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Artigos

  • Meio-dia em Porto Alegre

    Jornal do Commercio em, em 01/02/2002

    É só vermos os jornais europeus, e a força da primeira página dos cotidianos franceses, para nos darmos conta do impacto que a reunião de Porto Alegre ora ganhou, muito para além das escaramuças do anti-Davos inicial, no ano passado. É quase como se invertessem as posições. A capital gaúcha parece dar o tom da temática de um primeiro encontro sobre o "que fazer" mundial, espicaçado pelo 11 de setembro, e pelos riscos que uma "civilização do medo" antepõe ao clássico confronto Norte-Sul e à oratória exangue dos ricos e pobres. Ou do palavreado fóssil com que os senhores do mundo debruçam-se sobre as ditas periferias, quando, hoje, uma subversão cultural nasce dos ossos da miséria e da exclusão sem volta.Os cenários se transportam. E é, sobretudo, como multibusca às saídas do neoliberalismo que vai à rinha a capital rio-grandense.

  • Horizonte infinito

    O Globo em, em 25/01/2002

    Estamos vivendo os tempos da chamada "rodada do milênio", cuja maior característica é a eliminação de barreiras de toda sorte. No mundo da educação, complexo e fascinante, busca-se uma solução global, com a escola multicultural de que carecemos. O comércio eletrônico está na pauta de todas as negociações da Organização Mundial do Comércio, e por uma razão objetiva: representou um movimento de 300 bilhões de dólares na virada do século.

  • Aqui me tens de regresso

    O GLOBO em, em 13/01/2002

    Tenho um fã aqui no Leblon, sobre quem só sei que o apelido é Gugu e que freqüenta botecos na Rua Humberto de Campos, e que, toda vez que me vê, junta as mãos, curva-se para a frente numa atitude de veneração meio oriental e o mínimo que faz é me chamar repetidamente de “mestre”. Às vezes ele também me beija as mãos. Trata-se de um homem meio careca, aparentando, acho eu, 40 e poucos anos. Pois bem, estou eu na Bartolomeu Mitre, aqui pertinho de casa, esperando um táxi passar, quando Gugu surgiu não sei de onde e começou a mesma rotina, só que desta vez com abraços e me beijando fervorosamente as mãos. Eu já tinha acenado para um táxi, que parou, e consegui fazer um sinal para o motorista para que ele esperasse que Gugu acabasse seus ritos de saudação. E Gugu, num rompante entusiástico, disse que não queria atrapalhar, porque estava vendo o táxi à minha espera e me tacou um beijo na bochecha. Agradeci atabalhoadamente, entrei no táxi e contrariando, como sempre faço, o lema de Henry Ford III ( never explain, never apologize - nunca explique, nunca peça desculpas), dei uma explicação ao motorista.

  • Machado e o realismo cético

    Tribuna da Imprensa em, em 09/01/2002

    Vive a literatura brasileira sob a inarredável presença de Machado de Assis, que nos empurra de um lado para outro, exige que o decifremos e analisemos, que o neguemos várias vezes antes de curvarmos a cabeça diante de sua força. Quem foi na realidade o Bruxo, de que maneira se apossou ele da inteligência e das emoções de um País? Conquistou um estilo que não se confunde com nenhum outro, compreendeu-nos como ninguém e até zombou de nós todos que vivemos neste vale de ciúmes.

  • A fábula do homem e seu garrafão

    Correio Braziliense em, em 07/01/2002

    Pelo interior do Brasil é comum a presença de um cara que é chamado de "propagandista". Aqui pelo estado do Rio, antes da camelotagem desenfreada, ele era chamado também de "camelô".

  • Leopold Senghor, o poeta do socialismo africano

    Tribuna da Imprensa em em, em 02/01/2002

    A morte de Leopold Senghor foi um dos maiores desfalques sofridos pela humanidade em 2001. Perdemos, com seu desaparecimento, o poeta e o estadista, mas também o pensador que lutou para tornar compreendidos os fundamentos ontológicos do pensamento africano.Professor, parlamentar (representou o Senegal no Congresso francês), criador de um país, intérprete de um povo, defensor de um socialismo africano, isto é, um socialismo que respeitasse a realidade e a "situação da África", na linha do que ele chamou de "humanismo negro-africano", tinha Senghor consciência de que o primeiro desafio, a que os africanos precisavam responder em nosso tempo, era o do idioma.

  • Medo de voar

    O GLOBO em, em 18/11/2001

    Admito que se pode rir de quase tudo, a depender da perspectiva que se tome, mas não tenho achado graça nenhuma nas piadas que, para citar somente um veículo, circulam na internet, com montagens, cartuns e frases espertinhas sobre as tragédias que vêm acontecendo nos Estados Unidos. E também tem gente me escrevendo com reprovação porque não fico dizendo “bem feito”, em relação aos americanos. Assumir uma postura crítica quanto, por exemplo, à política externa americana é uma coisa; aprovar a morte indiscriminada de inocentes, americanos ou não (ou até achar que não existem inocentes entre os americanos), é absolutamente outra coisa.

