonas e chatas do mundo, faz sua última corrida do ano em Interlagos; Schumacher chega de mau humor e, questionado sobre "se gosta do Brasil", responde de cara feia: "Adoro o Brasil, mas prefiro quando posso ficar em paz no quarto". E um prefeito do interior de São Paulo, quando lhe cobram programas de cultura, responde convicto: "A cultura pode esperar, é algo que se pode definir como um pepino"; as eleições municipais chegam na reta final do segundo turno e as batidas cardíacas dos candidatos e aderentes aumentam com a chegada do dia D e com as pesquisas de opinião pública, que neste ano sofreram muitas contestações e mudanças de metodologia.