
Lula e a impaciência de salão
Em todos os dados do pró e contra do ano I do PT avulta um número crucial: a permanência da confiança em Lula, por 69% da população, não obstante o apoio ao governo flutuar em torno de 45%, no seu suporte. O mais estável dos capitais para os meses à frente é o da solidez da espera do país, a ter como artífice a exclusivíssima figura do presidente. Árbitro da esperança do outro Brasil, pela primeira vez trazido à crença na viabilidade da mudança. Não é nos “sem terra”, ou nas populações marginais, que se vê a rebeldia às promessas do PT. Mas nos donos do poder e sua impaciência de salão.
Verão de remarcações políticas
A vinda do PMDB ao poder define uma ambiciosa estratégia do Governo para assegurar uma vantagem qualitativa na conquista do Brasil das prefeituras. Permanece hoje um condomínio de base - naquele país profundo - entre o PFL e o PMDB. Neste verão o PT quer remarcar estes preços políticos. O poder municipal em 80% do seu conjunto na verdade se divide entre os chamados partidaços, sucessores tradicionais da Arena e do MDB, tal como estes são herdeiros do PSD e da UDN, do primeiro retorno à democracia no pós Estado Novo.
A onda petista e a impaciência disciplinada
A superlegitimidade da eleição de 27 de outubro acelerou de imediato a expectativa nacional pela guinada de poder. Define também uma pauta inescapável para a tentativa de pôr-se à obra uma sociedade em mudança. Descarta-se, por aí mesmo, toda a viabilidade de uma ação de ruptura, tangida pela impaciência acumulada numa "esquerda da esquerda", ou na dita explosão da "forra da esperança". Fora do sistema, a marginalidade foi à mobilização continuada no pressionar o regime visto como barreira ao acesso do outro Brasil.
O inevitável bom senso cívico
Não tivemos, desde a "cristianização" do candidato governamental contra Vargas, eleição mais rebelde aos donos do poder e ao Brasil de todo o sempre, que a do próximo 6 de outubro. Domina a cena a proeza decisiva do primeiro partido moderno do País, ensejando ao PT a vitória com o sucesso pertinaz, de disciplina, consulta às bases e, sobretudo, capacidade de aglutinação de Lula. O que mais ressalta é o profundo amadurecimento, mais que do candidato, da própria consciência política brasileira. Alastrou-se, nesses dias sísmicos do País diante da telinha e do noticiário jornalístico, derrubando, de vez, o comício das turbas despejadas dos ônibus-monstro e dos candidatos-pretexto, para o sucesso das duplas sertanejas.
O diplomata e o presidente
É o próprio presidente Fernando Henrique, de longe o mais preparado dos nossos governantes, trunfo internacional reconhecido da nossa ciência social, que derruba toda pretensão de que se deva exigir diploma superior para chegar ao Planalto. A frase veio peremptória, deitando água fria na ofensiva da propaganda tucana, fiel ao exemplo que FH quer dar ao país, de uma transição absolutamente democrática e que remate o seu papel no avanço das instituições brasileiras.
O inimigo, o outro e o terrorista
A segunda conferência "Latinidade e Herança Islâmica", organizada pela Academia da Latinidade e pela Universidade Candido Mendes, que vem de findar, no Rio de Janeiro, representou, na avaliação das organizações internacionais, o encontro de maior densidade, quanto à presença de scholars iranianos, no Ocidente. Contamos com especialistas em ciência política e relações internacionais das Universidades de Teerã, Behasti ou Azad, ao lado de peritos em línguas latinas, interessados em expandir, no país oriental, o conhecimento, especialmente, do espanhol.
A latinidade aberta ao Islão
A Universidade Candido Mendes realiza, nesses dias, o II Encontro Internacional, dedicado ao estudo da Herança Islâmica, nesta faixa do mundo ocidental, a Latinidade diretamente ligada à influência do Mediterrâneo. Na França, Espanha, Itália, România, até todo este conjunto da nossa América, onde, dentro de mais dez anos, seremos cerca de meio bilhão de herdeiros, no Ocidente, da cultura que hoje se vê como o lado humano da globalização.
