
Um brasileiro
Não podia deixar de registrar o lançamento de "Ary, um brasileiro", CD gravado por ocasião do show homônimo em comemoração ao primeiro centenário de nascimento do autor de "Camisa amarela".
Não podia deixar de registrar o lançamento de "Ary, um brasileiro", CD gravado por ocasião do show homônimo em comemoração ao primeiro centenário de nascimento do autor de "Camisa amarela".
A Semana de Arte Moderna tem sido envolvida em permanente clima de paixão. De sua prosa e de seus versos, uns bons, outros sofríveis, ficaram poucas amostras. Na sua origem, ela teve, ao que parece, uma finalidade: a de sacudir piadas ferinas, poemas caóticos, discursos mal escritos e o torpor provinciano de uma pequena elite econômica da cidade de São Paulo, então com cerca de 500 mil habitantes.
Semana passada, comentou-se a decisão de abrandar as penas aplicadas aos crimes hediondos. Em princípio, qualquer crime é hediondo, desde o marido que esbofeteia a mulher porque não fez o feijão do jeito que ele gosta até o crápula que mata e come criancinhas depois de violentá-las.
É uma estatística preciosa o tão falado Risco-Brasil. É a estatística que orienta os investidores de que tanto carecemos e de quem tanto gostamos, pois os investimentos concorrem para o nosso desenvolvimento.
O intelectual vem perdendo audiência e credibilidade. Sua cotação na Bolsa de Valores, e até na dos "amores", nunca foi tão baixa
Não chegava a ser bonita, a voz não era lá essas coisas, o repertório tinha altos e baixos, depois de certo tempo mais baixos do que altos. Como artista de cinema, aceitou a caricatura que bolaram para ela, com uma ou outra exceção, como aquela esplêndida Fifi que fez no pior filme de Groucho Marx ("Copacabana") e um dos piores de toda a cinematografia mundial.
É difícil fugir a um tema quando ele se impõe avassalador. Pensei em escrever sobre flores ou sobre a Bolívia e seu labirinto. Logo 2006 chegou à minha frente e não tive como afastá-lo.
Tempo de fazer retrospectivas do ano que passou e nada demais que eu faça a minha. Desconfio das demais, são óbvias e repetitivas, mas é da natureza e função de qualquer exame sobre o passado recente -tão recente que ainda nem passou realmente, como o caso do "mensalão" e as dúvidas do presidente da República sobre se vai ou se fica na sucessão de si mesmo.
Acabei o ano de 2004 com a terrível morte de minha esposa, depois do sofrimento de anos. Foi o período triste de minha vida. Entrei no ano de 2005 sem esperança, mas reconheço que o ser humano não é somente aquele que ri, aquele que vive de ilusão. Como cantou o poeta, "só a leve esperança em toda a vida disfarça a pena de viver, de mais nada".
Estou lendo os relatos do médico psiquiátrico que cuidou dos vinte e tantos réus no Tribunal de Nuremberg logo após a rendição da Alemanha, em 1945. Não há novidades em seus textos, o principal já era sabido, foi julgado e devidamente condenado. Nos anos seguintes, outros criminosos de guerra foram presos em diferentes partes do mundo e disseram a mesma coisa: cumpriam ordens e nada sabiam do massacre de 6 milhões de pessoas.
A conceituada revista Le Point , editada em Paris, deu sua capa, na edição ainda em circulação, para esta questão desafiadora: "Deus, Ciência e Universo".
Pessoal mais comprometido com o governo insiste em declarar que até agora não surgiram provas definitivas sobre o "mensalão", considerando o parecer do relator da CPI dos Correios precipitado e até mesmo leviano.
Às vésperas das rabanadas de Natal o Congresso nos garantiu a digestão esperada da crise pelo grande acordão. Nada mais, nada menos do que o deputado Romeu Queiroz, de alcance estrondoso no valerioduto - nesses seus R$ 350 mil - sai ileso de qualquer castigo. Tutta bona gente, que o parlamentar é o amigão de todos, gente boa e gente fina, e não passa pela cabeça impor-lhe o desagrado da expulsão do paraíso. Vá o ano em paz, e por aí mesmo assegure esse as boas festas dos companheiros vistos a caminho do cadafalso, ainda há um mês. Como baixar-se o cutelo sobre os pescoços menos óbvios já que a acusação é a mesma, só que muitas vezes em ganho de trocados e não da lauta soma, pela qual o Conselho de Ética pretendeu tornar irretorquível o bater do martelo condenatório.
A complexidade do Brasil não lhe nega a unidade em que língua e religião reforçam o tecido do país. Assim, a palavra Nordeste vinca seu perfil numa identidade forte e, por vezes, fagueira, a nos mostrar um Brasil plantado no solo, onde é marcante a presença de um humanismo próprio, como a dizer que os avanços da tecnologia não nasceram para desmentir o que há de humano no homem. A poeira das caatingas do solo nordestino nos fala ao imaginário e à consciência de que a realidade jamais se cristaliza, mas desliza nas conversas ao pé do ouvido. É certo que o folclore nos dá conta das tradições que por lá campeiam, mas tudo feito de leveza e de comunicação. O ruído das vozes cantantes, as cantigas improvisadas, as danças regionais, as manifestações religiosas estão a revelar uma inegável especificidade.
Visitei, há alguns anos, nos arredores de Viena, o pequeno sanatório em que Franz Kafka morreu. A casa é hoje um museu dedicado ao escritor, com a cama em que dormiu, ou não, suas últimas semanas de vida.