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Artigos

  • Hegemonia e civilização do medo

    Realizou-se na semana passada em Alexandria conferência de pensadores e líderes voltados às presentes tensões do diálogo das civilizações, por iniciativa da Academia da Latinidade. Difícil encontrar-se lugar mais simbólico que o da reunião, na Biblioteca quase mitológica para o encontro entre cabeças do Ocidente e do mundo islâmico a enfrentar a ruptura de pontes do pós 11 de setembro. Todo o debate se desenvolveu sobre o tema da hegemonia e da civilização do medo, tônica que Alain Touraine pôde arrematar pela pergunta: o crescente pavor de agora não coloca em perigo de morte o próprio Ocidente?

  • Não higienizemos o futuro

    A Conferência de Alexandria ora em seu remate está gritando a fome de esclarecimento e de reciprocidade de perspectivas, a vencer a civilização do medo, e a depender do trabalho do intelectual à frente do seu tempo. Foram convidadas pela Academia da Latinidade personalidades ligadas ao nervo do pensamento contemporâneo, marcado pela reflexão do pós-moderno; pelo debate, no seio mesmo da hermenêutica islâmica, do que seja o seu horizonte de diálogo; pela paralisia do próprio centro do mundo ocidental, preso à ambigüidade, entre a arrogância e o receio, decorrente da vulneração, pela primeira vez, do próprio “santo dos santos” do território americano, pela catástrofe das torres gêmeas.

  • A elegância de Lula

    Na sua elegância habitual, mas suas boas maneiras pedagógicas, o presidente Luís Ignácio da Silva, por alcunha o Lula, declarou à imprensa que os juros sobem porque os brasileiros não levantam o traseiro da cadeira.

  • Vieira Coelho, um Diógenes Brasileiro

    No mesmo ano em que celebramos duas décadas da morte de Alceu Amoroso Lima - o nosso leigo canônico - perdemos, a 8 de dezembro último, José Vieira Coelho, seu sucessor imediato na presidência da Ação Católica Brasileira nos idos do meio século e do começo dessa interrogação pela Igreja no seio do seu tempo que levaria ao Vaticano II. Paraibano, sucedia ao carioca cosmopolita, ex-aluno de Bérgson, e aberto ao diálogo internacional, a partir da experiência francesa.

  • Os terríveis simplificadores

    Creio que foi o historiador Jacob Burckhardt que disse, no final do século 19, que o século seguinte seria o dos "terríveis simplificadores". A profecia de Burckardt se realizou. Os dois principais simplificadores do século 20 chamaram-se Adolf Hitler e Josef Stálin. Ambos simplificaram a história, reduzindo-a a um confronto maniqueísta entre o bem e o mal, e o resultado foi a produção em massa de seres humanos radicalmente simplificados, convertidos em cinzas e ossadas. Os simplificadores não desapareceram no século 21. Como no passado, eles operam por meio do que poderíamos chamar de a distorção holística, a tendência a ver o todo como um conjunto indiferenciado, sem perceber que qualquer totalidade é tensa, que qualquer harmonia é aparente, que todo conjunto é fraturado por forças contraditórias. É preciso opor a esses simplificadores o que [o filósofo francês] Edgar Morin chama de "pensamento complexo", que tem entre suas características a de evitar a formação dos falsos universais, das generalizações espúrias. Os simplificadores de hoje atuam em várias frentes, entre as quais duas são especialmente importantes: a relação com os Estados Unidos e a relação com Israel.

  • Nosso sucesso, nossa solidão externa

    Todo o prurido, aqui, nestes dias, com o deslanche das reformas, só contrasta com os elogios lá fora, que Lula vai colher na Europa. Apenas começa o desfrute, por um Governo consciente, da nova força desta imagem, e de como pode fazê-la pesar, no que seja a nossa originalidade como possível alternativa ao neoliberalismo exausto. Avoluma-se a ânsia de classificar a novidade.

  • Oriente Médio: Lula lá

    Lula marca agora no Oriente Médio o fio natural de desdobramento desta inédita presença exterior do Brasil. Sistemática, conseqüente, e disposta a encher o palco desta nossa nova visibilidade. Chega à Beirute dias após o reconhecimento, pela Time, desta liderança emergente do Brasil que não se quer mais ver na prisão sob palavra do Mercosul. Cancún foi o começo do arranco a mostrar o quanto a estabilização foi tão só o cacife da nova credibilidade internacional do governo que começa a falar grosso, no avanço das reformas internas, e lá fora pela rebeldia aos rótulos de periferias, ou terceiro-mundismo.

  • Entre Atocha e o Mar Morto

    O atentado da estação de Atocha trouxe à mídia mundial o semblante da Espanha toda; olhares certeiros, em excesso, semblante por semblante, desses oito milhões que foram às ruas, em nada massa nem sombra, perfis acutilados, na vigília que começava a mudar em horas a história de seu país. É quase inédito este lance de nossos dias, ajudado pelas vésperas do voto, numa alteração de cabeça do povo, assestada muito para além de uma mera reprimenda, ou de um desconforto passageiro do eleitorado. O governo Aznar precipitava-se num poço sem fundo, frente às certezas e tremeluzes da vitória certa, até a quinta-feira das explosões.

  • Ruína moral e dever histórico

    A quem importa, de saída, o escândalo Waldomiro? Na verdade, 47% do País, segundo os jornais, nem tomaram conhecimento, e 26% reconheceram estar mal informados, mesmo quando quer um afastamento de Dirceu. O escândalo importa a 26%, de todo o Brasil de sempre. Há todo o Brasil de sempre, entranhado ainda num sistema e numa estrutura de que a corrupção é a segunda natureza. Não será o último, o auxiliar pestiferado, peça de uma engrenagem clássica do subdesenvolvimento que privatiza a função pública; faz do cargo a oportunidade que a vida econômica lhe negou, da passagem pelo poder, a condição de enriquecimento instantâneo dos ditos espertos.

  • Uma desnecessária usura do poder

    Como o Governo Lula responde ao “a que veio”, em tempos e seqüências tão distintas das expectativas do Brasil estabelecido? O primeiro ano de mandato transformou os aliados eleitorais do PT em sócios efetivos de um programa de poder: deu a partida nas reformas ditas de base como índice de modernização institucional do País; diferenciou o caminho da mudança à margem dos purismos ideológicos e dobrou a sua facção radical; inaugurou uma política externa de novas alianças, por fora dos denominadores tradicionais das periferias e de seu petitório clássico.

  • Esperança selvagem

    O quadro das expectativas do governo Lula enfrenta, com a crise Waldomiro, risco muito diverso da clássica decepção com mais uma equipe do Planalto que não escape ao ferrete da corrupção. Um governo da mudança e intrinsecamente disposto à transformação social é também o dos olhos de ver a realidade de onde parte; e do que seja a estrutura social em que se enraíza.

  • O PT, velha e nova esquerda

    O que resultou, de fato, da reunião de São Paulo, quando, pela primeira vez, abrigamos na terra de Lula, e do novo símbolo da mudança social o encontro da Internacional Socialista? E para dizer dos outros caminhos do mundo, assediado pela hegemonia do mercado global? Foi talvez um alerta aos cuidados, senão a novas guinadas, o não se ter entoado o hino lendário da entidade durante a enorme reunião. Estaria ou não, aí um sinal de que é outra, agora, a clarinada de fundo, para formular a alternativa ao universo unipolar em que mergulhamos?