O fim do ano registrou, como um bordão já da cultura do medo, quase a mesma quota de mortes em Gaza ou Jerusalém, de explosões de homens-bomba em Bagdá ou Tikrit, e os massacres de sudaneses no Cairo. Um novo realismo, nas atuais proclamações do Papa Bento XVI, entrevê o quanto o próprio anúncio da esperança reclama ouvidos diferentes. Sobretudo, a consciência do que já é visto com descrédito, no clássico apelo ao desarme dos espíritos, diante do clamor de suspeita universal, inaugurado com o 11 de setembro e a queda das torres.A recém-terminada conferência da Comissão de Alto Nível da Aliança das Civilizações, da ONU, em Majorca, atentou profundamente a este problema, e ao modo pelo qual os discursos oficiais de nosso tempo sobre a volta à paz chocam-se com a expectativa dos movimentos sociais efetivos, e mesmo com o cinismo arraigado das novas gerações em todo o mundo. Ou, pior ainda, como notam os sociólogos europeus, com o inquietante neodireitismo que, no centro da Europa, começa a acenar às velhas reminiscências fascistas, frente ao caminho sem volta das hegemonias em nosso tempo.