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Artigos

  • Ser como um rio que flui

    "Um rio nunca passa duas vezes pelo mesmo lugar", diz um filósofo. "A vida é como um rio", diz outro filósofo, e chegamos à conclusão de que essa é a metáfora mais próxima do significado da vida. Por conseqüência, é bom lembrar durante todo o próximo ano:

  • Sorrir para a vida

    "A Organização Mundial da Saúde define saúde como 'o estado do mais completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de enfermidade'. Os veteranos da área costumam dizer que essa é, na realidade, a definição de felicidade.

  • O grande nojo

    Tive a impressão de que a mídia, sobretudo no segundo semestre do ano que passou, promoveu informalmente um estranho campeonato para saber quem ficou mais indignado, revoltado, enojado com a lambança que marcou a vida pública em geral, e o PT e o governo em particular.

  • Os livros devem ser mais barato'

    Sabemos que se lê pouco em nosso País. Menos de dois livros por habitante. Não se diga que a causa está no alto índice de analfabetos. Não é mais assim. Temos 16 milhões de analfabetos, número decrescente, embora seja altamente expressiva a quantidade de semi-alfabetizados.Entre as causas objetivas, podemos citar o alto preço dos livros. São caros, de modo geral. Outro fato é a ausência do gosto pela leitura desde cedo. Quando isso ocorre na idade adulta é tudo mais difícil. O fenômeno é o mesmo que acontece quando deixamos para aprender uma língua estrangeira moderna (francês, inglês ou espanhol) depois dos 18 anos. As inibições tornam a operação bem mais complicada.

  • Como se fosse a primeira vez

    EU QUERO ACREDITAR QUE VOU olhar este novo ano como se fosse a primeira vez em que 365 dias desfilam diante de meus olhos. Ver as pessoas que me cercam com surpresa e espanto, alegre por descobrir que estão ao meu lado dividindo algo chamado amor, muito falado, pouco entendido. Entrarei no primeiro ônibus que passar, sem perguntar em que direção está indo, e saltarei assim que olhar algo que me chame atenção. Passarei por um mendigo que me pedirá uma esmola. Talvez eu dê, talvez eu ache que irá gastar em bebida, e seguirei adiante - escutando seus insultos e entendendo que esta é sua forma de comunicar-se comigo. Passarei por alguém que está tentando destruir uma cabine telefônica. Talvez eu tente impedi-lo, talvez eu entenda que faz isso porque não tem ninguém com quem conversar do outro lado da linha, e desta maneira procura espantar sua solidão. Em cada um destes 365 dias eu olharei tudo e todos como se fosse a primeira vez - principalmente as pequenas coisas, com as quais já estou habituado e esqueci-me da magia que as cerca. As teclas do meu computador, por exemplo, que se movem com uma energia que eu não compreendo. O papel que aparece na tela, e que há muito tempo não se manifesta de maneira física, embora eu acredite que esteja escrevendo em uma folha branca, que é fácil corrigir apertando apenas uma tecla. Ao lado da tela do computador acumulam-se alguns papéis que não tenho paciência de colocar em ordem, mas se eu achar que escondem novidades, todas estas cartas, lembretes, recortes, recibos ganharão vida própria e terão histórias curiosas - do passado e do futuro - para me contar. Tantas coisas no mundo, tantos caminhos percorridos, tantas entradas e saídas na minha vida.

  • Bin Laden, urbi et orbi

    Ao cair do pano da eleição apocalíptica, Bin Laden interveio no intento de mudar a escala do jogo. Não foi mais um tira-teima, entre duas visões do império americano. O terrorista oferece um script para repartir o futuro. Não sem insinuar a diferença entre os contendores e oferecer ao liberal o beijo da morte de sua proposta, alçando-se ao perfil de estadista, no redefinir os rumos do mundo após o 11 de setembro. É a primeira vez, afinal, que se dirige ao Ocidente após a catástrofe. Assume-a, canonizando os seus autores diretos - Mohamed Atta e seus 18 companheiros - assentado na lógica do talião. Foi o castigo contra o castigo, que o levou a convencer-se da derrubada do World Trade Center como paga da destruição, cinco anos antes, de duas torres em Beirute, pelas forças de Israel com respaldo americano. Trata-se de lenta e definida forra, chegando-se à ruptura dos mundos, pela repetida agressão dos governos Bush. Do pai e do responsável pela maior máquina mortífera que pode temer o universo.Bin Laden arrogou-se a falar pelo "povo islâmico", tanto os países desta cultura estão sufocados por ditaduras militares ou monarquias, todas aliadas dos Estados Unidos na cruzada devastadora. Mas, atenção, o Ocidente não se confunde com esta empreitada, já que aí está a Suécia "que nunca será atacada" pelo Al-Qaeda, que também acredita na liberdade - proclama o terrorista - e se vê como um instrumento contra a injustiça no globo.

