A gente custa a reconhecer certas verdades desagradáveis, mas o tempo acaba por impô-las. Nunca fui candidato a cargo público nenhum e, por conseguinte, jamais pedi votos a ninguém, nem sou responsável pela administração de qualquer serviço do Governo, de qualquer tipo. Mas a realidade conspira em contrário, e a dura verdade é que sinto no ar um dever indefinido de não deixar o país. Quando estou lá fora, sempre aprontam alguma coisa, até mesmo se se trata de país tão amigo e fraterno quanto Portugal. Começam a acontecer coisas lá mesmo, se bem que, no geral, somente na alfândega. A alfândega portuguesa, que me deu uma boa coça no Porto, não faz muito tempo, alimenta graves suspeitas sobre minha pessoa e, no Porto, quase peço permissão ao Sr. Dr. Alto Funcionário da Aduana para dar um pulinho lá fora e tentar conseguir pelo menos uma maconhazinha, a fim de que ele não ficasse tão desalentado com o fato de só haver roupas em minha bagagem. Chateia um pouco, mas não reclamo. É direito deles e a culpa, como já sublinhei aqui, certamente se deve à minha cara de contrabandista congênito.