Portuguese English French German Italian Russian Spanish
Início > Artigos

Artigos

  • Deolindo Couto: médico e humanista

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 03/11/2004

    O homem de conhecimento sabe que o gênio solitário está fadado ao esquecimento e que, para perpetuá-lo, deve difundir o seu saber aos mais jovens, mantendo ao mesmo tempo acesa a chama da curiosidade permanente. Os jovens, ao buscar experiência, trazem consigo, na inquietude de sua mocidade, toda a beleza de um destino a cumprir. E é necessário disponibilidade para o companheirismo e para o trabalho em conjunto, como fatores estimulantes do verdadeiro espírito universitário, que se recicla nas indagações, dando aos mestres o privilégio da renovação nesse confronto diário.

  • O coreto eleitoral

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 03/11/2004

    Com a habitual ignorância dos fatos políticos, ouso comentar as eleições para prefeito do último domingo. Tudo bem. Acho que não houve surpresas. Em linhas gerais, as pesquisas do eleitorado foram confirmadas, com três pontos para mais ou para menos, conforme é de praxe.

  • Medo do crescimento

    Diário do comércio (São Paulo), em 03/11/2004

    Leio que o Banco Central tem medo do crescimento. O presidente do banco responsável pela moeda e o crédito, a inflação e, nas suas atribuições, pelo PIB, que é alcançado num regime de moeda estável e de inflação controlada. Está certo que o BC tema a inflação, mas seus dirigentes e o ministro da Fazenda estão de posse de todos os instrumentos necessários ao controle da bruxa maldita, que tanto nos fez sofrer há poucos anos.

  • Na linha de Erasmo

    Tribuna da Imprensa (Rio de Janeiro), em 02/11/2004

    Eram tempos de mudança, aqueles. Como os de agora, ou talvez mais. Num dos pedaços de terra mais baixos dos Países Baixos, Roterdam, nascia Erasmo. Ano, o de 1446, apenas seis, depois da morte do português Infante Dom Henrique. O período africano conseguido sob o impulso henriquino, havia chegado à Serra Leoa, de modo que, em 66, muita gente já percebia, em quase toda a Europa, que a época era de Descobertas.

  • Os bons ventos de São Fidélis

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 01/11/2004

    Quando chamado ao auditório do Colégio Estadual de São Fidélis, que funciona num antigo prédio da CNEC (saudades do professor Felipe Tiago Gomes), a primeira impressão foi de surpresa. Estava cheio de alunos e professores da região, por obra e graça da professora Fátima Panisset, coordenadora do Projeto de Incentivo à Leitura do Governo do Estado.Minha obrigação seria falar sobre o tema "Nós e a Poesia", mas antes haveria uma série de quadros culturais, incluindo a originalíssima peça "A Preta de Neve e os Sete Grandões", toda ela produzida na própria escola. Por artifício criado pelo professor de matemática, acabei virando um dos "grandões" da história. Assumi a função diante dos 300 assistentes com muita alegria. Nessas ocasiões, é melhor aderir ao espírito geral. Houve aplausos.

  • Decepção no day after

    Diário do Comércio (São Paulo), em 01/11/2004

    Jornalista, professor, autor de livros, acadêmico, e com a vida já na hora vespertina das sombras alongadas, saio da observação da campanha eleitoral profundamente decepcionado com a baixaria, a arrogância, a mentira despejada como água suja nas ondas de televisão e de rádio, com uma coragem de não defender a verdade, que me leva a julgar o regime com notas desprimorosas. Não cito nomes. Todos os conhecem, se ficaram diante dos aparelhos para ouvir ou ver.

  • Torcer errado

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 01/11/2004

    "Quero ver sangue!" Num filme dos anos 60, há uma luta de boxe e um dos assistentes, mamando um charuto apagado, dá esse grito em direção ao ringue. Não sei se foi para fazer a vontade do cara, um dos pugilistas de repente começa a sangrar no rosto. Com aquela luva que parece uma pata com elefantíase, o desgraçado tira o sangue dos olhos. Logo recebe outro soco e cai. O juiz conta até dez, levanta o braço do vencedor, a platéia urra de gozo.

