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Artigos

  • A estátua e o gesto

    RIO DE JANEIRO - Não chega a ser um objeto de culto, não pertence a nenhuma religião específica, embora tenha o visual e o nome do fundador de uma delas. Na verdade, é um bloco de cimento rude revestido de pequenas escamas, como as naves espaciais. Um gigante de muitos metros de altura, com os braços abertos, incansavelmente abertos apesar do gesto, não lembra uma cruz, mas um abraço.

  • História de uma luta

    Não deixa de ser a história de um povo que Elisa Lispector conta em seu livro "No exílio". Escritora que foi a irmã mais velha de Clarice Lispector, deixou uma obra diferente, mais ligada à luta do povo e da tradição judaicas pela sua permanência no mundo. Ao chegar a família Lispector ao Brasil, tinha Elisa 9 anos, a irmã do meio, Ethel, 2, e a caçula, Clarice Lispector, dois meses. Foi, assim, Clarice a única a entrar em contato com a língua portuguesa antes do estudo de qualquer outro idioma.

  • O Senado Federal

    Está se tornando enjoativa a leitura das notícias emanadas no Senado Federal. A culpa é de um só membro do Senado. Tenho dito nesta coluna, mais de uma vez, que o Senado Federal foi a cúpula da representação política democrática do Brasil. Salientou-a o querido mestre Afonso de Taunay em seu livro O Senado do Império , cujas páginas não foram mais reproduzidas, a não ser - ainda na Primeira República - por prevalecerem nos seus quadros os egressos do antigo regime. Hoje o Senado é outro, e já se fez amolecar, como estamos vendo nos episódios Renan e Roriz.

  • A Copa, de vez, sem deuses

    Os melhores cálculos retificam que mais de 1 bilhão de pessoas, coladas às televisões ou às telas públicas, presenciaram o desfecho da Copa do Mundo. Jogaram os países com a sua auto-estima, diante das surpresas em campo, nunca a por tanto à tona o brio das nações que entravam no gramado. Os finalistas provaram na carne o quanto as equipes podiam mudar até a visão política dos governos nas suas crises imediatas. O mau desempenho inicial do time de Domenech viu-se como metáfora da crise do Ministro Villepin, mas o país saiu do marasmo cada vez mais ao se referir à “equipe de France” e ao desempenho extraordinário da sua segunda fase. A Itália esqueceu o impasse das maiorias milimétricas do seu governo e o sucesso final é de uma retomada única de confiança no futuro.

  • Torcedor e candidato

    Este atravessar junho-julho tem sido um tempo de sofrimento. Para o povo brasileiro, a provação de ver a seleção de ouro tornar-se pó sem fazer uma partida que pudesse lembrar de leve o brilhante futebol brasileiro, que encantava a todos nós e fez fama e escola pelo mundo inteiro. Os "experts" -e eu não sou nem de leve um- dizem que tínhamos excelentes jogadores, mas que não tínhamos equipe. Para mim, é um paradoxo, mas, para os entendidos, faz sentido. Até torcedor sou contido e, às vezes, relapso em assistir às partidas de maior impacto.Mas ao nosso sofrimento juntou-se o de espanhóis, alemães e portugueses, para não estender a lista -restando a perspectiva da coroa final da glória a França e Itália. Ao vencedor, repitamos Machado de Assis, as batatas.

  • O beijo dos Mindlin

    Naquela tarde, José Mindlin fora consagrado por uma votação unânime para a cadeira ocupada anteriormente por Josué Montello na Academia Brasileira de Letras. Tradicionalmente, como sempre acontece após as eleições, ele estava convidando os seus confrades para comemorar a vitória e a perenidade acadêmicas.

  • Uma família

    A contribuição da presença, no Brasil, de imigrantes da Rússia, da Polônia e outras regiões da Europa de população predominantemente judaica, foi de tal maneira que nos é possível hoje termos toda uma bibliografia sobre eles e seus descendentes em vários setores da vida brasileira. São brasileiros como Clarice Lispector, como os Bloch (Adolpho e Pedro), como os Niskier (Arnaldo, Odilon e Celso), como os Scliar (Moacyr e Carlos), como os Sauer e como tantos outros que nos ajudaram a criar o Brasil de hoje.

  • Incentivo

    Um determinado mosteiro atravessava tempos difíceis. Ninguém queria ser noviço. Os antigos monges tinham morrido. Apenas cinco deles ficaram no imenso edifício. Desolados, procuraram um sábio e lhe contaram suas dificuldades. “Que pena”, respondeu o sábio. “Porque um de vocês está destinado a ser santo”. Os monges voltaram espantados. Seria aquele irmão que sempre ajudava nas dificuldades o tal santo? Seria o outro, que rezava sem parar? Os monges passaram a se comportar da melhor maneira possível. Aos poucos, a gente da cidade começou a notar o entusiasmo e a devoção daqueles velhos. Um jovem pediu para acompanhá-los. Outros fizeram o mesmo. E, graças ao comentário do sábio, o mosteiro recuperou a dignidade perdida.

  • O exemplo de JK

    Ainda acho que a provável reeleição de Lula, já no primeiro turno, se deva mais à desorientação ou fraqueza dos demais candidatos. Falta-lhes uma idéia básica e aglutinadora, um programa de metas, como o de JK quando eleito, em 1956. Reuniu equipe de técnicos, elaborou um roteiro que sacudiria o Brasil e cujos resultados até hoje desfrutamos.

  • Relendo Machado de Assis

    As versões dadas ao narrador e também protagonista das Memórias Póstumas de Brás Cubas são várias e chegam a desnortear o leitor dessa obra inesgotável de Machado de Assis. Três versões, pelo menos, vêm mostrando notável capacidade de resistência. Tento retomá-las na expectativa de perceber até onde poderiam captar aspectos significativos de um dos romances mais originais de nossa literatura.

  • O caminho da santidade

    O conceito de santidade ocupa um lugar definido no modo como são julgados os representantes da raça humana que hajam conseguido abandonar o natural egoísmo que nos cerca a todos os que da terra viemos e a ela voltaremos. E o sentimento geral de devoção que é a eles dedicado faz parte da história de cada recanto do mundo habitável. Os santos de cada região são lembrados, reverenciados, suas histórias são contadas e repetidas, de tal modo que uma estatística aponta, para São Francisco de Assis, por exemplo, um número considerável de milhões de livros, orações, lembranças, igrejas que, nas mais variadas partes da terra, lembram sua presença e sua poeticamente santa existência. 

  • Vida e memória em ação

    Romances, poemas, ensaios são feitos com palavras. E estas, as palavras, descansam ou se agitam na memória. Quando se diz que a memória é a base de qualquer história - ou poesia, ou depoimento, ou análise, ou previsão, ou prédica, ou declaração de amor - é porque na palavra repousa tudo o que o tempo colheu e guardou. O passado como que espera na memória pela hora de sua ressurreição. Daí o poder dizer-se que todo livro é um produto da memória, seja qual for sua classificação técnica do ponto de vista literário.

  • Um surrealista brasileiro

    Nesta vida agitada de ler livros e mais livros, principalmente brasileiros, dos que possam elevar nossa literatura a nível mais alto - e a nós mesmos, como leitores, a um plano maior de entendimento - encontramos de vez em quando obras que abrem caminhos.