  • A esperança e o veto

    O GLOBO em, em 16/11/2001

    O Congresso votou lei que estabelece, nas escolas do ensino médio, a obrigatoriedade do ensino de filosofia e sociologia, até agora matérias optativas ou objeto de experiências eventuais, assistemáticas, oscilando entre diferentes tendências e interesses da direção escolar aqui e ali, Brasil adentro. Divulgou a imprensa que algumas autoridades federais do ensino, favoráveis à inclusão da filosofia no currículo de nível médio, não aprovam, contudo, a extensão da medida ao ensino de sociologia . Era de crer que o professor Fernando Henrique Cardoso não vetasse a lei em tramitação. Mas vetou. A Presidência tem suas razões que a sociologia não entende... (que Sua Excelência, "aqui na terra" e o bom Pascal , "no Reino do Céu" me absolvam da paródia).

  • Uma luz no apagão

    O GLOBO,, em 13/07/2001

    Nestes dias em que a esperança escurece, dias de perplexidade e decepção, releio um ensaio daquele denso e avisado pensador Alberto de Seixas Martins Torres, que presidiu a sua província fluminense e honrou o Supremo Tribunal. Não me volto agora para os seus livros capitais, "A organização nacional" e "O problema nacional brasileiro", que por certo inspiraram, em 1930 ou 31, a fundação, no Rio, da Sociedade dos Amigos de Alberto Torres (surgiu após a Sociedade dos Amigos de Marcel Proust, e desejo crer que não se tratasse de uma réplica retardatária do nosso grand monde carioca...).

  • Aqui jaz Pedro

    Jornal A Tarde - Salvador - BA,, em 13/06/2001

    Quando sirvo de cicerone a algum amigo brasileiro na visita à cripta basílica vaticana, tenho uma razão para deter-me com ele diante do túmulo de Pio XI (Ambrogio Damiano Achille Ratti). No dia 10 de fevereiro de 1939, adoecia e morria este papa quando Roma já estava repleta de bispos italianos. Eles o convocaram para um discurso que pronunciaria no dia seguinte, décimo aniversário da solução da Questão Romana com a criação do estado-Cidade do Vaticano e a promulgação do Pacto Lateranense entre este e o Estado Italiano. Dizia-se à boca pequena que o pontífice denunciaria e coordenaria certas lacerações do referido Pacto por obra de ninguém menos que Benito Mussolini.

  • O cão e o homem

    Folha de São Paulo - São Paulo - SP,, em 12/06/2001

    Já vi a mesma cena, aqui e no exterior. E acredito que todos nós já vimos coisa igual em qualquer parte do mundo.

  • A falta de energia

    Diário do Comércio – São Paulo – SP, em:, em 02/06/2001

    Não é só no Brasil que nos defrontamos, sem saber como resolvê-lo, com o problema de energia. A França resolveu, ao menos até agora, o problema, gerando energia em instalações nucleares. Cerca de 75% da energia consumida pelos franceses é produzida em geradores nucleares. Estes, sabe-se. Têm vida longa, mas não perpétua. O governo deve ficar atento para não ser colhido de surpresa, como está ocorrendo no Brasil, nestes dias de ameaça de apagão generalizado, pois no apagão já nos encontramos.

  • Carreira e carreirismo

    O GLOBO,, em 31/05/2001

    José Monteiro Soares Filho, homem de talento e aguda sensibilidade política, líder da UDN na Câmara - um dos poucos que Getúlio Vargas não deixava de temer - contava que um jovem bacharel recém-formado o procurara para pedir apoio à realização do sonho: a deputação estadual. Soares foi logo indagando: "Qual é a sua base no município?" O jovem era de Pádua, centro politicamente muito fértil, e não soube o que responder. Mas o mestre preencheu a ingenuidade do moço, aconselhando-o a ir convivendo com as pessoas e as instituições mais significativas da cidade, sem esquecer as microcomunidades distritais. Que se tornasse, em primeiro lugar, um estudioso do município, principalmente do seu torrão, enfronhando-se nos problemas capitais do meio urbano e do meio rural. Que auscultasse as "precisões" da cidade, como diria um dos chefes locais...

  • Apesar de tudo, desempregado

    A Gazeta - Vitória - ES,, em 30/04/2001

    A situação dos que se formam, em qualquer nível de ensino, é das mais delicadas. A crise de empregabilidade pegou o país em cheio, não discriminando se o formando completou o ensino médio ou o ensino superior. Assim, os casos apresentados na televisão, que chocam a população, estão se tornando cada vez mais comuns. O engenheiro dos sucos é um emblema da situação. Ele jogou fora cinco anos de estudos na Faculdade de Engenharia, para faturar na venda dos seus produtos deliciosos. Pelo menos assim não morre de fome. Outro caso sintomático aconteceu na Academia Brasileira de Letras.