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Artigos

  • A moça e a viagem

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 09/10/2004

    Não faz tanto tempo assim. A moça me telefonou, convidou-me para almoçar numa cantina do Leme, disse que o assunto era urgente e importante. Como morava perto, fui ao almoço e me surpreendi: a moça existia mesmo, estava bem vestida e era muito, muito bonita.

  • Quem é o pai da criança

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 08/10/2004

    Os jornais noticiam a morte do cientista Maurice Wilkins, um dos envolvidos na descoberta do DNA e Prêmio Nobel de Medicina de 1962.

  • Direito da direita

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 07/10/2004

    A polarização entre o PT e o PSDB, indicada pelas eleições do último domingo, desmente o princípio básico da democracia, ou seja, que o poder emana do povo. A expressão da vontade popular, que elege seus dirigentes mais próximos, deveria estabelecer a cadeia do mando público a partir dos vereadores e prefeitos, uma vez que, antes de habitar um país ou um Estado, todos habitamos uma cidade.

  • A admiração do tirano

    Diário Comércio (São Paulo), em 06/10/2004

    Uma fração, a meu ver pequena, da juventude de nossos dias, pretende ver nos governos fortes, ou ditatoriais, a solução para as crises políticas, os parlamentos integrados por membros corruptos, por clientes fisiológicos dos aplicadores de propinismo, em benefício de negócios escusos e outras finalidades inconfessáveis. Esse desejo, que é de um número não apurado por pesquisas, está se acentuando, refletindo no prestígio de Lula, que já manifestou sua propensão para os governos fortes, quando elogiou o presidente do Gabão, não se sabe se por piada ou seriamente.

  • A natureza e o trabalho

    Jornal do Brasil (Rio de Janeiro), em 06/10/2004

    O primeiro brado verdadeiramente ecológico lançado no Brasil não aconteceu por acaso. Devemo-lo ao maior estudioso de problemas brasileiros que, tampouco por acaso, tem livro chamado O problema nacional brasileiro. É dele, Alberto Torres, o ensaio As fontes da vida no Brasil, cuja primeira edição é de 1915. Não pensem os que não o leram tratar-se de referência, em frase ou parágrafo, a uma defesa e conservação da natureza, feita en passant, para ilustrar um argumento qualquer. Não. O trabalho de Alberto Torres é, ao longo de 31 páginas, um estudo sobre as duas fontes da vida no Brasil, respectivamente no corpo e no espírito de seus habitantes: a natureza e o trabalho.

  • Juízo Final

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 06/10/2004

    Deveria estar comentando as eleições do domingo passado, conforme pedem alguns leitores. Mas sou retardado, como dizia meu pai. Deu-se que, em remoto tempo, ele foi fazer uns consertos em casa, subiu numa escada dessas que abrem e fecham, a escada perdeu o prumo e, para não cair, ele se segurou precariamente numa saliência da parede e gritou por mim, pedindo socorro.

  • Lêdo Ivo: o ser e o som

    Tribuna da Imprensa (Rio de Janeiro), em 05/10/2004

    Aceite-se, por base, ser ele o grande poeta brasileiro de nosso tempo. Na linha de outro alagoano, Jorge de Lima, alcançou Lêdo Ivo o ápice do fazer poesia nesta parte do mundo. Ao completar ele agora os 80 anos de sua idade, inaugura a Academia Brasileira de Letras uma exposição em sua honra e sai, pela Topbooks/Braskem, um volume de 1.099 páginas com sua poesia completa.

  • O prato de lentilhas

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 05/10/2004

    "Metade das empresas consultadas no Brasil, em pesquisa do Banco Mundial (Bird), informou haver pago propinas a funcionários de governo e 67,2% avaliaram a corrupção como obstáculo importante à atividade econômica. A confissão do crime por 51% das empresas pode ser a grande novidade, mas outros problemas têm maior destaque na lista das preocupações. Insegurança quanto às políticas, por 75,9%, e condições de crédito, por 71,7%."

  • Sobre história constitucional

    Diário do Comércio (São Paulo), em 05/10/2004

    Dentre as causas das sucessivas e nunca resolvidas crises institucionais de que sofre o Brasil destaco a Constituição. É fácil fazer uma análise, ainda que superficial, das Constituições que tivemos, desde a primeira, republicana, a de 1891. Rui Barbosa - vem nas suas Obras Completas - chamou a si a responsabilidade pela Constituição. Foi grande, um portento intelectual, um semideus para milhões de brasileiros, quem preparou a primeira Constituição. O voto era descoberto. Rui não acreditava, provavelmente, na perfídia humana, nas qualidades negativas de quem disputa um cargo de mandato e quer desfrutar o poder.

  • Salas populares de cinema

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), em 04/10/2004

    A partir de um registro quase inacreditável, o Governo do Rio de Janeiro tem criado diversas salas populares de cinema. Em seu discurso de inauguração, Rosinha Garotinho repete invariavelmente o dado aterrador: dos 92 municípios do Rio de Janeiro, somente 23 têm um cinema regular. Esse dado está sendo modificado pelas ações da Secretaria de Estado de Cultura, que já criou diversas salas populares, utilizando a modernidade do DVD, em municípios como Belford Roxo, Meriti, Japeri, Carapebus, Mesquita, além de outros dois em Mangueira e Jacarezinho.

