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Artigos

  • No âmago dos conflitos do século XXI

    O fórum da Aliança das Civilizações, em Madri, deu início à nova etapa da preocupação das Nações Unidas com a profundidade dos conflitos globais, emergentes em nosso tempo. Da amplitude da hegemonia americana, levando às guerras preemptivas, à irrupção cada vez maior do terrorismo, desgarrado inclusive da Al-Qaeda, para a expressão sombria de um “mal-estar” crescente do inconsciente coletivo islâmico. A Aliança quer vencer a tentação, na diretriz do novo Comissário Geral, Jorge Sampaio, ex-Presidente de Portugal, do mero voluntarismo internacional, ou da retórica das boas intenções, impotentes no mundo prefigurado pela queda das torres de Manhattan.

  • Um banho de modernidade

    O meu amigo Cristovam Buarque pede socorro aos dicionaristas brasileiros, para que façam o registro do termo educacionismo. Sente falta do que seria um movimento amplo em favor da educação, alcançando todos os poros da nossa sociedade. Na verdade, com a genialidade que o caracterizou, o filólogo Antonio Houaiss, de saudosa memória, ao elaborar o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, editado pela Academia Brasileira de Letras, registrou na página 277 a palavra educacionismo como substantivo masculino. Portanto, oficialmente, ela existe. Se não está no Aurélio, é outra história.

  • O manifesto dos Micos

    O que tem a ver Moacyr, este magnífico prenome de origem indígena e que José de Alencar imortalizou em "Iracema", com um apelido tão esquisito?

  • Carnaval e Vieira

    Luís Viana Filho, o grande biógrafo de Rui, Rio Branco, Eça e Nabuco, disse-me que, ao encontrar-se com o ex-embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Lincoln Gordon - que se tornou célebre porque seu período coincidiu com a queda do Jango em 1964 -, quando já não ocupava mais o posto, este lhe observou que uma coisa o impressionara muito, na sua passagem aqui: as escolas de samba. Uma maravilha sem igual no mundo. Não sabia como era possível seu funcionamento. Era a alegria, a beleza, a diversidade de pessoas, uma Torre de Babel que oferecia uma impressão do caos, na chamada concentração. De repente, tudo se transformava. Tocava o apito com a ordem de entrar na avenida e, num movimento perfeito, o conjunto dava um banho em qualquer planejamento, e desfilavam como se tudo fosse milimetricamente orquestrado. A bendita improvisação brasileira que do caos faz nascer a harmonia e o desfile. Isso explicava o Brasil.

  • Tempo de palpites

    RIO DE JANEIRO - Sempre achei ridícula a tendência da mídia de futebolizar todos assuntos, transformando-os numa espécie de luta entre bons e maus, de vermelhos contra azuis, de Fla x Flu com infinitas variações. Da eleição de um papa ao melhor estandarte de uma escola de samba, os entendidos são pródigos em análises e prognósticos, havendo mesmo uma certa emulação para sagrar quem acerta o placar, uma loteria esportiva que, na maioria dos casos, não tem vencedor.

  • O dilema americano

    Passa o Carnaval e temos de sair do sonho da alegria para a realidade que nos cerca. Com um mundo globalizado, tudo que se passa em qualquer lugar e em qualquer hora está dentro de nossa casa. Já longe estão os tempos das Cartas de Inglaterra do Eça de Queiroz, em que o importante é o que ocorre na esquina.

  • Reformas

    A reforma eleitoral é tema que raramente deixou de figurar na agenda política do País. Não me refiro só à agenda atual, mas também às dos séculos XX e XIX. A diferença reside na circunstância de que a expressão reforma política, hoje tão cediça, no século XIX, com mais propriedade, se designava reforma eleitoral. Este é, por sinal, o título do livro publicado em 1875 pelo conselheiro Antônio Pereira Pinto, à época diretor da Secretaria da Câmara dos Deputados. Nele estão as propostas que, entre 1827 e 1874, tramitaram no velho Parlamento do Império, com objetivo de aprimorar a legislação eleitoral do País. Por ele se constata, por exemplo, que o projeto do deputado Ferreira França, em 1835, estabelecendo a eleição direta, só adotada pela Lei Saraiva em 1881, sequer foi considerado objeto de deliberação, quando submetido ao turno regimental de apreciação preliminar de discussão.

  • Esquerda e alternativa na Europa

    O começo do ano cumula surpresas no cenário político europeu, acomodado, a partir da Alemanha e da Itália, ao status quo, por maiorias milimétricas consentidas. Tratavam-se de cautelas temporárias na confiança, ainda, de verdadeiras mudanças, ou do começo de conformismo a um regime sem alternativas à vigência de verdadeiras esquerdas? A demissão do primeiro-ministro italiano, pela estrita imprudência estratégica de Prodi, levará à inviabilidade de qualquer remendo da mesma ordem, e à aceleração das campanhas eleitorais, a que se prepara, gulosamente, o retornismo da direita na Península.

  • É hoje só

    RIO DE JANEIRO - É hoje só, amanhã não tem mais. No Rio antigo, em toda terça-feira de Carnaval, um sujeito que se chamava Novidades passava pelas ruas gritando este aviso de duplo apelo: que hoje se fizesse tudo e amanhã nada mais se fizesse. Era a forma vernácula do poeta Horácio, "carpe diem quam minimum crédula postero". Aproveite o dia de hoje e crê o mínimo no dia seguinte.

  • Depois do Carnaval

    Em busca de tema para esta crônica, entrei no noticiário da Folha Online e digitei as palavras "Depois do Carnaval". Fiquei espantado com a quantidade de notícias sobre coisas que só vão acontecer depois do Carnaval. Lista dos 150 proprietários que mais devastaram a Floresta Amazônica? Depois do Carnaval. Decisão sobre a comercialização de milho transgênico? Depois do Carnaval. Abertura do ambulatório do Hospital de Clínicas de SP? Depois do Carnaval. Ou seja: o ano só começa mesmo depois do Carnaval. O que tem certa lógica, quando se considera a tradição carnavalesca do Brasil. Mas constata-se também que, quando é necessário e urgente, as coisas acontecem: o caso das medidas que agora regulam o uso de cartões de crédito por membros do governo, uma prática que ameaçava transformar a administração pública em festejo de Momo. Será que o Carnaval às vezes não serve de pretexto para empurrar coisas com a barriga (às vezes cheia de tapioca)? Respostas depois do Carnaval.

  • O futuro da política

    A reforma política que interessa ao país transcende o universo de normas jurídicas, disposições legais e atos normativos que regulam os pleitos do segundo maior colégio eleitoral do mundo ocidental. Ela deve ser bem mais abrangente. Refiro-me, em especial, às instituições políticas, ao relacionamento entre os poderes do Estado, à organização federativa e, sobretudo, às práticas que constituem a nossa cultura política — velha de 500 anos — desde que aqui aportaram as estruturas do poder colonial, sob o qual vivemos por mais de três desses cinco séculos.