Ampla e profunda reforma
Na medida em que avançam as investigações ora em curso no Congresso e no âmbito do Executivo, vão se avolumando as indicações de que são procedentes as denúncias que vêm sendo formuladas pelo deputado Roberto Jefferson. Nada seria mais nocivo para a respeitabilidade do Brasil e do governo do que o intento de neutralizar essas investigações, como buscam fazê-lo alguns insensatos líderes governistas. É imprescindível, como oportunamente afirmou o presidente Lula, e reiterou recentemente o senador Pedro Simon, levar essas investigações às suas últimas conseqüências, doa a quem doer.
JOrnalisticamenet incorreto
Jesus Cristo, nosso suposto Salvador, libertando-nos de um suposto pecado original, foi supostamente traído por Judas Iscariotes, que supostamente teria recebido 30 dinheiros pela suposta traição.
O denuncismo pego pela goela
Presidente do Senior Board do Conselho Internacional de Ciências Sociais - Unesco, Membro da Academia Brasileira de Letras e da Comissão de Justiça e Paz O período eleitoral de 2002, talvez pelo peso das novas opções abertas ao país, marca-se por uma presença nova do Judiciário no balizar um esforço de modernização do processo político brasileiro. Vimo-lo, na decisão crucial da verticalização, ao evitarem-se as coligações da bacia das almas, e responder-se a uma visão nacional dos partidos, na coerência do que proponham aos eleitores. O vai e vem e das reorganizações de chapas dos últimos dias mostra o repto que o chamado Acórdão Jobim impôs aos velhos arreglos, todos apoiados nas políticas de clã, e no voto familístico, que continua a rachar o núcleo da política municipal brasileira. O retalho de cada facção local emenda-se num aprumo único, ou se anula numa soma algébrica contraditória.
O risco Brasil e a parábola Argentina
Todo o fantasma de especulação descido sobre o perigo de um ganho das oposições, a partir dos pregoeiros internacionais, conturba as opções de fundo, pedidas pela eleição, forçando-nos a um clima de salvação pública, e à troca de continuidade do que aí está pelo seu estrito e crasso continuísmo. É contra tal regressão que se insurge o próprio discurso, finalmente instituído, da candidatura Serra, no sufrágio explícito, e no contorno que lhe deu a palavra de FHC. Perdemos a nossa visão nacional no peso e nos jogos efetivos da globalização.
Urnas do óbvio, não da mesmice
Vamos cada vez mais às urnas, sob dois comandos. Rege as nossas preferências a absoluta definição de pesquisas entregando-nos à fatalidade dos jogos já feitos por antecipação. Em princípio ganhará quem já está na frente, e é por estes índices que se organizam as chapas, formam-se as coalizões e desbanca-se toda a veleidade de candidatura do "bolso do colete", ou de maiorias silenciosas, correndo por fora dos boletins da preferência, semana por semana, demonstrada previamente pelo eleitorado. Torna-se um anacronismo patético, um não se acreditar nesses números entrados de vez no círculo vicioso dos próximos resultados eleitorais: vota-se engrossando o que, já por antecipação, fizeram dos ibopes a voz das parcas e o recorte inevitável do futuro.
E agora?
Ainda há muito a apurar nessa espantosa trama de ilicitudes e corrupção em que mergulharam o PT, seus aliados parlamentares e o governo Lula, com abundantes respingos sobre outros partidos. É imprescindível que se dê acelerada continuação aos inquéritos em curso para que se chegue a uma satisfatória conclusão a respeito de tudo o que ocorreu, com a devida responsabilização legal dos culpados e, por outro lado, para que terminem essas apurações o mais rapidamente possível, de sorte a que o país não fique, indefinidamente, por elas paralisado.
Variações sobre o capitalismo
Desde quando se deflagrou a competição entre as ideologias - tomada esta palavra para indicar as teorias que procuram explicar o processo de desenvolvimento das idéias políticas e as atividades econômicas - o que desde logo impressiona é a mutação contínua delas, em contraste manifesta com a continuidade do capitalismo e da chamada ideologia capitalista.Não creio que o capitalismo tenha sido o mesmo, desde quando surgiu na Época Moderna, não sofrendo alterações através dos séculos, mas o que nele se mantém intocável é a sua estrutura como um fato, ou uma ordenação factual, ou seja, como um polo de referência dos seus demais componentes.