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Artigos

  • O vento da história

    Jornal do Commercio (Rio de Janeiro - RJ) em, em 27/04/2002

    A vitória de um extremista da direita nas eleições francesas está assustando quem já devia estar assustado. Embora não seja um quadro definitivo, uma vez que no segundo turno Chirac deverá herdar os votos de Jospin, o fato é que estamos diante de um ressurgimento do conservadorismo, e, em alguns casos, do reacionarismo.

  • Nação goitacá

    Tribuna da Imprensa (Rio de Janeiro - RJ) em, em 10/04/2002

    A reedição do primeiro romance de José Candido de Carvalho, feita agora, joga-nos de volta ao fim dos anos 30, quando a ficção brasileira dava inesperadas reviravoltas, no encerramento de uma das décadas mais novidadeiras da nossa literatura. Aquele "Olha para o céu Frederico!" vinha marcar uma verdadeira mudança de rumo.

  • A realidade do show

    Jornal do Comércio (Rio de Janeiro - RJ) em, em 06/04/2002

    Não me dei ao respeito de assistir a nenhum desses shows da realidade que entraram em moda na TV de alguns países, Brasil inclusive. Nada tenho contra eles, apenas as realidades que eles mostram não me interessam. Não me comovo com elas, nem me revolto pelo fato de um cara dormir de boca aberta ou fechada, de determinada mulher ser assim ou assado. A realidade deses programas é óbvia, e a interação que provocam, excitando o público a torcer por um ou por outro, é primária. Ou como se dizia antigamente, "de quem não tem nada que fazer".

  • Israel e Palestina

    Diário do Comércio (São Paulo - SP) em, em 06/04/2002

    Agrava-se, cada vez mais, a guerra entre israelenses e palestinos, sem que se visualize no horizonte das duas nações um acordo que tenha efetiva duração e permita que as duas partes em conflito possam viver e trabalhar em paz. Israel, é, evidentemente, mais forte do que os árabes palestinos. Com suas dimensões do nosso Estado de Sergipe, Israel é uma potência mundial, não só pelos judeus espalhados pelo mundo, prolongando a diáspora, como pela alta qualidade de sua educação e meios científicos.

  • Mártires e heróis

    Folha de São Paulo em, em 03/04/2002

    Guerra, qualquer guerra, é acima de tudo uma estupidez. Mas ela faz parte da civilização e, mais do que isso, faz parte da dinâmica histórica.

  • A organização da inconsciência

    O GLOBO em, em 01/04/2002

    Foi por volta de 1940 que li sobre opinião "inconsciente", expressão lançada pela psicologia renovada. Mas o que eu não poderia nem de leve prever é que aquela denominação, aparentemente extravagante, fosse cientificamente abonada e viesse ajustar-se ao quadro eleitoral brasileiro de um passado recente.

  • Viajar, viajar

    O GLOBO em, em 24/03/2002

    Estou em Paris e sou um fenômeno. Pagaram minha passagem, deram-me ajuda de custos e aqui estou eu. Dirão vós: que há de tão fenomenal nisso? Afinal, alguns brasileiros, talvez em número bem maior do que estimamos, já estiveram ou estarão em Paris. Verdade, verdade, mas meu caso é raro, pois que sou o único que se queixa de viajar a uma cidade sem rival e, com perdão da má palavra, imperdível, ainda por cima sem gastar praticamente nada do parco dinheirinho que ganho escrevendo coisas sem as quais o mundo permaneceria tal e qual. Verdade, verdade, mas encaro minhas viagens como uma sina, porque detesto viajar e cada vez detesto mais. Conto-vos por quê, na esperança de encontrar alguma compreensão.

  • O diálogo contra a Cruzada

    Jornal do Comércio (RJ) em, em 15/03/2002

    Realiza-se neste começo de março o primeiro diálogo entre o Islã e o Ocidente, na resposta com que a Academia da Latinidade acolheu o pedido do presidente Khatami, para descompressão do fechamento das fronteiras da cabeça no mundo contemporâneo.

  • Cenário reinaugural

    Jornal do Comércio (SP) em, em 12/03/2002

    Tudo não passou, como disse, com uma ponta de cinismo, o presidente da República, de uma gota d'água, e vai se arranjar, com o tempo. É o clássico dar tempo ao tempo. Não deixa de ter razão e os próceres do PFL, também, de sua parte, têm razão. Não podem viver longe do poder, e vão deixar passar o tufão Roseana, tufão que sempre tem nomes de mulheres para se acomodarem de maneira a serem e não serem adeptos de FHC, nestes últimos meses de seu governo.

  • Ovinos pela própria natureza

    O Globo em, em 10/03/2002

    Longe de mim aceitar a velha tese de que o Brasil é um país onde os conflitos sociais são resolvidos em paz, na base do jeitinho e assim por diante. Nossa História, de Canudos ao Contestado, está aí mesmo e não me deixa mentir. Ao mesmo tempo, é óbvio que nos comportamos - nós, a chamada classe média - como uma carneirada sem rival. Resignamo-nos a tudo, até mesmo a sermos governados de maneira condescendente e, ao mesmo tempo, autoritária, entre mentiras, fraudes, hipocrisia e falsas alegações. Fico assim achando que, no fundo, estamos é satisfeitos com o que ocorre em nosso destino coletivo. Acostumamo-nos, por exemplo, à violência urbana e até aceitamos a tese de que ela tem exclusivamente raízes econômicas. Não é inteiramente correto. Tem raízes econômicas, certo, mas também tem raízes culturais muito fortes, eis que, se pobreza e miséria gerassem necessariamente criminalidade, a Índia e Bangladesh, para ficar somente em dois exemplos, seriam matadouros humanos, onde se assaltariam até templos religiosos, como já aconteceu aqui no Brasil - e vive acontecendo, com os geralmente chiques ladrões de imagens enriquecendo suas coleções à custa da pilhagem de igrejas.