  • Bom domingo

    O Globo (Rio de Janeiro), em 03/10/2004

    É hoje. Não sei quanto a vocês, mas já cumpri o dever. Acordo cedo, sou ansioso e, possivelmente, terei aparecido em minha seção até antes dos mesários. E espero que ninguém esteja me lendo na fila, não só porque as filas hoje são raras e rápidas como porque ouvi falar que as autoridades estão muito rigorosas e qualquer observação que eu publique aqui poderá ser levada na conta da nefanda prática de boca-de-urna, que, aliás, como vocês devem ter visto ou verão hoje, foi praticamente abolida. Não quero cometer nenhuma irregularidade eleitoral. Sei que isso não tem importância e que basta pedir desculpas depois, mas assim mesmo é mais seguro não facilitar, porque não sou presidente nem tenho filha delegada, de maneira que me apresso em dizer que não estou pedindo que vocês votem em partido ou candidato nenhum, não estou sugerindo que votem em branco ou anulem o voto e, enfim, não estou dando palpite eleitoral. Isto é especialmente importante para o pessoal das entrelinhas. Eles são danados, peguei muita experiência com a elite deles durante os tempos da censura que não volta mais (figas, batidas na madeira etc.). Eles são capazes de ler “saia” onde está escrito “calça”, contanto que achem uma boa entrelinha. Mas não há nenhuma aqui, garanto a vocês.

  • Os livros sublinhados

    O Globo (Rio de Janeiro), em 03/10/2004

    NEM SEMPRE ESCOLHO OS LIVROS que devo ler. São eles que me escolhem, me chamam da prateleira de uma livraria, e muitas vezes os compro sem saber qual a razão; mas cada um deixa sempre algo importante. Recentemente, abri ao acaso alguns volumes de minha pequena biblioteca e copiei trechos sublinhados.

  • Os choques da civilização

    Folha de São Paulo - Revista Mais! (São Paulo), em 03/10/2004

    Nunca poderemos nos esquecer da imagem das mães russas traumatizadas com o assassinato dos seus filhos, em Beslan. Poucos dias depois, a mídia comemorava o terceiro aniversário do atentado contra as torres gêmeas e mostrava a imagem de espectadores e sobreviventes, traumatizados com o horror que se desenrolava diante dos seus olhos. Desde a invasão do Iraque, somos testemunhas do trauma sofrido pelos parentes de crianças mortas. De tão rotineiros, quase não queremos saber dos traumas vividos pelos israelenses com os ataques suicidas dos palestinos e pelos palestinos com os atos de terrorismo de Estado praticados pelo governo Sharon. O denominador comum de todas essas cenas é o trauma. Sua onipresença no mundo contemporâneo não pode deixar a psicanálise indiferente. Afinal, ela tem lidado com o trauma desde que o método catártico foi aplicado por Freud e Breuer para induzir a ab-reação de uma experiência traumática. Mas o aspecto da teoria freudiana do trauma que parece mais relevante hoje é a que destaca o efeito traumático de atos externos de violência. A partir da propensão dos soldados afetados por traumatismos de guerra a voltarem sempre em seus sonhos e pensamentos à situação traumática original, Freud foi levado a postular, em "Além do Princípio do Prazer", a existência de uma compulsão de repetição, aparentemente alheia aos automatismos da realização de desejo. Introduziu na mesma ocasião a idéia da pulsão da morte, que ilustrava exemplarmente a compulsão repetitiva, na medida em que todo ser vivo aspira a regredir ao estado anorgânico original. A neurose de guerra dos veteranos de 1914-1818 seria um caso especial da neurose traumática, na qual o aparecimento dos sintomas resulta de uma situação em que o sujeito se sentiu em risco de vida. Como são exatamente dessa natureza os traumatismos que enfrentamos hoje e como eles estão ficando cada vez mais freqüentes, alguns psicanalistas poderiam arriscar a hipótese de que a neurose traumática venha a ser a neurose do século 21, como a histeria o foi do século 19. Se isso se confirmasse, o papel clínico da psicanálise poderia tornar-se especialmente importante, porque ela substituiria com vantagem as técnicas farmacológicas e behavioristas com que a psiquiatria americana está tratando as vítimas do "post-traumatic stress disturbance", entidade clínica inventada pelo "Manual Diagnóstico e Estatístico de Desordens Mentais" (DSMM) para tirar do caminho "velharias" como neurose de guerra e neurose traumática. Mas pergunto-me se a psicanálise não pode prestar-nos outro serviço, além da mera clínica. Não poderia o pensamento de Freud ajudar-nos a compreender os mecanismos subjacentes às ações que estão transformando nosso mundo numa civilização do trauma? A resposta está no último grande livro em que Freud debateu o tema do trauma, "Moisés e o Monoteísmo". Nesse livro, Freud faz uma audaciosa passagem da patologia individual para a social, referindo-se à existência de um trauma coletivo da humanidade. Antes de fazer o que ele chama sua "analogia", recapitula alguns elementos da teoria do trauma. Assim, recorda o fenômeno da latência, intervalo mais ou menos longo entre o momento em que se produziu o trauma e o momento em que aparecem os sintomas. Lembra também que podem existir duas fixações ("Bindungen") ao trauma, uma positiva, durante a qual o sujeito volta continuamente à situação traumática original, e outra negativa, durante a qual ele não quer saber das impressões antigas, dos traumas esquecidos, e tenta evitar tudo o que possa revivê-los.

  • Besouro, abelhas e eleições

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 01/10/2004

    João Francisco Lisboa, o grande historiador, que Capistrano dizia ser o mais brasileiro de todos, dedicou no primeiro volume de sua obra "Jornal de Timon" um longo estudo às eleições na Antigüidade, partindo da realidade de que os romanos e os gregos foram os que mais exercitaram o direito eleitoral.

  • Ode aos vencidos

    Folha de São Paulo (São Paulo), em 30/09/2004

    Último domingo de setembro, faltando uma semana para as eleições municipais. Por acaso, passo pela praça da zona sul onde esforçado candidato a prefeito faz seu último comício-monstro, mobilizando toda a militância de seu partido, grande nacionalmente, mas cada vez menor aqui no Rio.