Saúde para dar e vender
O Globo (Rio de Janeiro - RJ), em 08/08/2004
Acho que estou me tornando um exemplo para a terceira idade, que, aliás, não sei bem o que é, pois uns me dizem que começa aos 60, outros aos 65. Mas já me chamaram de ancião mais de uma vez e venho me adaptando esplendidamente à situação, depois de alguns percalços normais para um principiante. Claro, não sou perfeito e admito que prossigo adiando para a segunda-feira (não esta que vem aí, que está muito em cima; a outra) minha volta ao calçadão. Receio fazer uma imediata legião de desafetos, mas a verdade é que já tentei, já até fixei um sorriso hipócrita na cara ao chegar ao calçadão, mas abomino andar nele, a dolorosa realidade é esta, não dá mais para esconder. Nunca me senti bem nem antes nem depois, mesmo insistindo durante meses. Devo padecer de endorfinopenia incurável, expressão que acho que acabo de inventar agora, para descrever a conclusão de que as famosas endorfinas não gostam, ou desistiram, de aparecer no meu organismo. Será talvez uma das incontáveis deficiências que a Natureza me dadivou, mas o único efeito que andar no calçadão exerce em mim é encher o saco - sem pretender deslustrar nenhum andador extremado, respeito a opção sexual de todos, sou muito politicamente correto.