  • Antes da civilização do medo

    Diante da fatalidade de um novo quadriênio Bush toda uma inteligência mundial começa a desenhar cenários para o mundo da hegemonia, e cada vez menos, do multiculturalismo, como resguardo da diferença diante de uma "civilização do medo". Aceleraram-se desde o 11 de setembro as tentativas de alentar ainda o que seria quase, numa respiração boca a boca, o intento dos diálogos culturais. E, significativamente, foi o outro lado que pressentiu, de imediato, a ameaça de um universo unitário, a partir do apelo feito por Khatami, à conversa permanente e aprofundada entre os mundos partidos pela desconfiança radical, transformada em terrorismo.Mais se passa em câmera lenta o abalo das torres, mais a agressão do Al-Qaeda revela uma dramática purgação histórica de um inconsciente social gigantesco, que começa a perceber a expropriação da alma coletiva que veio de par com os benefícios do dito progresso. E quando o Presidente do Irã foi ao recado in extremis, dava-se conta de como o seu país chegara a convulsão exemplar, em que se confrontaram o regime dos Xás e do Ayatolá Khomeyni pelo corte da consciência oposta ao que as vantagens civilizatórias acarretavam como terraplanagem identitária nas demais culturas.

  • Bush bis e o racha da vez

    Não se esperava viesse a candidatura Kerry morrer na praia, como a de Dukakis - quem se lembra dele? - o outro bostoniano que competiu com o primeiro Bush. Não se vai aceitar, é claro, este fracasso antecipado, mantendo-se uma última esperança nas arquibancadas de todas as periferias mundiais. Mas o inconformismo, por uma vez, com a prevista fatalidade de um Bush bis, é de um racha a prazo indefinido na opinião pública americana, sem arnicas ou sinapismos para curar a cisão de um país, refeito e convenientemente desmomoriado para os próximos quatro anos. Nem poderemos alimentar uma mudança dramática nessas últimas semanas. O desconforto inevitável é o do descolorido da reação de Kerry à queda de sua superioridade nítida de ainda dois meses. Não respondeu, à hora, a brutal demolição de imagem feita pelos adversários. Permitiu se cristalizasse o estereótipo de um candidato indeciso nas tarefas públicas, consoante seus antecedentes no Senado. Mas a opinião pública não concebe que um presidente não pode refletir sem parar para decidir quando puder.

  • D. Hélder e a nossa maturidade profética

    As comemorações de cinco anos do falecimento de D. Hélder Câmara, em Recife, dão-nos a envergadura desta presença na mais rica prospectiva para a Igreja brasileira. De saída, pela própria força do grupo reunido em torno do Centro Dom Hélder recém criado, do Centro de Estudos da Igreja da América Latina, no âmbito da Universidade Federal de Pernambuco.

  • Kerry entre a alternativa e a hegemonia

    Na campanha eleitoral americana, pela primeira vez, em fins de agosto, as pesquisas mostram Kerry à frente de Bush, no que era, ainda, o seu bastião de fiabilidade eleitoral. O democrata, numa opção de 47 contra 46%, é o comandante-e-chefe que passam a preferir os americanos, para o conflito continuado com o Al-Qaeda e o desfecho decisivo na guerra do Iraque. O mais importante é que esta mudança está associada a uma convicção ainda mais contundente quanto ao futuro do país. A invasão de Bagdá e a derrubada de Saddam não tornaram os Estados Unidos mais seguro, pensam 52% da população contra só 38%, a apoiar o propósito bélico de Bush.Ao mesmo tempo, a opinião pública americana repudia a tentativa de um grupo de militares da extrema direita, financiada por milionário texano, de contestar o heroísmo de Kerry durante o conflito do Vietnam. O tiro saiu pela culatra, levando um dos maiores baluartes republicanos, John Mcaint a denunciar a manobra. E o próprio Bush a reforçar o respeito ao senador de Massachusetts, confirmando a página de herói que escreveu no conflito asiático.

  • Justiça, pacto social e cláusula pétrea

    A decisão do Supremo Tribunal, de 18 de agosto, sobre a contribuição dos inativos para a Previdência explicita de maneira exemplar o que seja a prática da democracia profunda pela cultura petista hoje no poder. Lance a lance, cada voto respondeu à interrogação cidadã, de até onde o imperativo de mudança se compadece com a garantia dos direitos adquiridos, e sua consagração no atual Estado de Direito no país. Ou melhor: em que termos a exigência da Justiça pode ir além do pacto social solene da Carta e, nele, das suas cláusulas pétreas, que não comportam sequer emendas constitucionais?

  • O escritor Constâncio Alves

    Quando me elegi para a Academia cuidei em ir ali, ver sala por sala, tentar ouvir vozes, sentir os odores, tudo que é necessário a um conhecimento a se completar. Chegando à Casa, corri os olhos pelo painel dos acadêmicos. Estava lá a imagem de Constâncio Alves (1862-1933), um dos primeiros ocupantes da Cadeira 26.

  • Vôte, arreda, urucubaca!

    Lula começa a sair da onda de desencanto dos 500 dias. Marta emparelha com Serra no tira-teima que parece que serviu como decisivo para o plebiscito antecipado do governo, e agora chega o número chave para vencer-se as areias movediças da estabilidade econômico-financeira assentada na jugular do mítico superávit primário. Teríamos saído da dita inserção passiva na globalização nesses atuais 2 bilhões de saldo nas transações correntes, o maior resultado já ocorrido desde 47, quando começam os dados do IBGE. O sucesso estrondoso do setor de exportações nos empresta um saldo comercial de 24% este ano, quando o comércio mundial cresceu 2,5%. E não é bolha, como insinuou o ex-ministro Sayad, mas resultado para ficar, num impulso ao resto do país que aumenta as vendas internas.