Embora confesse ignorância vergonhosa sobre o jogo do bicho, uma das raras instituições sérias e respeitadas do Brasil, acho que é somente nele que vale o que está escrito. Constituição, leis, decretos, portarias e assim por diante, como sabemos, só quando interessam a quem está mandando e quem está mandando nunca somos nós. A conversa de quem manda somos nós, por sinal, faz parte até da dita Constituição, mas é enfeite, porque soa bonito e serve para mostrar às visitas ou aos diversos inspetores exóticos a quem prestamos obsequiosa conta. Faz-se um esforçozinho aqui e ali para nos provar que vale o que está escrito e até noticiários de tevê nos informam sobre nossos direitos, todos devidamente escritos. Por exemplo, já que seremos assaltados mais cedo ou mais tarde, nos dizem as autoridades de insegurança pública que não portemos documentos, mas cópias deles, as quais serão aceitas como legítimas por todos. É só tentar embarcar no Galeão com uma cópia da carteira de identidade para ver que isso pode estar escrito, mas é brincadeirinha outra vez, pois lá só se aceita o original. Mas, claro, nenhum de vocês precisa ser lem-brado desse tipo de coisa. Já estamos acostumados, somos disciplinados serviçais dos governantes e de quem mais se julgue em posição de nos impingir o que fazer ou não fazer, conforme a sua, dele ou dela, veneta.