  • O rinha zero vai dar certo

    O Globo (Rio de Janeiro), em 31/10/2004

    Ultimamente, como devem ter notado os pacientíssimos leitores que visitam este espaço, dei para me preocupar com os entrelinhistas, o pessoal que lê nas entrelinhas. Espero tratar-se de um surto passageiro, que vá embora depois do segundo turno eleitoral. O entrelinhismo, afinal, é uma postura filosófica ou metodológica arraigada em muita gente e, se quiser continuar a escrever e publicar, vou ter que conviver com ele o resto da vida. Mas hoje, particularmente, faço questão de deixar claro aos entrelinhistas que, além de não ter recebido oferta de suborno nenhuma, não posso ser acusado de defensor das brigas de galo e Itaparica está aí, para não me deixar mentir.

  • Canoa furada

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 30/10/2004

    Desvio de formação e gosto, tenho uma atração fatal: a de embarcar em canoas furadas. Detesto chutar cachorro atropelado e, se não dou razão aos crucificados, tenho simpatia e respeito por eles.

  • O terrorismo prostituído

    Jornal do Commercio (RJ), em 29/10/2004

    Os dois jornalistas franceses desaparecidos nas cercanias de Mossul foram presos por bandidos, literalmente, de beira de estrada, sabedores do preço pagável pelos invasores do Iraque, e países estrangeiros a eles assimilados, para recuperar os seus nacionais. À margem de bandeiras e avisos, toda carne forasteira é fisgável e oferecida à venda no leilão do horror pós-Saddam. Dias após, arrebentam manchetes idênticas sobre duas italianas capturadas.

  • Os republicanos à direita de Deus

    Folha de S. Paulo (SP), em 28/10/2004

    A quinzena antes da eleição americana trouxe o primeiro abalo real à crença de que Bush se reelegeria fatalmente. Era certeza quase mineral, diante do começo morno de Kerry e da desproporção dos poderes de fogo das máquinas eleitorais.

  • Os sapatos do coronel

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 28/10/2004

    Insisto na imagem que aprecio: uma borboleta bate as asas na Tailândia e um furacão destrói metade da Flórida e de Cuba. Nem sempre a causa é proporcional ao efeito. Citando esta filosofia de almanaque, entro no assunto.

  • Os nossos campeonatos

    Diário do Comércio (São Paulo), em 28/10/2004

    Somos, já, os campeões do mundo, pela quinta vez, no futebol. A esses campeonatos podemos acrescentar outros. Por exemplo: temos uma Passionária em São Paulo, enraivecida por estar ao alcance de suas vistas a derrota no dia das bruxas, no halloween . E vamos com outros campeonatos, como o de uma democracia com muitas qualidades e muitos defeitos, pois a plantinha tenra de que falava Otávio Mangabeira continua raquítica, não crescendo forte e altiva como a queremos.

  • O medo e a esperança

    Jornal do Brasil (RJ), em 27/10/2004

    O mundo debruça-se sobre o desfecho da refrega Kerry-Bush. Mas a consciência da gravidade do dilema, no próprio país, vai só aos democratas, na tradição do comportamento político dos Estados Unidos. O eleitorado de quem já está na Casa Branca só se interessa em 30% pelo que se passa lá fora e acha que problemas de governo não devem perturbar as fortalezas domésticas. Mas tal quadro, por uma vez, se alterou sensivelmente: a guerra do Iraque virou o tópico crucial do debate e Bush logrou envolver pela ''civilização do medo'', o país a que oferece seu pulso firme para vencer todo novo espectro da queda das torres. São duas Américas a votar em opções diversas sobre o paradoxo de um superpoder, que paradoxalmente é visto, pelos republicanos, como permanentemente ameaçado. O armamento máximo não deixa o país menos frágil a um novo 11 de setembro, e o caminho da paz, na outra opção, passa por um desarme do terrorismo só logrável com o auxílio da Comunidade Internacional. Não há outra saída para vencer o preconceito de hostilidade entre as culturas, a que se volta a proposta Kerry. Mas sem iludir ninguém, quanto ao prazo desta erradicação de fundo, nem de como ela exigirá, de saída, um dispositivo militar inexorável de parte dos Estados Unidos e a sua decisão para comandá-lo.