  • Aprender para a vida

    Jornal do Comércio (SP) em, em 09/03/2002

    Uma das características do taylorismo era o trabalho até os limites permitidos pela fadiga. Quando ela se pronunciava, trocava-se o trabalhador por outro, sem a menor contemplação. Não havia jornada de trabalho, aposentadoria, licença-maternidade, nada disso. E não foi há tanto tempo assim (menos de 100 anos).

  • A palavra no poder

    Tribuna da Imprensa em, em 06/03/2002

    O uso da palavra pelos que estão no poder - isto é, da palavra que influi, que muda uma comunidade e abre caminhos - é um de seus aspectos em que às vezes menos prestamos a atenção. Dos políticos recentes - a partir da Revolução de 30, digamos - lembro-me sempre de Otávio Mangabeira, não só o parlamentar, mas também o acadêmico. Quem quer haja estado presente à sessão solene promovida pela Academia Brasileira de Letras em 1958, para comemorar o cinqüentenário da morte de Machado de Assis, não terá esquecido a mistura de leveza e força que Mangabeira utilizou, ao falar, de improviso, sobre nosso maior escritor, cuja cadeira Otávio ocupava.

  • A cor da nossa febre

    Folha de São Paulo em, em 03/03/2002

    Na véspera do acidente que levou o "Titanic" para o fundo do oceano, houve uma reunião no salão nobre do navio a fim de que se escolhesse a cor que deveria predominar no baile que os passageiros estavam programando para a noite anterior à chegada a Nova York. Na antevéspera do naufrágio, a sociedade local, ou seja, os passageiros da primeira classe, estava dividida: havia um grupo a favor do amarelo, outro a favor do azul-turquesa. Os debates foram prolongados e registrou-se um empate técnico. Chamaram o comandante do navio para desempatar. Àquela hora, seguramente, o iceberg que arrebentaria o navio já estava em rota de colisão com o casco do "Titanic". Mas o velho lobo-do-mar adotou a posição que nós, brasileiros, muito conhecemos: ficou em cima do muro (embora estivesse em cima de águas geladas). Disse que, ouvidas as consciências de cada qual, os passageiros podiam vir de amarelo ou de azul - ali reinava a tradicional democracia, o decantado liberalismo do Império Britânico. Não é o caso de compararmos o Brasil a um navio condenado. Por mais pessimista que eu seja, não chegaria a tanto. Mas nosso ufanismo infanto-juvenil tem alguma coisa a ver com a confiança que depositamos num colosso insubmergível. Garantem que isso jamais acontecerá - o Brasil jamais cairá no abismo, porque é maior do que o abismo. Muito bonito. Folgo que assim o seja. E, se dependesse de mim, tudo faria para que continuasse assim, maior do que o abismo. Mas fico desconfiado quando constato a mediocridade de nosso debate político. Perdemos espaço e tempo discutindo a cor de nossas fantasias cívicas, se devemos eleger mulheres ou não, se os prefeitos do PT foram mortos por motivos políticos ou pessoais. Enquanto isso (ou "entrementes", como nas histórias em quadrinhos), um mosquito vagabundo com nome em latim nos remete ao tempo da febre, essa sim, amarela.

  • Morrer sonhando

    Correio Braziliense em, em 03/02/2002

    Sempre me sinto entra e vida e a morte, mais para a morte do que para a vida, neste calor medonho do verão do Rio. Um calor de boca do inferno, um ar pesado que pode ser tirado às colheradas. Em plena praia do Leblon, mesmo com o pé na água, se você riscar um fósforo, ele queima sem tremer até lhe sapecar o dedo. E, nesse ambiente de forno, a gente, talvez por associação, sonha com um iglu, daqueles dos esquimós, todo armado em tijolinhos de gelo, no feitio dos fornos de barro, do sertão. Dentro do iglu, em vez desse suor viscoso que nos gruda a roupa à pele, uma gotinha de água gelada de vez em quando nos pinga no rosto, ou pousa, feito uma pérola, nos pelos de nosso agasalho de couro. O iglu é, assim, uma visão de paraíso, miragem de viajante derrubado pela insolação na areia ardente do deserto.

  • Fratura social apavorante

    Estado de São Paulo em, em 02/02/2002

    Como já é do conhecimento comum, nas últimas décadas do século passado, sob a pressão das mudanças operadas no plano das idéias e dos processos tecnológicos, deu-se o que se convencionou chamar "revolução da mulher". Esta consistiu não apenas no acesso da mulher a postos de trabalho antes exercidos apenas por homens, como no surgimento de novas entidades familiares, como, por exemplo, a "união estável", criada pela Constituição de 1988.Ao lado desses fatos, ocorreu também uma queda relevante no plano moral, crecendo o número de pais que não hesitam em abandonar os filhos havidos no matrimônio e outras uniões familiares, quer para constituir outras, quer para fugir às responsabilidades que resultam da paternidade.